Linha de montagem da Ford na Bahia: importações da empresa em 2011 superaram as exportações em US$ 300 milhões| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Montadoras com fábrica no Brasil têm déficit comercial

Mesmo com forte presença no país, boa parte das grandes montadoras já importa mais do que exporta no Brasil, quando o cálculo é feito em dólares.

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Futuro

Indústria não quer virar "maquiladora"

Há suspeitas de que os carros produzidos no México, que, pelo acordo vigente, já possuem menor conteúdo local do que no Mercosul, com exigência de 50%, não têm cumprido sequer esse porcentual. Se comprovada essa desconfiança, as montadoras estariam atuando como "maquiladoras" – ou seja, empresas que compram componentes importados, principalmente dos Estados Unidos, para apenas montá-los em território mexicano.

O temor do governo é o de que, se não houver uma política forte nos próximos anos, a indústria brasileira também se torne "maquiladora". O índice atual de 65% de conteúdo local pode cair, na prática, para a compra de apenas 21% de peças locais, segundo o Sindipeças. A redução ocorre porque o cálculo é feito sobre o valor de venda do veículo, que inclui, por exemplo, salários de executivos e marketing, e não sobre o custo de produção.

A ameaça de rompimento do acordo automotivo com o México é um caminho para o governo brasileiro aumentar a produção de veículos e autopeças no Brasil com maior conteúdo local, de acordo com uma alta fonte do setor automotivo. Apesar da exigência de que os carros produzidos no país tenham 65% de componentes locais, o governo constatou, nos últimos meses, que tanto as novas montadoras como as que já atuam no Brasil têm usado cada vez menos peças locais. Uma outra fonte do setor informa que estudos revelam que 60% das importações brasileiras de autopeças em 2011 foram destinadas à produção nas fábricas.

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Ford e Volkswagen, duas das maiores montadoras que atuam no Brasil, registraram crescimento, respectivamente, de 20,27% e de 31,7% nas importações em 2011 e tiveram déficit comercial de US$ 300 milhões cada uma. Das dez maiores importadoras do país em 2011, três são montadoras com fábricas no Brasil – além da Ford e Volks, a Toyota. "O problema não é o México. É o futuro da indústria brasileira", afirmou uma fonte.

O anúncio da nova política industrial brasileira para o setor automotivo está em discussão desde o governo Lula e foi adiado diversas vezes. A expectativa do setor é de que seja divulgado até o fim deste semestre. Nesse sentido, a renegociação do acordo automotivo do Mercosul com o México é crucial para a definição da nova política que vai vigorar de 2013 a 2016 porque o governo Dilma Rousseff estuda conceder incentivos fiscais para montadoras que comprovem investimentos em pesquisa, desenvolvimento e tecnologia verde.

Competitividade

O ex-ministro do Desenvolvi­mento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) Miguel Jorge, que já atuou no setor automotivo nacional, avalia que, antes de exigir um conteúdo local maior, o governo precisa elevar a competitividade da indústria brasileira, com a aprovação de reformas que diminuam a carga tributária, a burocracia para exportar e reduzam o impacto do real valorizado no custo da produção. "Romper o acordo não é um bom caminho", afirmou.

O governo brasileiro quer ter com o México as mesmas condições comerciais que os EUA conseguiram no acordo automotivo vigente entre os dois países. Segundo o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presi­dência, Marco Aurélio Garcia, o mínimo que o governo da presidente Dilma Rousseff exige é igualdade de condições. "Estamos negociando. Os EUA têm vantagens muito superiores. Queremos, no mínimo, isonomia", disse Garcia, referindo-se à total abertura do mercado mexicano para os EUA no âmbito do Nafta (acordo de livre comércio da América do Norte). Desde o início das negociações, há cerca de uma década, a meta do Brasil sempre foi um tratado amplo, com intercâmbio de todos os itens, não só de veículos e peças.

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