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Financês

A Copa da recessão

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Total anticlímax. Quanta expectativa em relação aos efeitos econômicos da Copa do Mundo... E quanta decepção com os resultados. Pior: julho se encerra com uma possibilidade real de o país passar por recessão em 2014. E recessão é ruim para todos. Significa menos empregos, menos consumo, menos negócios – menos chances de ganhar dinheiro, enfim.

A conversa começou a ganhar corpo ainda em fevereiro, com um alerta do economista Tony Volpon, diretor de pesquisa para mercados emergentes da corretora Nomura Securities. Em junho, o mesmo Volpon voltou a observar que o fim dos incentivos na política econômica dos Estados Unidos afetaria o Brasil, provocando uma saída de recursos de investidores internacionais, com chances crescentes de recessão.

Agora, especialistas de bancos e corretoras parecem concordar que o segundo trimestre apresentou um "encolhimento" do PIB. O que só vem a confirmar as sensações que comerciantes e industriais vêm compartilhando nas últimas semanas: perdi a conta de quantas vezes ouvi pessoas me contando que há muito tempo não tinham um período tão ruim em seu negócio. Na sequência das más notícias, o diretor para a América Latina da Moody’s Analytics, o mexicano Alfredo Coutiño, escreveu que a chance de um segundo semestre negativo é de mais de 50% (a Moody’s Analytics é o braço de análise de mercado da agência de classificação de risco Moody’s). E a definição técnica de recessão é essa: dois trimestres seguidos de variação negativa.

Nada disso (ainda) quer dizer que o país vá fechar o ano com PIB negativo – isso vai depender do desempenho dos dois últimos trimestres. Mas vale lembrar que entramos em 2014 num ritmo já bastante fraco. O crescimento de janeiro a março foi de apenas 0,2%. Se isso ocorrer, entretanto, será o primeiro país sede a registrar PIB negativo desde o México em 1986 – se bem que o crescimento econômico mexicano naquele ano foi severamente afetado pelo terremoto ocorrido em setembro de 1985, que matou perto de 10 mil pessoas e deixou perdas econômicas estimadas em US$ 4,3 bilhões.

Na verdade, a questão brasileira, assim como a mexicana, em 1986, não tem nada a ver com futebol. Aqui, o terremoto é de outro gênero – é, digamos, institucional. É resultado de uma persistente imprevidência no que se refere às políticas relacionadas ao crescimento, de um excesso de travas para a atividade empresarial e de uma estranha crença de que dar benefícios para a venda de automóveis é uma maneira simples de resgatar uma economia estagnada.

Também não seria um evento de quatro semanas que iria salvar um ano que começou ruim. Copa é bom (principalmente para quem pode assistir aos jogos, seja em casa ou, melhor, nos estádios), mas o excesso de expectativa é ruim. Talvez alguns frutos sejam colhidos nos próximos anos, como resultado de uma sensibilização de outros países em relação ao Brasil e às belezas naturais e inventadas que foram ao ar nos noticiários mundo afora. Mas será em regiões específicas e não deve gerar grande impacto sobre os números da sétima maior economia do mundo (sim, essa ainda é a posição do Brasil no ranking).

É bom que a lição seja aprendida, para que essa ansiedade toda não seja repetida daqui a dois anos, quando os Jogos Olímpicos não impulsionarem a economia nacional. Para o PIB crescer, o governo tem de investir em infraestrutura em vez de folha de pagamento, e a iniciativa privada tem de suar a camisa.

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