Ele se destaca das vastas planícies áridas do centro do México, um invólucro oco de vigas de aço que serve como prenúncio do dano que o programa “America First” de Donald Trump poderia causar em parceiros comerciais em todo o mundo.
Essa não seria uma fábrica de automóveis comum. O projeto da Ford, em uma cidade a cerca de quatro horas ao norte da Cidade do México, foi exaltado na região do maior investimento privado de San Luis Potosí, uma instalação de US$ 1,6 bilhão que teria empregado quase 3 mil pessoas e adicionado um ponto de meio ponto ao PIB do estado.
O estado de San Luis Potosí ainda deve dinheiro aos vendedores do terreno que comprou e doou à Ford. Agora, o governo está lutando para recuperar o controle do local abandonado e encontrar um novo inquilino que aceite juntar os pedaços do que foi deixado ali. Isso não será um trabalho fácil, pois Trump trabalha com a ideia de criar de um imposto de até 20% sobre as exportações mexicanas para cobrar pela construção de um muro na fronteira com os Estados Unidos. Ela também continua seus ataques no Twitter contra empresas americanas que enviam empregos para o exterior. Quando a Ford anunciou o cancelamento de seu projeto em 3 de janeiro, tornou-se pelo menos a segunda companhia estrangeira a se curvar à pressão de engavetar projetos no México.
“A Ford seria o motor para nos fazer crescer mais rápido”, disse Gustavo Puente, chefe do escritório de desenvolvimento econômico do estado. “A pior parte foi a incerteza sobre o que as políticas de Trump vão fazer.”
A Ford disse que sua decisão foi influenciada pela demanda. A empresa disse em um comunicado enviado na terça-feira que está “trabalhando com a comunidade local para garantir que façamos a coisa certa”.
“Nós cancelamos a planta no México porque vimos o que estava acontecendo com a desaceleração de vendas de carros pequenos “, disse o CEO Mark Fields aos analistas em uma teleconferência em 26 de janeiro. “Não precisávamos mais da capacidade e não fazia sentido adicioná-la.”
Para os moradores de San Luis, foi um golpe esmagador. No dia do anúncio da Ford, um serviço local de aluguel de equipamentos viu um quarto de sua renda ir embora. E se a General Motors ou a BMW decidirem ir embora também? Bem, as pessoas da região não querem nem pensar nisso.
“Nós ouvimos rumores de que outros podem sair”, disse Karla Chavez, que trabalha como administradora na empresa de aluguel de equipamentos, a Mapein, que ganhou cerca de US$ 4 mil por mês a partir do projeto da Ford e esperava a chegada de novos contratos ao longo dos próximos anos. “Tudo o que podemos fazer é esperar.”
Um em cada oito trabalhadores em San Luis é empregado pelo setor automotivo, o que só foi possível pelo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), que há décadas mantém milhões de mexicanos na classe média e que Trump está agora ameaçando destruir. Em seu discurso inaugural, ele culpou tais acordos por roubar empregos americanos, deixando uma “carnificina” em seu rastro. As hostilidades entre o presidente Donald Trump e seu homólogo, Enrique Peña Nieto, do México, poderiam afetar US$ 584 bilhões em comércio entre as duas nações.
A preocupação de que uma das maiores relações comerciais bilaterais do mundo esteja caminhando para uma pausa tem deprimido o peso mexicano, que caiu quase 12% desde a eleição de Trump, em 8 de novembro.
Trump no mês passado exigiu que o México pagasse por um muro de fronteira, e Peña Nieto respondeu cancelando uma visita oficial. Como as relações entre os dois líderes se deterioram, o nervosismo que se espalhou em conversas em cafés e linhas de montagem em San Luis está se transformando em pânico.
“Agora, todos estão perguntando à gerência se eles vão sair”, disse Javier Hernandez, que monta transmissões para a Eaton Corp. “Também estamos nos perguntando se a demanda vai cair. Talvez eles terão que demitir pessoas.”
Nada disso é um bom sinal para o estado de San Luis Potosí, que doou 220 hectares do terreno de 280 hectares para a Ford. O governo da cidade doou o resto. O presidente da Ford para as Américas, Joe Hinrichs, disse pouco depois do cancelamento que a empresa devolverá o terreno ao governo do México. A Ford planeja agora construir o compacto Focus, que seria feito em San Luis, em sua fábrica existente em Hermosillo, também no México.
Em uma tarde recente, o local ao longo do que é conhecido como corredor industrial estava abandonado, com a maquinaria pesada ociosa. Empresas contratadas como a Mapein foram avisadas para pegar seus equipamentos rapidamente antes que fossem saqueados.
“Não temos certeza do que fazer com o terreno”, disse Puente, do escritório de desenvolvimento econômico local. “Poderíamos recuperá-lo, mas não queremos ter um terreno pelo qual nem sequer pagamos, prefiro ter a liquidez do que um imóvel que podemos ou não ser capazes de vender”.
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