As empresas brasileiras cortaram onde deu para resistir à crise, inclusive em pesquisa e desenvolvimento. E isso é um problema quando a recuperação chegar e elas não tiverem novas ideias para colocar no mercado. A redução da inovação vai comprometer a qualidade e o ritmo da recuperação a partir do segundo semestre deste ano.
A pesquisa trimestral sobre inovação feita pela ABDI referente ao primeiro trimestre de 2016 mostra que apenas 37% das empresas industriais inovaram em produtos ou processos. É dez pontos percentuais abaixo do nível do fim de 2014. Menos de 30% das empresas inovaram em produtos, sendo menos de 10% com inovações em produtos para o mercado nacional.
Como a recessão foi forte durante todo o ano passado, é muito provável que a queda no ritmo de inovação tenha prosseguido até o último trimestre. Talvez comece a se recuperar agora, mas não é uma garantia, já que há muitas empresas com dificuldade de caixa.
Ao mesmo tempo, o governo federal também precisou fazer ajustes em seus gastos, o que provavelmente reduziu o suporte para a inovação – não há dados consolidados sobre o ano passado, mas todo o investimento federal caiu nos últimos dois anos.
Assim, temos um cenário preocupante, em que menos empresas inovam e menos recursos públicos, importantes para dar apoio a investimentos de risco, estão à disposição da criação de novas ideias, produtos e processos.
O Brasil precisa acelerar seu processo de inovação se quiser aumentar a produtividade e a competitividade. Esse é um elemento complementar à capacitação da mão de obra – precisamos de pessoas com competências mais sofisticadas para produzir coisas mais complexas e inovadoras.
Um estudo recente do Ipea mostra que um terceiro componente terá de entrar em campo: a abertura da economia. O país vinha elevando, mesmo que muito gradualmente, seu gasto em pesquisa e desenvolvimento nos anos até a crise. O problema é que o gasto é concentrado em uma parcela ainda pequena de empresas e universidades. Essa concentração de poucos recursos é, segundo os autores do estudo, um efeito da combinação do fechamento do mercado doméstico à competição estrangeira, com a tradicional dificuldade de se fazer negócios no país.
O quebra-cabeça da inovação não depende só de dinheiro público, embora ele seja importante. Depende também da vontade das empresas de assumirem riscos. Sem competição e com toda a burocracia brasileira, elas não têm os melhores incentivos.
Na crise, experimentamos um dos efeitos da baixa inovação: os produtos industrializados brasileiros têm dificuldade de entrar em mais mercados mesmo quando o câmbio melhora. Houve, é claro, setores que aproveitaram para aumentar as vendas, como o automotivo, que se beneficia de cadeias globais de fornecimento e de acordos setoriais assinados pelo país. Mas não fomos muito além disso. São poucos os setores industriais de alta complexidade com produtos que têm inovação suficiente para se colocarem em posição de liderança no mercado global.
Em alta
O país vizinho foi citado no Fórum Econômico Mundial como um dos bons exemplos da América Latina. O país cresceu 3,5% no ano passado e deve repetir a dose, segundo o FMI, neste ano.
Em baixa
O Acordo Transpacífico (TPP) deve ser um dos primeiros a serem revistos pelo governo Donald Trump. Sem seu aval, é provável que a ideia seja completamente abandonada.
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