Os brasileiros estão otimistas quanto a sua capacidade de pagar dívidas. Segundo o Índice de Expectativas das Famílias (IEF), divulgado mensalmente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 47,6% das famílias analisadas admitiram ter dívidas, mas mais da metade delas (60,7%) disseram que terão condições de pagá-las, seja parcialmente (46,6% do total) seja completamente(14,1%). Do total de famílias entrevistadas (3.810 domicílios), 52,2% disseram não ter dívidas e 9,7% consideram-se muito endividadas.
Para Marcio Pochmann, presidente do Ipea, este otimismo indica que o brasileiro aprendeu a lidar com os juros. "Houve um aprendizado do conjunto das famílias com relação à trajetória recente de elevação das taxas de juros. O fato de termos um crédito sendo difundido em maior dimensão no Brasil, vem permitindo que as famílias passem por um processo de aprendizagem em usar o crédito e o utilizam mais à medida que a taxa de juros é menor e o utilizam menos à medida que a taxa de juros é maior", disse.
Apesar desse aprendizado em lidar com a dívida, destacado por Pochmann, quatro em cada dez famílias analisadas pela pesquisa disseram que não terão condições de honrar seus compromissos. Na avaliação do presidente do Ipea, este número não representa um risco para a economia do país.
"Isso não é uma bolha, como ocorreu em outros países, porque o Brasil vem expandindo os empregos, a taxa de desemprego vem caindo e os salários vêm conseguindo subir acima da inflação: então, as condições gerais do país são satisfatórias a tal ponto de evitar que tenhamos uma bolha. No entanto, em alguns segmentos ou setores de atividades econômicas poderá ter algum tipo de problema relativo às dificuldades das famílias pagarem suas dívidas", declarou.
O índice que foi divulgado nesta terça-feira (6) pelo Ipea também apontou que a população brasileira continua otimista com o comportamento socieconômico do país. Em agosto, o índice apurado foi 65,2 pontos, valor superior ao que foi registrado em julho (63,5 pontos). Os mais otimistas com relação à situação econômica brasileira são os que têm mais renda e mais instrução, principalmente os que recebem entre quatro e cinco salários mínimos e têm ensino superior incompleto.
"O que temos percebido ao longo das pesquisas é que à medida que eleva-se o graus de escolaridade, maior é a possibilidade de ascensão ocupacional, e isto termina impactando na percepção das famílias sobre sua situação financeira e até mesmo sobre o país. Infelizmente, as pessoas com menor escolaridade terminam não observando, no horizonte, a possibilidade de ascensão, tendo em vista a situação de dificuldade em que se encontram", disse. Ainda com base na pesquisa, Pochmann declarou que a crise internacional ainda não contaminou o Brasil e não fez efeitos sobre a percepção da população à respeito da economia brasileira.