Operador da Bolsa de Nova York: índice Dow Jones ainda teve tempode reagir com anúncio de novas medidas anticrise na Itália| Foto: Lucas Jackson/Reuters

Tira-dúvidas

Diante da queda das bolsas pelo mundo afora, o investidor precisa tomar alguns cuidados na hora de escolher papéis em que deseja investir, ou pensar melhor se esta é a melhor hora para entrar no mercado financeiro.

Já tenho ações na bolsa de valores; agora é a hora de vender ou manter os papéis?

É nos momentos de solavancos na bolsa que o investidor deve identificar o seu perfil. Normalmente, a orientação é pensar no longo prazo, mas, com a situação econômica preocupante, é possível enxergar melhor a própria estratégia. Quem tem visão de longo prazo pode encontrar boas oportunidades em alguns papéis, como os da Petrobras, que estão com preços abaixo do valor de mercado. Já quem procura ganhar dinheiro no curto prazo deve procurar outras opções. Para os analistas, quem tem o perfil de investidor não deve vender suas ações.

Estou pensando em começar a investir; o atual momento é uma boa oportunidade?

Os investidores inexperientes devem fugir dos papéis muito voláteis, com baixa liquidez – não buscar um papel que caiu mais, mas pensar em investir em papéis de primeira linha, com bom histórico de rentabilidade. O momento é uma boa oportunidade para quem estava ensaiando entrar na bolsa, mas é bom diversificar os investimentos.

Quais são as empresas mais e menos expostas ao cenário internacional?

As empresas mais expostas estão ligadas à exportação e têm relação com as commodities. Em um cenário de crise, alguns países podem diminuir o consumo de matéria-prima, como minério de ferro e petróleo, por exemplo. Por isso, siderúrgicas e petrolíferas podem ser mais penalizadas. Um setor que está menos exposto à volatilidade da bolsa e que apresenta bons rendimentos é o elétrico.

Nesse momento de incertezas, quais seriam as melhores oportunidades? Como ficam as outras aplicações, como a poupança e o CDB?

Títulos públicos pré-fixados de curto período podem ser uma alternativa segura para quem deseja retorno de curto prazo. Poupança e CBD são boas opções para quem não quer ficar exposto à volatilidade da bolsa ou para quem pensa em diversificar os investimentos. Os investidores com perfil mais conservador podem procurar ainda a renda fixa e aplicar um tanto dos seus investimentos em ouro.

Fontes: Guilherme Carrasco, operador de investimentos da Grow Investimentos, e Carlos Alberto Widonsck, professor do Curso de Especialização em Gestão de Operações e Serviços Bancários (MBA) na Fundação Vanzolini.

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A forte volatilidade que marcou o pregão de ontem fez o rumo da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) se confirmar a minutos do fim. Foi quando o índice à vista "colou" no Dow Jones e subiu, a despeito do tombo dos papéis de Vale e Petrobras. Os ganhos, entretanto, foram insuficientes para apagar as perdas dos últimos dias. O Ibovespa terminou a sexta-feira em alta de 0,26%, mas, na semana, acumulou perdas de 9,99%, na pior semana desde o fim de novembro de 2008. Em 2011, quem investiu na Bolsa já perdeu 23,60%.

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Segundo um consultor de investimentos de um grande banco doméstico, a volatilidade da sessão deve se manter na próxima semana, assim como a trajetória de baixa, ainda mais com o rebaixamento da dívida norte-americana, anunciado ontem à noite. "Os investidores estão à espera de uma luz no fim do túnel, mas não sabem da onde ela viria", afirmou. O evento de ontem era a divulgação de dados do emprego nos Esta­dos Unidos, e ela foi a responsável por parte do alento visto nas bolsas. O Departamento do Trabalho norte-americano mostrou que a economia dos EUA gerou 117 mil novos empregos em julho, um número que surpreendeu positivamente o mercado, que previa algo entre 50 mil a 90 mil novas vagas em julho. A taxa de desemprego no país caiu de 9,2% para 9,1%, em parte porque alguns trabalhadores desempregados pararam de procurar trabalho.

O mercado reagiu momentaneamente em alta, caindo em seguida com o temor de a economia dos EUA voltar à recessão. Os investidores também se concentraram nos últimos esforços da Europa para conter a crise da dívida na região. Um anúncio do governo italiano após o fechamento dos mercados europeus acalmou os investidores e ajudou as bolsas nos EUA e no Brasil a terminarem o dia em alta, ainda que leve.

"Haverá volatilidade por um certo período, mas a abordagem das pessoas é muito diferente quando comparada a 2008, quando tivemos pânico absoluto", disse ontem David R. Jones, executivo-chefe da CastleOak Securities, re­­ferindo-se ao desempenho da bolsa de Nova York, que encerrou a semana com perdas de 5,75%. Mas Ted Weisberg, presidente da Seaport Securities, acredita em um cenário mais sombrio. "Um número bom não é suficiente para mu­­dar o sentimento no momento", disse, referindo-se aos números do emprego norte-americano. "As pessoas estão assustadas e querem tirar o risco da mesa", completa.

Para Dilma, Brasil está mais forte que em 2008

A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que a economia brasileira tem condições de enfrentar o atual cenário de crise global. "Hoje, o Brasil está mais forte do que estava em 2008", afirmou a presidente durante discurso em evento de lançamento, em Salvador (BA), do programa Vida Melhor. "Em 2008, tínhamos condições de enfrentar a crise. Hoje, temos mais condições ainda", acrescentou. A presidente ressaltou que um dos fatores que fortalecem a economia brasileira para enfrentar a atual crise é o volume de suas reservas internacionais, que estão atualmente 60% maiores do que em 2008.

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"O Brasil não tem nenhuma fraqueza, é uma economia que cresce", afirmou a presidente. Segundo ela, a economia brasileira não pode deixar, por conta da crise, que outros países venham a diminuir o valor dos produtos nacionais e prejudicar a geração de empregos. "Não vamos deixar porque este é nosso patrimônio", acrescentou. E garantiu: "Nós iremos proteger a nossa indústria." A presidente ressaltou também que não é contra a importação de produtos, mas o governo ficará atento a qualquer tipo de concorrência desleal.

Cresce procura por fundos de emergentes

O impasse com a aprovação do novo teto da dívida norte-americana até o início desta semana e o persistente temor de difusão da crise soberana na zona do euro provocaram um forte ingresso de recursos para os fundos de bônus de mercados emergentes, em detrimento dos fundos de bônus norte-americanos, fundos globais de money market e fundos de bônus high-yield – de elevado rendimento, segundo levantamento do banco ING.

A angústia dos investidores com o peso dos problemas nos EUA ficou evidente também na preferência dos novos investidores pelos fundos de bônus de emergentes em moedas locais, que tiveram a maior participação no fluxo geral para os fundos de bônus emergentes e viram o maior ingresso desde abril de 2010.

Na semana que terminou em 3 de agosto, os fundos de bônus de mercados emergentes registraram um aumento de US$ 2,128 bilhões nos ativos sob administração, a maior parte correspondendo a dinheiro novo, que somou US$ 1,297 bilhão, diz o ING. Esse número supera o ingresso de US$ 925 milhões em novos investidores da semana anterior. Já os fundos de bônus norte-americanos viram uma saída de US$ 2,27 bilhões.

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Os temores de risco de contágio no sistema financeiro dos riscos enfrentados pelos bancos na zona do euro explicam o saque de US$ 70 bilhões nos fundos globais de money markets, o maior volume desde a semana até 17 de março de 2008, diz o ING. Os fundos de money market são conhecidos como os veículos de investimento mais seguros, aplicando os recursos em ativos de curto prazo e com as melhores classificações de investimento. Esses fundos tradicionalmente concentram seus investidores em títulos de governos, como o norte-americano, e commercial papers emitidos por bancos europeus.