A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou a sexta-feira em queda de 1,48% em meio à constatação pelo mercado financeiro de que os problemas norte-americanos com crédito imobiliário estão se espalhando para o setor bancário, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.

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A Bovespa, que havia esboçado reação no início da semana, acabou zerando os ganhos, com queda acumulada de 0,39% nos últimos cinco dias, aos 52.638 pontos. E podia ser pior: nesta sexta-feira, o índice de ações paulista chegou a cair 3% pela manhã.

O dólar também respondeu à crise: A moeda norte-americana terminou o dia cotada a R$ 1,952, em alta de 1,3%. Na semana, o dólar acumulou valorização de 2,63%. Na manhã desta sexta-feira, a alta chegou quase a 2%, com o dólar vendido a R$ 1,962.

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Entenda a crise

A crise das hipotecas de alto risco americanas já havia abalado o mercado na quinta-feira (9), obrigando vários bancos centrais a injetar dinheiro no mercado para evitar a quebra de instituições financeiras na Europa e EUA. Alguns bancos e fundos de investimento estão em situação crítica devido ao risco de inadimplência nos empréstimos para compra da casa própria nos EUA.

Por causa de problemas apresentados pelo Paribas - o maior banco da França - e também por instituições alemãs, o Banco Central da Europa (BCE) injetou US$ 130 bilhões no mercado na véspera, o maior aporte desde 11 de Setembro de 2001. Nesta sexta-feira, o BCE voltou ao mercado, com mais dinehiro, elevando o total gasto com a crise para US$ 213 bilhões.

O Banco do Japão injetou nesta sexta-feira 1 trilhão de ienes (R$ 17 bilhões) no mercado como resposta às quedas generalizadas das bolsas de valores.

No mundo

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Em decorrência da crise imobiliária, o índice que reúne as principais ações das empresas européias recuou para 1.482 pontos, com baixa de 3,04% - queda semelhante à registrada em 27 de fevereiro, quando as ações globais tombaram após um forte movimento de vendas nos mercados chineses. Entre os principais mercados, Londres teve queda de 3,71%, Frankfurt recuou 1,48% e Paris teve desvalorização de 3,13%.

As conseqüências da crise nos EUA também afetaram a Ásia. A Bolsa de Tóquio, no Japão, registrou forte queda. O Nikkei-225 fechou o pregão com queda de 2,36%, até 16.764,09 pontos. A Bolsa de Valores de Seul fechou o pregão desta sexta com o índice Kospi caindo 80,19 pontos (4,2%), para 1.828,49 pontos.

Análise

Para o especialista em mercado de ações do Ibmec São Paulo, Ricardo Almeida, a crise dos últimos dois dias é reflexo de uma preocupação que começou em maio passado, quando a bolsa registrou uma queda de cerca de 30%. Já se pressupunha, então, que as empresas que financiam crédito imobiliário nos EUA pudessem enfrentar problemas.

"Em maio todo mundo viu a crise, ela passou, retornou, e hoje a gente está vendo decorrências daquele medo", disse. Almeida acredita que os economistas ainda não sabem a extensão dessa crise, por conta do desconhecimento sobre o modo de operação dos fundos de investimento que operam esse tipo de crédito. "Fica difícil fazer previsões e as oscilações são fortes".

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A novidade dessa crise com relação à anterior, segundo o especialista, é que o problema deixou os Estados Unidos, não só como reflexo da queda nas bolsas. Isso porque ontem o francês BNP Paribas anunciou que três de seus fundos, com ativos de US$ 2,2 bilhões, iriam bloquear os saques até que eles pudessem avaliar essas perdas. "Isso agravou a crise", afirma.

Palavra de Mantega

Para o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, é prematuro falar em crise internacional. Para ele, estaria havendo apenas uma redução do nível de alavancagem" (exposição ao risco dos investidores).

"São dois ou três dias de turbulências um pouco mais fortes. Foi parecido com o que aconteceu no meio do ano passado. Durou duas semanas e amainou. Não podemos falar em crise enquanto não afetar o nível de produção e atividade", avaliou ele nesta sexta-feira (10).

Palavra de Bush

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O presidente dos EUA, George W. Bush, veio a público para tentar acalmar os investidores. Ele descartou uma ajuda generalizada aos inadimplentes do setor imobiliário, mas garantiu que algum tipo de auxílio poderá ser pensado.

Para Bush, o mundo tem liquidez para superar a turbulência causada pela tensão nos EUA. Segundo ele, a economia americana é invejada por todo o mundo e apresenta fundamentos sólidos, como inflação baixa e geração de empregos.