O Banco Central deixou claro nesta quarta-feira (30) que abriu mão de trazer a inflação ao centro da meta em 2011 por avaliar que o prejuízo ao crescimento seria excessivo após o choque da alta dos preços de commodities no ano passado.

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Em seu Relatório de Inflação do primeiro trimestre, o BC avaliou que a economia já está desacelerando, e que o cenário para a inflação está mais benigno. Mas, para evitar um tranco maior na atividade, anunciou que buscará uma "convergência mais suave da inflação para a trajetória de metas".

"Tivemos um gigantesco choque de commodities", afirmou a jornalistas o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo. "Para reduzir a inflação tem sempre um custo. O que estamos dizendo é que, como a inflação está muito afastada do centro da meta, vamos acomodar a situação e trazer a inflação para o centro da meta em 2012."

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"O foco continua sendo 4,5, entretanto um desvio dos 4,5 decorrente do choque de ofertas é aceitável, é acomodado."

A maioria das projeções de juros na BM&F recuou em reação ao relatório, com o mercado sepultando de vez qualquer aposta de que o BC venha a elevar em mais do que 0,5 ponto o juro no atual ciclo.

Contudo, como há ceticismo em relação à eficácia da política monetária, algumas projeções mais longas subiram.

"Na nossa visão, o primeiro relatório trimestral de inflação do ano fez uma afirmação clara de que o ciclo de aperto monetário está chegando perto do fim, ou pelo menos de uma pausa", afirmaram em nota os economistas Guilherme Loureiro e Marcelo Salomon, do Barclays Capital.

O BC elevou sua projeção para a inflação este ano para 5,6 por cento, ante estimativa anterior divulgada em dezembro de 5 por cento. O prognóstico leva em conta taxa de juros e de câmbio estáveis. Para 2012, a estimativa recuou para 4,6 por cento, de 4,8 por cento.

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Ambas as projeções estão abaixo das apostas do mercado, que apontam para inflação de 6 por cento este ano e 4,91 por cento no próximo.

Araújo afirmou que as estimativas do BC não levam em conta o efeito da medida prudencial adotada em dezembro, com aumento do requerimento de capital dos bancos na concessão de empréstimos de longo prazo às pessoas físicas.

Apesar de avaliar que a medida já está tendo efeito sobre a contenção do crédito, o BC entendeu que o cálculo dos seus impactos sobre a inflação é mais difícil de ser feito, por se tratar de um instrumento novo, disse o diretor.

Para o crescimento do PIB deste ano, o BC reduziu para 4 por cento sua estimativa, ante patamar anterior de 4,5 por cento.

Fiscal

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Diante do que considera evidências do impacto da medida macroprudencial sobre o crédito e sinais de moderação das commodities e de compromisso do governo com a consolidação fiscal, o BC avaliou que o cenário de riscos para a inflação está mais favorável do que em dezembro.

"Um ponto importante é o fiscal. Nossa hipótese é que o setor público cumprirá este ano a meta de superávit primário cheia, de 117,8 bilhões de reais", afirmou Araújo.

Ele ressaltou que o governo está tendo uma "ação vigorosa" para conter a inflação. Além da medida macroprudencial, o BC elevou a Selic em 1 ponto este ano, para 11,75 por cento.

"A tendência é que observemos neste e nos próximos trimestres taxas de crescimento da demanda mais compatíveis com a oferta", afirmou.

Segundo Araújo, o BC calcula que o aumento das commodities verificado no ano passado, de cerca de 70 por cento, terá um impacto primário total de cerca de 2,5 pontos percentuais no IPCA. A maior parte deste impacto, ou cerca de 1,6 ponto percentual, se deu na inflação do ano passado. O efeito restante, cerca de 0,8 ponto percentual, ocorrerá ainda este ano.

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