Os mercados financeiros globais tiveram um dia de recuperação, depois das perdas recordes da véspera. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou o dia em forte alta, de 7,63%, aos 49.5441 pontos. A Bovespa seguiu a tendência dos mercados da Europa e de Nova York, animados com a possibilidade de elaboração de um novo pacote de ajuda financeira nos Estados Unidos. O dólar fechou em queda de 3,05%, cotado a R$ 1,906. No meio da tarde, o Banco Central fez operações de venda de contratos de dólar , contribuindo ainda mais para a queda.
O ajuste dos mercados foi incentivado pela expectativa de que, nos próximos dias, o Congresso americano avaliará um novo texto do pacote de ajuda financeira às instituições de crédito nos Estados Unidos. A Bolsa de Nova York esteve perto de recuperar as perdas do dia anterior. O índice Dow Jones fechou o dia em alta de 4,68%, aos 10.850,7 pontos; o Nasdaq, teve alta de 4,97%, fechando aos 2.082,33 pontos; e o S&P500 encerrou o dia em valorização de 5,27%, aos 1.164,74 pontos.
Antes da abertura da Bolsa de Nova York, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, fez outro pronunciamento à nação pela TV (o quarto em uma semana). Bush alertou que a economia vive um momento crítico e insistiu na urgência de o Congresso aprovar o tão esperado pacote de ajuda ao setor financeiro, afirmando que as negociações para aprovar o plano de socorro continuam, apesar do fracasso de segunda-feira.
No Brasil, a percepção do mercado é de que a rejeição ao pacote anticrise foi mais de fundo político do que técnico.
- Ou os congressistas não entenderam o conteúdo das medidas, ou a gravidade da situação no mercado, dando espeço para prevalecer questões de ordem política. O pronunciamento do Bush hoje botou o Congresso contra a parede. O presidente americano foi mais uma vez contundente em afirmar que a conseqüência de não se aprovar o socorro financeiro ao mercado será uma depressão na economia dos Estados Unidos - comentou Gustav Gorki, economista-chefe da Corretora Geração Futuro.
Para Gorki, o conteúdo do pacote rejeitado contém alguns pontos que precisam de esclarecimento. Mesmo assim, devem ser feitas algumas mudanças somente na forma e o projeto novo será encaminhado direto ao Senado. Na esteira da expectativa de alguma providência a ser tomada por autoridades financeiras, as principais ações do Ibovespa seguem em alta no dia.
Perto do fechamento das bolsas, aqui e em Nova York, já chegavam notícias de avanço na negociação de ajustes no texto da proposta do pacote anticrise, a ser entregue novamente ao Congresso americano. Um dos pontos a serem mudados é a referente ao seguro de depósitos total, que passaria dos atuais US$ 100 milhões para US$ 250 milhões.
Apenas três ações fecham em queda no dia
Das 66 ações listadas no principal índice da bolsa brasileira, apenas três papéis fecharam o dia em queda: Cosan ON (-3,78%); ALL UNIT (-2,25); e Comgas PNA (-1,98%). As ações que mais subiram no dia foram: BM&FBovespa ON, em alta de 17,07%; seguida de Telemar ON, em elevação de 15,69%; e, na terceira posição, Comgas PNA, que avançou 1,98%. As duas ações de maior peso do índice também operaram em alta neste início da tarde. As ações de Petrobras PN avançaram 7,17% e Vale PNA subiu 7,95%. O preço do barril de petróleo WTI foi negociado a US$ 102,16 em Nova York, e fechou em alta de 6,01%. Em Londres, o petróleo tipo Brent subiu 5,98%, a US$ 99,6.
Bolsas européias fecham em alta
Em meio a novos anúncios de nacionalização de empresas financeiras, os principais índices da Europa terminaram a terça-feira em valorização. O FTSE, da Bolsa de Londres, subiu 1,74% no dia e o principal índice da Bolsa de Paris, o CAC40, avançou 1,99%. A Bolsa de Frankfurt operou boa parte do dia com tendência indefinida, mas prevaleceu a alta no final das operações. O DAX fechou o dia em valorização de 0,41%. O dia nos mercados europeus começou com notícias sobre fechamento de alguns fundos de investimento. Mas a tranquilidade, pelo menos momentânea, veio após comunicado da Federação de Bancos (EBF, na sigla em inglês), afirmando que os bancos do continente têm solidez para enfrentar a crise. Juntou-se a isso a esperança de um novo pacote a ser encaminhado com urgência aos congressistas americanos.
A terça-feira na Europa também foi marcada por mais injeção de capital estatal em bancos e financeiras. Os governos europeus realizaram mais uma intervenção em um banco afetado pela crise financeira no continente. Bélgica, França e Luxemburgo chegaram a um acordo para injetar 6,4 bilhões de euros no banco Dexia , dentro de uma ampliação de capital para restaurar a confiança na entidade, segundo um anúncio feito nesta terça-feira.
Bélgica, Holanda e Luxemburgo já haviam comprado de 49% do belgo-holandês Fortis , no domingo. Ontem o governo britânico nacionalizou a carteira de hipotecas e empréstimos do Bradford&Bingley, a Alemanha deu crédito à gigante hipotecária Hypo Real Estate e a Islândia estatizou o banco Glitnir, terceiro maior do país.
Mercados na Ásia refletiram pessimismo do dia anterior no Ocidente
As principais bolsas asiáticas fecharam a terça-feira com fortes perdas, repercutindo a notícia de que a Câmara dos Representantes dos EUA rejeitou, no dia anterior, o plano do governo americano para tentar barrar a crise econômica . A Bolsa de Tóquio teve a pior queda em mais de três anos nesta terça. O índice Nikkei perdeu 483,75 pontos (-4,12%) e encerrou o dia com 11.259,86 pontos.
O Banco do Japão (BOJ) injetou nesta terça-feira quase 2 trilhões de ienes (US$ 19,2 bilhões) no mercado monetário do Japão, mas não foi suficiente a tentativa de acalmar a turbulência financeira.
Na abertura, o Nikkei caiu 4,07%, ao perder 477,90 pontos, situando-se em 11.265,71 pontos. A queda se agravou minutos depois, com o Nikkei perdendo 579,87 pontos, o equivalente a 4,94%, a 11.163,74 pontos.
O Banco do Japão (BOJ) injetou nesta terça-feira quase 2 trilhões de ienes (US$ 19,2 bilhões) no mercado monetário do Japão, em uma tentativa de acalmar a turbulência financeira.
O índice Kospi da Bolsa de Seul, que abriu em baixa de 4,8%, fechou em queda de 0,6%.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng registrava perdas de 5,47% apenas 10 minutos depois da abertura, mas se recuperou e fechou em alta de 0,76%.
Já em Taiwan, a notícia do fracasso nas negociações nos Estados Unidos fizeram com que a bolsa abrisse com uma queda de 6,66%. No encerramento fechou em baixa de 3,55%.
Na Austrália, a bolsa de Sydney registrou queda de 5,3% na abertura e no encerramento apresentou uma baixa de 4,3%.
Expectativas frustradas e quedas ontem
Na segunda-feira, os mercados financeiros ocidentais viveram um dia de turbulências , principalmente após a rejeição do pacote pelos congressistas. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, fechou com queda de 6,98%, ou 777,68 pontos, na maior queda em pontos de sua história. O Nasdaq teve queda de 9,14% e o Standard & Poor's, que reúne as 500 maiores empresas dos Estados Unidos, perdeu 8,80%. No Brasil, a Bovespa desabou, fechando em baixa de 9,36%. Durante o pregão, o Ibovespa registrou queda de mais de 10%, o que fez com que fosse acionado o mecanismo de circuit breaker.