A notícia da primeira redução na taxa básica de juros em quatro anos deveria ter sido o gatilho para análises mais otimistas a respeito da retomada da economia brasileira. Mas a verdade é que o Banco Central tomou uma decisão em tom morno, e ela logo foi sepultada por dados ruins da economia real e a prisão de Eduardo Cunha.
A incapacidade do mundo político de dar as respostas certas no tempo adequado é a razão para estarmos na atual recessão. Primeiro, as respostas foram erradas, dadas por um governo que acreditava em políticas anticíclicas eternas. Elas se sustentaram politicamente enquanto esteve no ar um esquema de corrupção cujos tentáculos ainda estão sendo conhecidos. Agora, no momento de se desmontarem os erros, é esse sistema quebrado que precisa achar a saída.
A falta de segurança do BC reflete a delicadeza geral do momento econômico. A percepção das pessoas e empresas vem melhorando desde abril ou maio, mas não porque elas acreditam que a economia está melhor, mas porque acham que no futuro ela estará melhor. E os meses estão passando sem entregar uma mudança muito forte nos dados da economia real. Não são só os membros do Copom, portanto, que acreditam que as coisas estão ainda se acomodando e que há muitos riscos no ar.
A prisão de Eduardo Cunha nos lembra do risco mais evidente. Parte muito relevante do Congresso está afundada até o pescoço no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato. São esses políticos que precisam votar as reformas mínimas para a estabilização da vida econômica brasileira. Os jantares do presidente Michel Temer para convencer congressistas a votar podem ser inúteis se uma delação de Cunha realmente colocar mais algumas dezenas de políticas sob investigação. O próprio Temer pode ver sua administração corroída por novas denúncias.
Outros riscos estão fora do país. A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos está ficando menos provável, mas só será passado quando ele realmente for derrotado nas urnas. O Brexit ainda nem começou e suas consequências não são previsíveis. A China cresce, só que não se livra das avaliações que há ali uma bolha pronta a estourar. Até o mercado acionário americano virou um risco – está valorizado à espera de lucros que podem não se concretizar no ano que vem.
E por fim há os riscos normais de se fazer negócios no Brasil. O país continua pouco produtivo, com educação capenga e uma burocracia incompreensível. Aqui, os enroscos tributários e jurídicos são maiores do que na maioria dos países emergentes. Não podemos tratar a PEC que limita os gastos públicos como o grande projeto que vai impulsionar o crescimento do Brasil. Não é. A tarefa de arrumar o país vai levar anos
Dentro dos limites permitidos por todos esses riscos, a redução dos juros é, claro, um marco importante. Coincide com uma fase que antecede a volta do crescimento. A inflação vai continuar caindo e a confiança vai fazer o trabalho de elevar um pouco o investimento. Devagar, voltaremos a viver em um país quase normal, como sempre.
Em alta
Dados da Secretaria do Tesouro confirmaram que a maioria dos estados está em dificuldades financeiras. E o problema vai aumentar nos próximos anos com o déficit previdenciário.
Em baixa
Pela primeira vez desde 2012 o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros. Ela caiu de 14,25% ao ano para 14% ao ano, abrindo um movimento que deve continuar nos próximos meses.
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