A capa da revista Exame desta quinzena foi alvo de críticas iradas nas redes sociais. O astro Mick Jagger foi escolhido para ilustrar uma reportagem sobre o trabalho na terceira idade. Era melhor que as pessoas tivessem lido o texto antes de criticá-lo como uma defesa da reforma da Previdência proposta pelo governo Temer.
O que a revista argumenta, com razão, é que a longevidade com qualidade de vida abre novas possibilidades de trabalho para quem envelhece. E, como o envelhecimento da população é estrutural e compromete sistemas generosos de aposentadoria, isso vale até para quem imagina que o ideal de vida é parar de trabalhar aos 50, 55 anos.
Há portanto duas questões que correm juntas: estamos vivendo mais e isso faz com que tenhamos de trabalhar mais antes da aposentadoria; estamos envelhecendo com mais qualidade de vida, o que permite que a vida ativa seja também mais longa. Se Mick Jagger ilustra bem ou não a questão, não vem ao caso.
O Brasil gasta hoje quase 11% do PIB em aposentadorias e pensões. Estão na conta o INSS, servidores públicos e militares. Hoje, aproximadamente 12% da população está na terceira idade. Na Alemanha, onde os idosos são 30% da população, o gasto previdenciário é também de aproximadamente 11% do PIB. Se nada mudar, quanto o Brasil vai gastar em 2050, quando sua população idosa será semelhante à da Alemanha? Essa é a pergunta que precisa ser respondida imediatamente, tendo o governo dinheiro para pagar a conta ou não (não, não tem, mas mesmo se tivesse, a pergunta continuaria válida).
Vamos ter de trabalhar por mais tempo. Ao mesmo tempo, teremos de fazer poupança por conta própria ao longo da vida produtiva. Duas tarefas que não são nada fáceis. Muita coisa terá de mudar no país, a começar pela forma como encaramos nossas carreiras.
Para essa transição demográfica funcionar, termos de estudar por mais tempo e talvez ter mais de uma carreira ao longo da vida. O mercado de trabalho terá de aceitar a presença de funcionários mais velhos e aproveitar a experiência a seu favor. No caso do Brasil, teremos de acelerar o processo de elevação da produtividade, com melhorias rápidas e relevantes na educação para que os salários possam subir mais rapidamente nas próximas décadas. Sem isso, corremos o risco de envelhecer em um país pobre.
Não fez o mesmo sucesso a capa da Economist desta semana, que trata de assunto parecido. A tecnologia impõe o desafio de se aprender muito ao longo da vida e ele não é simples. Tende a beneficiar as pessoas que já estão entre as mais ricas e educadas. Estabelecer sistemas de treinamento para todas as idades deve ser uma prioridade de governos e empresas para que a tecnologia não aumente ainda mais a desigualdade.
Em um país que encabeça o ranking da desigualdade, essa é uma questão ainda mais urgente e começa pelos mais jovens. Eles precisam ser preparados para uma vida de aprendizado e de carreira longa. Isso não é uma invenção de quem defende a reforma da Previdência.
Em alta
O país está chegando à marca de 7 mil sistemas de geração de energia solar instalados em residências e empresas. É um número quatro vezes maior do que o existente em 2015.
Em baixa
A taxa de juros caiu para 13% ao ano e vai aliviar a conta do governo com a rolagem da dívida. Também vai aliviar os gastos de quem tomar crédito: os bancos anunciaram taxas menores.
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