O Banco Central elevou de forma expressiva sua projeção para o crescimento da economia neste ano, destacando que os sinais de acomodação da atividade dados por indicadores recentes não revertem a tendência geral de expansão.
Por outro lado, o BC afirmou que a política monetária tem se tornado mais eficaz nos últimos anos, o que na prática significa que a inflação pode ser controlada com elevações menores da taxa de juros do que no passado.
As considerações constam do Relatório de Inflação de junho divulgado nesta quarta-feira, três semanas após o Banco Central ter promovido a segunda elevação consecutiva de 0,75 ponto na taxa básica de juros, atualmente em 10,25 por cento ao ano.
O BC aumentou para 7,3 por cento sua projeção para a alta do Produto Interno Bruto este ano, de um patamar anterior de 5,8 por cento. A nova projeção é superior à mediana dos prognósticos do mercado, de 7,13 por cento, e está muito acima do crescimento previsto pelo Ministério da Fazenda, de algo em torno de 6 por cento.
Para a inflação, o BC agora aposta que ela fechará o ano em 5,4 por cento, ante projeção anterior de 5,2 por cento, em cenário que leva em conta taxas de câmbio e juros estáveis até o final do ano.
Em um cenário que considera as projeções do mercado para essas variáveis, o BC espera que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano em 5,3 por cento.
"A inflação passou a ser o centro das preocupações nas economias que se recuperaram mais rapidamente da crise de 2008, e o Brasil é um bom exemplo", afirmou o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo em entrevista à imprensa.
Ele argumentou que o PIB, após registrar alta de 9 por cento frente a 2009 no primeiro trimestre do ano, deve desacelerar, mas não deixará de crescer.
"O comportamento de indicadores em abril não é reversão de tendência", afirmou.
O diretor destacou dados que mostram o uso da capacidade instalada da indústria voltando a níveis pré-crise e afirmou que o BC projeta que o desemprego feche o ano com taxa média de 7 por cento --o nível mais baixo da série do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística com início em 2002.
As projeções de juros subiram levemente nesta quarta-feira, com investidores apontando o tom duro do relatório.
"O BC manteve o mesmo tom da ata (do Copom), reforçando os riscos de ociosidade baixa na indústria e no mercado de trabalho e reforçando os efeitos das políticas de crédito e fiscal que ainda mantêm pressão sobre a inflação", avaliou Diego Donadio, analista sênior para América Latina do BNP Paribas.
Política mais poderosa
No relatório, o BC afirmou que apurou um aumento da sensibilidade da inflação no Brasil a variações da taxa de juros a partir de 2006.
Segundo Carlos Hamilton, fatores como o aumento do crédito na economia tem contribuído para que um aumento de juros influencie com mais eficiência as decisões das famílias de se endividarem e, em última instância, consumirem.
Outros fatores seriam o aumento da credibilidade do Banco Central e uma redução da parcela da dívida atrelada à Selic --o que diminui a parcela dos detentores de títulos que veem sua riqueza aumentar com uma elevação dos juros.
Essas mudanças têm feito com que, para obter uma mesma redução da inflação, o BC precisa fazer apertos monetários menores, afirmou Araújo.
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