Depois de muita oscilação, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) despencou mais de 3%, para menos de 50 mil pontos, pela primeira vez em mais de três meses, enquanto o dólar chegou a R$ 2,03 e atingiu o valor mais alto desde 4 de maio. A piora dos mercados foi influenciada por notícias sobre o agravamento da crise de crédito imobiliário dos Estados Unidos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira que a crise nos mercados internacionais não vai causar problemas na economia brasileira.
O dólar comercial caiu 2,27%, para R$ 2,031. Desde 15 de maio, a moeda era negociada abaixo de R$ 2 o que não acontecia desde 2001. O Banco Central não atuou no mercado pelo segundo dia consecutivo para segurar a moeda. O risco-país subiu cinco pontos, para 202.
Movimento na Bovespa bate recorde de R$ 18 bilhões
Após oscilar em terrenos positivo e negativo por todo o dia, seguindo o mercado americano, o Ibovespa, principal indicador da Bovespa, intensificou a queda no fim do dia e fechou em baixa de 3,19%, aos 49.285 pontos (o nível mais baixo desde 2 de maio). O movimento financeiro chegou a R$ 18,4 bilhões, recorde na Bovespa. O volume foi inflado pelo vencimento de opções, que somaram R$ 5,2 bilhões. O recorde anterior foi em 4 de julho.
A maior queda da Bovespa, foi das ações Embraer ON, que despencaram 9,05%, para a R$ 20,90. A empresa anunciou nesta madrugada que o lucro líquido caiu 48% no segundo trimestre. As ações PN da Vale também fecharam entre as maiores quedas, com baixa de 4,86%.
Dados do Banco Central, divulgados nesta quarta-feira mostraram que o fluxo financeiro de divisas ficou negativo em US$ 201 milhões nos primeiros oito dias úteis de agosto, como uma conseqüência da crise.
O comportamento do mercado brasileiro acompanhou a piora das bolsas internacionais, que se deterioraram no fim da tarde com a perspectiva da expansão da crise imobiliária americana.
Merrill Lynch rebaixa recomendação da maior financeira dos EUA
A Merrill Lynch rebaixou a recomendação dos papéis da maior empresa de crédito imobiliário dos Estados Unidos, a Countrywide Financial, e sua ações caíram cerca de 5%. Além disso, um fundo na Austrália e outro no Japão também anunciaram perdas com a crise das hipotecas americanas.
Também influenciou o mercado a alta do preço do petróleo depois da divulgação do relatório semanal de estoques americanos, que caiu mais do que o previsto, e das previsões de intensificação de uma tempestade tropical no Golfo do México, o que pode atrapalhar a produção na região. O barril subiu 1,31% em Nova York e 1,30% em Londres.
Turbulências se intensificaram
Na avaliação de analistas, as turbulências se intensificaram e já está caracterizada uma crise de liquidez no mercado financeiro internacional.
- Não é mais uma correção ou só uma turbulência. É uma crise de liquidez. A questão é saber se a crise vai se prolongar e afetar a economia real - afirmou Júlio Hegedus Netto, economista-chefe da Lopes Filho e Associados.
Pela manhã, o Fed (banco central americano) voltou a injetar recursos, disponibilizando mais US$ 7 bilhões em linhas de crédito para instituições financeiras. A injeção chegou a segurar as bolsas no fim da manhã, mas a volatilidade continuou grande.
- A crise do chamado subprime se agravou a partir de ontem à tarde. Os investidores começaram a pensar na maior probabilidade de a crise atingir a economia real - disse Miriam Tavares, diretora de câmbio da AGK Corretora.
Na avaliação do economista-chefe da Lopes Filho, a atuação mais discreta do Fed pode ter sido interpretada pelo mercado como um sinal de que as injeções de recursos estão chegando ao fim. Na segunda-feira, o Fed chegou a aportar cerca mais de US$ 40 bilhões.
- O mercado pode estar pensando que o Fed ajudou enquanto podia. Agora, é cada um por si - afirma o Hegedus Netto.
Um pouco antes das quedas nas bolsas se intensificarem, o presidente Lula garantiu que a economia brasileira está segura.
- A turbulência externa não vai causar problema ao Brasil - assegurou Lula, acrescentando que o governo não vai tomar medidas em relação ao dólar.
Índices econômicos positivos não seguram mercados
Alguns índices da economia americana ainda contribuíram para melhorar o ambiente financeiro, mas também não foram suficiente para manter os mercados otimistas.
- O mercado não está mais reagindo aos indicadores econômicos - avaliou Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments-Brasil
Pela manhã, o governo americano mostrou que o índice de preços ao consumidor americano ficou em 0,1% em julho depois de avançar 0,2% um mês antes. Outro indicador, sobre a produção industrial dos Estados Unidos mostrou crescimento de 0,3% no mês passado, número que veio acima das expectativas.
Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, fechou em baixa de 1,29%, aos 12.861,5 pontos. Foi a primeira vez queo índice ficou abaixo de 13 mil pontos desde 25 de abril. Para piorar o mercado americano, a loja de departamentos a loja de departamentos Macy`s anunciou que fechou o segundo trimestre do ano com queda no lucro líquido de 77%, para US$ 74 milhões .
Na Europa, as principais bolsas caíram com exceção de Frankfurt. Em Londres, na Grã-Bretanha, o índice geral FTSE-100 caiu 0,56%. Já na Bolsa de Valores de Frankfurt, na Alemanha, o índice DAX 30 registrou alta de 0,28%. Em Paris, na França, o índice CAC-40 recuou 0,66%.
Na Indonésia, queda chegou a 6%
Nos mercados de ações asiáticos, a pior queda nesta quarta foi na Indonésia, onde o Jakarta Composite Index caiu 6,44%, aos 2029,08 pontos.O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio caiu 396 pontos (2,24%) e encerrou o pregão com 16.475,61 unidades, seu nível mais baixo desde dezembro de 2006.
Além da crise no setor imobiliário nos Estados Unidos que trouxe novos anúncios de perdas em um fundo na Austrália e outro no Japão, a valorização do iene frente ao dólar contribuiu para a quda na Bolsa de Tóquio. Analistas acreditam que as preocupações com a economia americana podem inibir o Banco Central japonês com relação à taxa de juros, que deveria ser alterada no fim do mês.
Em Hong Kong, houve queda de 2,7%. Em Seul, a queda foi mais leve mas também expressiva: 1,7%. Na Bolsa de Cingapura, a queda foi de 3,39%. Em Manila, nas Filipinas, as perdas foram de 4,08%.
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