O Brasil tem uma das economia mais fechadas do mundo. É um fato, não folclore, como diz o ministro de Relações Exteriores, José Serra. Como economista, ele deveria olhar de frente os números e depois debater o que significam.
A maneira mais usada para se medir a abertura comercial é a partir do tamanho da corrente de comércio em relação ao PIB. Segundo os dados do Banco Mundial, o Brasil tem a segunda menor proporção do mundo, à frente do Sudão.
Em alta
Amancio Ortega, dono da Zara, foi apontado pela Forbes como o homem mais rico do mundo na quarta-feira. Pelo menos temporariamente, sua fortuna, de US$ 79 bilhões, superou a de Bill Gates,
Em Baixa
Pelo segundo ano, a CNC projeta uma queda nas vendas do comércio no Natal. A expectativa é que haja um recuo de 3,5% neste ano. No período, devem ser criados 135 mil empregos temporários.
Há outros indicadores que corroboram a tese do fechamento do mercado. Em 2013, o país foi o líder global na aprovação de medidas antidumping – sobretaxas sobre produtos que estariam competindo de maneira desigual no mercado global. No ano passado, foi o segundo colocado, atrás apenas da Índia. Em dois anos, foram mais de 60 medidas. É como se o mundo estivesse perseguindo de maneira ilegal o mercado brasileiro. Uma batalha suja por um país que representa menos de 1% do comércio internacional. Algo inverossímil.
A tarifa média de importação no Brasil era de 12,9% em 2012, segundo um estudo recente do Ipea que comparou a proteção comercial brasileira com a de outros países. Na Argentina era de 7,69% e na China, de 6,93%, segundo o trabalho. Ficamos parados no nível de proteção comercial dos anos 90.
Negar o fato de a economia brasileira ser fechada cria uma nuvem em um debate que está entre os mais quentes no mundo econômico. A teoria de que os países ficam mais ricos quando abrem suas economias tem mais de 200 anos e é bastante convincente. A matemática é simples e o Brasil precisa debater se quer ou não usá-la a seu favor.
Talvez Serra tenha apelado para o discurso do folclore como forma de expressar sua opinião a respeito da abertura comercial. Sim, ele pode dizer que não acredita que o Brasil seja mais pobre ou menos desenvolvido do que seria no caso de a economia ser mais aberta. Isso é diferente de escapar do debate com a saída mais fácil, que é dizer que a defesa de uma maior abertura se baseia em folclore e não em fatos.
Em uma dessas contradições que são normais na academia, há muita discussão sobre a existência de provas empíricas de que a abertura comercial provoca o crescimento ou o desenvolvimento econômico. A melhor resposta parece ser que isso depende do momento e do lugar.
O desenvolvimento nunca é fruto de uma única variável. Tanto é assim que os Estados Unidos são, ao mesmo tempo, a maior economia e uma das mais fechadas pelo critério da corrente de comércio. Sua economia é tão grande, diversificada e moderna que o comércio tem peso pequeno no PIB.
Na prática, os países usam uma combinação de políticas para buscar o crescimento sustentável. Eles usam instrumentos de mercado ao mesmo tempo em que regulam atividades econômicas, fazem acordos comerciais ao mesmo tempo em que protegem uma ou outra indústria.
No caso do Brasil, a estratégia do isolamento não funcionou e é preciso repensá-la. O país ficou para trás no processo global de abertura comercial. Negociou poucos acordos, cedeu a lobbies setoriais e está em uma posição vulnerável diante de competidores. É pouco competitivo e não tem pernas para crescer desconectado do mundo.
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