No fim de setembro, o então candidato Donald Trump deu sua opinião sobre a escalada do mercado de ações dos Estados Unidos. “Nós estamos em uma grande, gorda e feia bolha”, sentenciou, em um debate.
Não deixa de ser curioso que no último dia 9, no primeiro pregão após a eleição do republicano, a Bolsa de Nova York tenha fechado em alta, contrariando analistas e investidores que até a véspera esperavam não menos que uma tragédia em caso de vitória do magnata.
As cotações continuaram subindo. Na terça-feira (15), o índice Dow Jones alcançou o maior nível da história, acima de 18,9 mil pontos. E encerrou a semana bem perto dele.
Tudo isso apesar de o próprio Trump ter reiterado durante a campanha que o Federal Reserve (o banco central dos EUA) estava atuando politicamente ao manter baixas as taxas de juros, e que elas subiriam assim que Barack Obama deixasse a Casa Branca – o que, na avaliação do republicano, causaria estragos no mercado acionário.
A rapidez com que o mercado superou o Brexit, meses atrás, e a facilidade com que encontrou uma justificativa para continuar em alta após a eleição de Trump alimentam as suspeitas de quem gosta de procurar bolhas. A suposta bolha das ações dos EUA não é a única no radar. Também chama atenção o comportamento dos mercados de títulos de dívida e o boom do crédito e setor imobiliário na China.
O ambiente está propício a desequilíbrios porque, a partir da crise financeira de 2008/2009, bancos centrais de países desenvolvidos inundaram o sistema financeiro de dinheiro, derrubando os juros a níveis próximos de zero ou até negativos – hoje cerca de 40% do PIB mundial opera sob juros de no máximo 1% ao ano, segundo estimativa divulgada pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi. Com isso, bancos e investidores assumiram riscos maiores para conseguir rentabilidades mais altas.
Qual a chance de que alguma dessas bolhas realmente exista? E o que aconteceria se ela estourasse? Não há qualquer consenso sobre essas questões. Os que acreditam em bolha, como sempre, são minoria, mas parecem estar mais numerosos que alguns anos atrás. Só que o único jeito de saber se eles estão certos é se uma bolha realmente estourar.
“A bolha é uma precificação do mercado fora de seus fundamentos. Mas não vejo isso hoje”, diz o economista Pedro Paulo Silveira, da corretora Nova Futura. “Vejo, sim, os mercados precificados de acordo com uma expectativa formada ao longo dos últimos anos, em relação às taxas de juros, principalmente. E talvez essa percepção já não valha mais, o que levaria a uma nova precificação das bolsas. Mas isso não tem a ver com bolha, e sim com mudança de cenário.”
Ações
O índice Dow Jones subiu mais de 180% desde março de 2009. O S&P 500, cerca de 220%. A economia dos EUA não está crescendo tanto, nem os lucros das companhias, mas as cotações, sim. O valor de mercado das empresas listadas passa de 120% do PIB, patamar mais alto desde o início do século, pouco antes do estouro da bolha “ponto com”. A explicação para as altas, segundo o economista Pedro Paulo Silveira, é o juro baixo. “O valor presente da ação reflete os lucros esperados para o futuro menos a taxa de juros de longo prazo. Se o juro é baixo, o valor presente é maior”, diz. “Se o governo Trump elevar muito os gastos e cortar muito os impostos, provocando um enorme déficit de longo prazo nas contas públicas, as taxas de longo prazo vão subir bastante. E aí as ações tendem a cair”, diz.
Dívidas soberanas
Na tentativa de aquecer a economia, os bancos centrais Europeu, da Inglaterra, dos EUA e do Japão compraram volumes gigantescos de títulos de dívida pública a partir de 2009, o que injetou trilhões de dólares, euros e ienes no sistema financeiro e derrubou os juros para perto de zero. Na falta de opções melhores, bancos, fundos de investimento, seguradoras e outros aplicaram boa parte desse dinheiro na compra de... títulos de dívida pública. Mais demandados, os “bônus” foram valendo cada vez mais (e pagando juros cada vez menores). EUA e Inglaterra já interromperam esses programas, mas os BCs do Japão e Europeu seguem a toda. Quando os juros começarem a subir (e o valor dos “bônus”, a cair), os investidores vão passar a vendê-los. O perigo está na velocidade desse movimento.
Imóveis e crédito
A efervescência dos mercados de crédito e imóveis da China está ligada à atuação do governo para manter a economia crescendo e aos elevados níveis de poupança da população. Sempre que o governo endurece regras para esfriar um “boom”, os endinheirados migram para outro mercado, que então se superaquece – foi assim com ações, depois títulos de dívida e, mais recentemente, commodities, cujos preços dispararam em meio à superoferta. A suposta “grande bolha da China” seria a maior do mundo em 100 anos, segundo alguns economistas. Outros não veem problema. Ainda que a dívida corporativa esteja em 170% do PIB, segundo o Credit Suisse, em boa parte dos casos são bancos públicos financiando empresas públicas – e quando há problemas, o governo capitaliza os bancos. Mas não se sabe até que ponto isso é sustentável.
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