O Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu exatamente o roteiro previsto pelo mercado financeiro e decidiu nesta quarta-feira (8) elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto porcentual, para 12 25% ao ano. Com o movimento, o colegiado do Banco Central dá sequência ao processo de aperto monetário que tem por objetivo reverter a tendência dos indicadores de preços em 12 meses e colocar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de volta na meta de 4,5% em 2012.
Ao anunciar a decisão, o BC manteve o teor do comunicado da decisão de abril. "Considerando o balanço de riscos para a inflação, o ritmo ainda incerto de moderação da atividade doméstica, bem como a complexidade que envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a implementação de ajustes das condições monetárias por um período suficientemente prolongado continua sendo a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2012", disse o colegiado do BC no comunicado de anúncio da decisão desta noite.
A elevação da taxa de juros busca conter o ímpeto da demanda de bens e serviços na economia brasileira, que tem sido apontado como um dos fatores por trás da escalada dos preços no País. Com juros mais altos, não só o crédito fica mais caro (especialmente em um ambiente no qual medidas adotadas pelo governo restringem o alongamento de prazos) para os consumidores, mas também se cria um incentivo para as pessoas guardarem dinheiro ao invés de aproveitarem seus ganhos de renda para gastar mais.
Coerência
O ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, explicou que, diante da sinalização dada em abril, o Copom não tinha alternativa a não ser subir o juro em 0,25 ponto porcentual. Segundo ele, as condições da economia, com desaceleração do crescimento e redução nos índices de preços, até permitiriam manter a Selic, mas diante da mensagem passada pelo BC e das expectativas para 2012 ainda acima do centro da meta, a alta do juro básico é uma questão de coerência.
Segundo Freitas, o aperto monetário de 0,25 ponto porcentual agora tem maior potência do que vinha ocorrendo. Isso porque a taxa de juros real, que desconta a inflação, a partir de agora deve ser maior, já que o País entrou em uma fase de "surpresas deflacionárias", depois de um início de ano em que a inflação ficou acima do que todo mundo esperava.
"O juro real maior pode levar o BC a repensar novos aumentos da Selic", disse o economista, para quem uma sinalização mais clara deverá ser dada na ata do Copom na semana que vem ou no relatório de inflação no final deste mês. "Se expectativas de inflação continuarem caindo, não há motivo para o juro subir mais", completou.
Para o economista-chefe do banco cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa, a situação da economia brasileira exige juros maiores, pois a inflação não decorre só de choques de oferta (como a alta de preços de alimentos), mas também de um excesso de demanda por bens e serviços. Ele espera pelo menos mais uma alta de 0,25 ponto porcentual em julho na Selic. E avalia que a economia precisa crescer menos de 4% por algum tempo para que a inflação seja colocada de volta na meta.
Barbosa recordou que a inflação é difícil de ser reduzida no Brasil. Em 2009, por exemplo, ano de recessão, o índice oficial de preços ficou em 4,3%, ante 5,9% em 2008. Ou seja, em um ano muito ruim para a economia, a inflação foi colocada no centro da meta. O economista explica que não é necessário produzir uma recessão para trazer o IPCA de volta à meta, mas é preciso crescer em ritmo menos intenso do que no início do ano, quando a taxa anualizada de expansão do País ficou acima de 5%.
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