O Banco Central confirmou o que era esperado pelo mercado e elevou nesta quarta-feira (3) a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 13,75% ao ano. Foi a sexta alta seguida desde a reeleição de Dilma Rousseff, no fim de outubro.
INFOGRÁFICO: Veja a evolução da Selic
O aumento da taxa, que serve de referência para o custo do dinheiro na economia brasileira, veio em conformidade com as expectativas do mercado. A alta era a aposta de 55 dos 56 economistas ouvidos em pesquisa da Bloomberg. A única previsão diferente era a do banco americano Morgan Stanley, que esperava um aumento mais modesto, de 0,25 ponto percentual.
Os juros estão agora no maior nível desde janeiro de 2009. Naquela época, o BC iniciava um processo de redução da taxa básica para reanimar a economia diante dos efeitos da queda do banco Lehman Brothers.
A decisão foi anunciada em um momento em que o dólar e o reajuste de tarifas pressionam a inflação e a atividade econômica aprofunda a recessão – o PIB recuará 1,27%, segundo analistas.
A taxa Selic é utilizada nos empréstimos que o BC faz a instituições financeiras. Ela também serve de referência para a economia e para os juros cobrados de consumidores e empresas.
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Para a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), marcada para 28 e 29 de julho, as previsões divergem sobre a possibilidade de uma nova alta de juros. Um novo aumento poderia afetar ainda mais a atividade econômica, e a expectativa é que a inflação comece a retroceder sob efeito da política monetária.
Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, acredita que o ciclo de aperto monetário pode ter chegado ao fim nesta quarta-feira (3). Um dos motivos citados é o fraco desempenho do PIB (Produto Interno Bruto), que recuou 0,2% no primeiro trimestre deste ano. “Contração mais acentuada é provável no segundo trimestre”, afirmou em relatório.
Há, no entanto, economistas que apostam em novas altas da Selic em 2015. A justificativa é o elevado patamar da inflação oficial no país. O IPCA (índice oficial de inflação) atingiu, em abril, alta de 0,71%. Foi a maior taxa para o mês desde abril de 2011 (0,77%).
André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, acredita que a Selic deve subir até 14,5% ao ano em 2015. “Acreditamos que o BC está seguindo o manual”, disse. “Sendo assim, irá, uma vez estabilizadas as expectativas, cortar rapidamente os juros em 2016 para até 11% no fim do ano”, completou.
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Segundo Perfeito, diante do aumento dos preços no país, o BC “não terá outra opção a não ser elevar a Selic”, apesar do ajuste fiscal e da desaceleração econômica. “A inflação contratada já aponta para uma persistência muito forte do IPCA acima, bem acima, do teto da meta. Segundo nossas projeções apenas em meados do primeiro trimestre de 2016 que a inflação tende a cair para dentro da banda da meta”, afirmou.
O centro da meta do governo para a inflação é de 4,5% neste ano, com uma margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Em 12 meses até abril, o IPCA já acumulava alta de 8,17%.
O economista-chefe do Banco Pine, Marco Maciel, enxerga espaço para mais uma elevação de 0,25 ponto percentual da Selic em julho, para 14% ao ano, encerrando, então, o ciclo de aperto monetário do BC. “Os recados do membros do colegiado têm convergido para a vigilância necessária e suficiente para fazer a inflação ao consumidor e suas expectativas convergirem para 4,5% no final de 2016”, afirmou Maciel em relatório.
Depois das altas e uma pausa na reuniões de setembro e outubro, segundo o economista, há possibilidade de o Copom começar a reduzir a Selic no final deste ano, em seu encontro de novembro. O que conduziria o BC a esse caminho seria o PIB negativo, o “fraco desempenho” da produção agregada em 2016 e a “constatação do minguado número de produção industrial”, além da “provável elevação da taxa de desemprego para números superiores a 8% no final do ano”.
BC reforça foco no combate à inflação
Com a credibilidade arranhada, já que há a avaliação de que o BC errou a mão dos juros no passado, o foco no combate à inflação está cada vez mais claro e faz parte da reconstrução da imagem da autoridade monetária. Até porque esse é o único mandato da instituição e sua diretoria não escapará de ter de enviar uma carta ao ministro da Fazenda justificando os motivos que a levaram a descumprir a meta de 4,5% de inflação este ano – as projeções estão na casa de 8%.
O BC já jogou a toalha em relação à meta de 2015 e promete entregar seu objetivo no fim de 2016. A tarefa deste ano, portanto, está concentrada em evitar que os efeitos da alta da inflação, principalmente causada por reajustes de tarifas públicas e alta do dólar, se propaguem pelos demais preços da economia. Não há dúvidas de que mais um avanço dos juros, portanto, significa mais um golpe na economia. O que se espera é que essa rasteira na atividade tenha como consequência baixar a poeira dos preços.
Daí os porta-vozes da instituição usarem e reusarem o termo “vigilante” em relação à inflação. Nesta terça-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, também usou a expressão, em Paris. “O importante nesse processo (de aumento de preços) é que o Banco Central continue vigilante para evitar que aumentos de preços, que podem ocorrer apenas uma vez, não se transformem em processo de inflação”, disse o ministro.
Já a agência de classificação Moody’s destacou que o governo conseguirá gerar superávit primário de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, ainda que tenha de ultrapassar alguns obstáculos, como os impactos de alta dos juros sobre a dívida pública. Vale lembrar que o BC tem enfatizado que passa a contar agora também com a ajuda fiscal, o que turbina as ações de política monetária.
A alta da Selic é a sexta consecutiva, tendo iniciado logo após a eleição presidencial, no ano passado. Para o BC, porém, a contagem é ainda mais antiga. A elevação começou em abril de 2013, ficou estacionada de maio a setembro do ano passado e foi retomada novamente em outubro.
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