As cidades formam o ponto focal da economia criativa. É nelas que se formam as pequenas redes de profissionais que dão a vibração necessária para que as ideias se espalhem. É normal que algumas regiões se tornem conhecidas por determinados produtos culturais, em uma imitação do que ocorre com a economia tradicional. Só que ao invés de serem famosas pela fabricação de itens palpáveis, como os carros que colocaram Detroit no mapa, as cidades ganham destaque por seus designers, arquitetos, programadores e chefs de cozinha.Um dos reconhecimentos da importância das cidades como o ambiente da criatividade foi a criação da Rede de Cidades Criativas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em 2004. Até agora, 19 municípios de 14 países já receberam a chancela para participar da rede, que tem como objetivo criar uma plataforma global para estimular o desenvolvimento de empreendimentos baseados na cultura.Quase todas as cidades escolhidas até agora ficam em países desenvolvidos. Estão entre elas Berlim, na Alemanha, que se destaca pelas atividades de design, e Lyon, na França, que entrou na categoria de mídia artística. No mundo em desenvolvimento há três cidades Shenzen, na China, e Buenos Aires, na Argentina, estão no grupo de design, enquanto Popayan, na Colômbia, é, por ora, a única selecionada no ramo da gastronomia.ProjetosExistem cidades que estão montando projetos fora do circuito da Unesco. Vancouver, no Canadá, organizou um novo plano em 2008 para fazer da cultura um motor do desenvolvimento local. Boa parte do trabalho está em fazer com que as pessoas reconheçam a região como um centro cultural ativo e que isso se traduza em um ciclo de investimentos na indústria criativa. Em Portugal, Lisboa está montando um projeto parecido para canalizar incentivos a uma promissora economia baseada na criatividade. No Brasil, houve debates recentes sobre o tema em Porto Alegre e Belo Horizonte, e São Paulo prepara um estudo para ver a viabilidade de usar o conceito.
"Precisamos delimitar e mensurar os setores da economia criativa, ver quanto eles geram de valor e empregos", conta Aurílio Sérgio Costa Caiado, assessor da Fundação de Desenvolvimento Administrativo do Estado de São Paulo (Fundap) e coordenador do trabalho. Também estão sendo feitos estudos sobre três eventos da indústria criativa, entre eles a São Paulo Fashion Week. "O setor da moda é um dos mais organizados na cidade e é um exemplo para outros segmentos. Também olhamos para cidades no exterior, que possam transmitir experiências", completa.
Um dos casos citados por Caiado é a cidade de Montreal, no Canadá. Ela é um centro produtor de desenhos animados e integra a rede da Unesco no grupo do design. Ali, essa indústria surgiu de maneira espontânea, mas teve um empurrão do setor público, que reformou uma área degradada para receber empresas criativas.
"O Brasil ainda não tem política para a economia criativa, apenas iniciativas setoriais. Existem diversos conteúdos culturais do país que poderiam ser melhor aproveitados", diz Caiado. A publicidade e o carnaval, por exemplo, poderiam ser geradores de exportações. No primeiro caso, dos serviços de planejamento e criação de agências, e no caso do carnaval, de eventos. "Vender espetáculos, música, desenhos animados para fora faz parte da economia criativa", completa.
Em Curitiba, o projeto mais próximo do conceito de cidade criativa é tocado pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), em parceria com a Fundação Opti, da Espanha. A ideia é organizar Curitiba para que ela se torne uma espécie de "fábrica de inovações" urbanísticas, de infraestrutura, tecnológicas e sociais, o que seria um novo vetor para o desenvolvimento econômico da região. Para dar embasamento ao projeto, Curitiba receberá neste ano uma conferência internacional sobre cidades inovadoras.