Na última década, a capacidade humana de criar ideias com utilidade para a sociedade se transformou em matéria-prima para um grupo de especialistas que veem na criatividade a grande tendência para a economia global. Esse movimento se baseia no conceito de "economia criativa", que designa atividades que dão valor central ao que pensam seus profissionais. Estão na lista arquitetos, designers, músicos, desenvolvedores de softwares e até chefs de cozinha.A economia criativa ganhou vida própria quando passou a ser alvo de políticas públicas. A Austrália foi a primeira a lançar um programa para estimular setores ligado ao "mundo das ideias", em 1994. Tinha como objetivo atrair profissionais talentosos que pudessem transformar o país em um exportador de serviços qualificados, como publicidade e produção de softwares. Em 1997, o primeiro-ministro britânico Tony Blair comprou o conceito e criou uma área dentro Departamento de Cultura para monitorar 13 setores tidos como estratégicos no ramo criativo. Em 2009, a Alemanha formulou sua política para ver se deixa de lado o termo "Made in Germany" para estampar em seus produtos um pomposo "Created in Germany".A relação entre economia e criatividade não é novidade estava presente nas invenções que levaram à Revolução Industrial, e na linha de montagem de Henry Ford, por exemplo. Na primeira metade do século 20 o economista austríaco Joseph Schumpeter ficou conhecido pela teoria da "destruição criativa", que ressalta a capacidade de negócios inovadores tomarem o lugar de empresas antiquadas. Mas o conceito de economia criativa tem uma diferença sutil da inovação tradicional: ele foca as atividades baseadas na criatividade e não qualquer invenção ou melhora produtiva.
Estratégia
"O que se fez na década de 1990 foi uma proposição em prol da revitalização de determinadas economias nacionais que estavam em ampla crise desde a década de 1970", diz Vladimir Sibylla Pires, um especialista no assunto e diretor de relações corporativas da grife Osklen. "Os governos fizeram um recorte para estimular aquelas indústrias identificadas como as mais dinâmicas naquele contexto de estagnação." Entre elas estavam o design, a moda e a arquitetura.A valorização da criatividade chegou aos Estados Unidos no início desta década. Em 2000, a revista de negócios BusinessWeek defendia que as grandes empresas do século 21 seriam aquelas baseadas em ideias profecia ainda a ser realizada, já que a maior empresa do mundo no ano passado segundo a revista Fortune, era a petroleira Shell. Em 2001, o economista John Howkins lançou o livro The Creative Economy (A Economia Criativa) e deu origem a uma série de trabalhos acadêmicos.
Nos últimos anos, os economistas têm tentado entender os fatores por trás do florescimento da indústria criativa. O canadense Robert Florida chegou a desenvolver um método para comparar cidades norte-americanas. A mais aberta à criatividade é São Francisco, de acordo com o ranking que leva em conta o grau de instrução da população, sua diversidade, a presença de negócios de tecnologia e a qualidade do entretenimento.
"A economia criativa depende das pessoas para existir. Por isso, a educação é primordial para estimulá-la", diz o economista André Golgher, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Também são importantes variáveis que atraem pessoas qualificadas para uma região. Cidades com mais opções de entretenimento e mais abertas à diversidade de seus habitantes têm potencial maior."
Golgher adaptou a metodologia de Florida ao Brasil. Florianópolis e Niterói foram as cidades brasileiras com os melhores índices e foram classificadas como os lugares mais "quentes" para a criatividade. Curitiba ficou no segundo grupo, o de lugares com alta qualificação e bom entretenimento. Maringá e Londrina ficaram em um terceiro grupo, com alta proporção de trabalhadores na economia criativa, mas índices mais baixos de educação. Em um ranking que englobou apenas as regiões metropolitanas brasileiras, Curitiba ficou em quinto lugar, atrás de Florianópolis, Rio de Janeiro, Campinas e São Paulo. O Paraná, portanto, tem um bom potencial para desenvolver seu lado criativo o que fica claro nos exemplos que ilustram esta página.
Apesar de serem ainda medidas imprecisas, os trabalhos sobre economia criativa dão algumas direções para as políticas públicas que pretendem estimulá-la. A primeira é que é preciso educação de bom nível, o que inclui cursos sofisticados de pós-graduação. Também faz diferença criar um ambiente cultural de alta frequência, para a circulação de ideias e atração de pessoas que se encaixem no perfil criativo. Outra estratégia é acolher a diversidade cultural, racial e sexual.