A deterioração do cenário político e econômico, que tornou ainda mais difícil para o governo cumprir a sua meta fiscal, deixou o Brasil mais perto de perder o grau de investimento (selo de bom pagador) concedido pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P).
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Na escala da agência, o Brasil está no limite do grau de investimento, com a nota “BBB-”, mas a expectativa, antes neutra, passou a ser negativa – ou seja, cresceu a chance da redução da nota. A perda do selo de bom pagador poderia levar a um aumento de juros, e o governo Dilma teme que isso eleve a pressão pela alta do dólar.
Segundo Lisa Schineller, diretora da agência de avaliação de risco, não há um prazo prefixado para a reavaliação da nota brasileira e um eventual rebaixamento dependeria de uma nova piora significativa do cenário do país. “Se houver maior deterioração, poderemos reduzir a nota”, disse.
A S&P foi a primeira agência a conceder o grau de investimento ao Brasil, em 2008, em uma decisão que coincidiu com um período de alta na Bolsa de Valores. O país também possui o selo de bom pagador concedido pelas rivais Fitch e Moody’s e, em ambos os casos, está dois degraus acima do grau especulativo, em que há chance maior de calote.
Para boa parte de grandes investidores internacionais, é preciso que ao menos duas agências concedam o selo de bom pagador para que elas possam manter o investimento em um país. Após o anúncio da S&P, no início da tarde de terça-feira (28), a moeda americana teve sua quinta alta seguida e chegou a subir mais de 2% em comparação com o real, mas perdeu força no final do dia.
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Para a S&P, a recuperação da economia é chave para a melhora da avaliação. Ela, no entanto, revisou para baixo a expectativa de crescimento do PIB brasileiro. A agência prevê queda de 2% do PIB em 2015 e nenhum crescimento em 2016.
A redução da meta do superavit primário anunciada pelo governo na semana passada de 1,1% do PIB para 0,15% é mais uma evidência do enfraquecimento da economia, ainda que “mais realista”, considera a S&P.
Em nota, a S&P citou escândalos de corrupção que atingem empresas e pessoas importantes do setor público e privado como um dos sinais da dificuldade para implementação da política fiscal do governo.
Para ela, a relação conturbada do Poder Executivo com o Congresso, o estremecimento da aliança entre PT e PMDB, pedidos de impeachment da presidente e a queda de sua aprovação a menos de 10% aumentam as incertezas políticas a curto prazo.
A agência, porém, diz que as investigações sobre corrupção atestam a solidez institucional do país.
Ameaça ao mercado de capitais
O eventual rebaixamento da classificação de risco do país já está incluído em boa medida no preço dos ativos brasileiros, mas pode representar uma pá de cal no mercado de capitais, onde as empresas se financiam. As companhias podem ter de adiar algumas emissões de títulos de renda fixa e ficará ainda mais difícil as vendas de papéis de renda variável previstas para o ano. A próxima janela de emissões de ações e de renda fixa que se abre com o fim das férias do Hemisfério Norte, pode ficar comprometida.
Para governo, decisão pressiona Congresso a votar logo o ajuste; base vê “jogo combinado”
Segundo técnicos, perda do grau de investimento será quase certa se parlamentares não apoiarem medidas
- BRASÍLIA
A equipe econômica avalia que a decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor´s (S&P) de colocar a nota do Brasil em perspectiva negativa pode ajudar a pressionar o Congresso Nacional a votar logo o ajuste fiscal. “Isso acaba ajudando o governo de alguma forma. Sem o Congresso aprovando o ajuste, o risco de perda de grau de investimento é alto”, disse uma fonte do governo.
Mas os senadores e deputados da base não parecem dispostos a ajudar. Dizem que não vão aceitar essa “faca no pescoço” nem voltar a “matar no peito” o ajuste que não é mais do ministro Joaquim Levy, mas do PT. Dizem que foi um “jogo combinado” da agência com o comando econômico para “deixar a bomba estourar” no Congresso.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), menosprezou o papel da agência. “Essas agências não têm nada que se meterem no Brasil, deviam estar preocupadas com a vida delas. Essa crise, em certa medida é forjada. Enquanto a agência fica com essas firulas, a população está consumindo. Essas análises não deveriam nem ser levadas em conta, isso não tem a menor importância”, disse.
O líder da minoria na Câmara, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), acredita que a perspectiva negativa é resultado da corrupção disseminada no governo e de decisões equivocadas na área econômica nos últimos anos. “Quando o Brasil atingiu investment grade era festa. Agora não se leva em conta?”, pontuou o tucano, lembrando que, em 2008, quando o Brasil recebeu o grau de investimento pela S&P, o então presidente Lula comemorou, afirmando que o país vivia um “momento mágico”.
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