A retração do PIB no terceiro trimestre apagou qualquer esperança de saída mais rápida da crise econômica. O Brasil, na verdade, ficou amarrado por sua combinação peculiar de crise política e déficit público.
A mudança de governo, pelo menos, fez com que o debate econômico voltasse à normalidade. Até o início do ano, havia muita gente defendendo, dentro e fora do governo, soluções alternativas, muitas delas com consequências imprevisíveis. Havia, por exemplo, a tese de que era necessário deixar o dólar ir a R$ 5 e chutar para o alto a meta de inflação.
A equipe de Meirelles ganhou crédito. Durante alguns meses, a confiança melhorou e alguns indicadores da economia real ficaram menor ruins. Muita gente no mercado começou a prever um crescimento bom, de 2%, no ano que vem. Sua proposta de controle dos gastos públicos no longo prazo está sendo aprovada no Congresso.
Mas isso foi pouco. A política econômica não foi ágil o suficiente para mudar profundamente as expectativas. As empresas e os consumidores ainda estão desconfiados diante de um sistema político caduco, preocupado antes de tudo com sua autopreservação. O cenário externo piorou. Depois do Brexit, a eleição de Trump e, agora, a alta nos preços do petróleo. A incerteza é maior do que dois meses atrás.
No mesmo dia em que saiu o PIB, o Banco Central decidiu que baixar os juros em 0,25 ponto percentual. Nem o BC teve convicção suficiente, diante dessas incertezas, de que era hora de a política monetária fazer a sua parte. Mas este era o momento de a sua política ser protagonista, sem que isso soasse como uma das saídas mirabolantes que eram propostas há alguns meses. Com a inflação em queda e a atividade parada, não há mais razão para a taxa real de juros no Brasil ficar acima de 8% ao ano.
No fundo, o BC ainda paga por erros do passado, quando a política monetária ficou desacreditada por baixar os juros à força. Não seria o caso neste momento em que as contas sobre a atividade econômica estão todas sendo refeitas para baixo. O BC deveria acelerar a redução dos juros e deixar mais clara sua disposição de absorver choques externos pelo tempo que o país precisar para voltar a equilibrar as contas públicas. O único risco inflacionário hoje está na combinação entre câmbio e preço do petróleo e uma mensagem forte do BC mitigaria esse risco.
Com isso, o país poderia virar o ano com uma perspectiva de redução forte dos juros, sem dar ao governo motivo para flertar com medidas anticrise que possam dificultar a coordenação entre políticas monetária e fiscal. Esse risco, embora menor, ainda existe.
O corte dos juros por si só não seria suficiente para mudar o ritmo da reação da economia, mas sim para evitar que tenhamos outro ano de retração em 2017. Colocada diante do risco pequeno de descumprimento da meta de inflação no ano que vem, essa possibilidade deveria ter sido levada em conta pelo BC.
Os primeiros dados antecedentes da atividade no quarto trimestre são assustadores. Podem não ser tão ruins quanto há um ano, mas ainda assim não alimentam esperanças: produção de insumos básicos, circulação de caminhões, produção industrial estão todos ainda em terreno negativo na comparação com 2015. É a hora de o BC agir.
Em alta
Os países que fazem parte da Opep conseguiram chegar a um acordo para reduzir a produção de petróleo. A decisão deve fazer com que o preço do petróleo suba. Só não se sabe quanto.
Em baixa
A taxa de investimentos caiu para o menor nível em 13 anos – foi de 16,5% do PIB no terceiro trimestre. A retração no investimento é um dos fatores que estão atrasando o fim da recessão.
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