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Antes de mais nada, peço que o leitor não se assuste. Não há problemas com os bancos brasileiros – na verdade, eles vão bem até demais, tanto que o governo tem de brigar com eles para que eles reduzam o spread nos empréstimos e financiamentos. Ao contrário do que anda ocorrendo na Espanha, onde há instituições sendo estatizadas e precisando de ajuda do Banco Central Europeu, e do que ocorreu nos Estados Unidos em 2009, os bancos brasileiros em geral não têm problemas.

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Há, entretanto, alguns casos que chamam atenção. Teve o caso do PanAmericano, há pouco mais de um ano. E o do Cruzeiro do Sul, que foi submetido ao Regime Especial de Administração Temporária (Raet) na semana passada. O tal regime é uma forma branda de dizer que o banco não tem mais condições de se sustentar sozinho e precisa de uma intervenção do órgão regulador para que não provoque danos maiores aos seus clientes e ao sistema bancário como um todo. Mas, sim, o Banco Cruzeiro do Sul quebrou.

O leitor pode pensar se existem outras instituições correndo risco semelhante, já que o cenário econômico andou se deteriorando nos últimos tempos. Com base nas informações disponíveis – e são muitas, no site do Banco Central –, parece que não. Em todo caso, o investidor inteligente é aquele que sabe bem o risco que está correndo. Por isso é bom saber o que acontece se o banco quebrar.

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Cadernetas de poupança e contas correntes têm certo grau de proteção, mas até um limite. Essa proteção vem do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), uma espécie de condomínio formado pelos bancos nacionais, que serve para minimizar os danos ao cliente caso aconteça o pior. O FGC dá garantia a depósitos de até R$ 70 mil. O mesmo valor vale para outras aplicações, como as Letras de Crédito Imobiliário, que ganharam popularidade nos últimos meses.

Essa proteção significa que, em caso de quebra da instituição, o FGC será responsável por pagar ao cliente, até esse limite de R$ 70 mil. Esse limite é válido por CPF e por instituição. Assim, se um cliente hipotético tivesse duas contas no Banco Cruzeiro do Sul, cada uma delas com R$ 40 mil de saldo, receberia do FGC apenas R$ 70 mil. O restante entraria numa longa fila de credores e (provavelmente) seria pago depois de muita briga na Justiça. Isso não quer dizer que a situação toda seja confortável. Há algum trâmite burocrático, e receber do FGC não é como ir ao caixa automático e fazer um saque.

O melhor, portanto, é ficar longe de instituições "arriscadas". Em geral, o mercado costuma marcar os bancos que oferecem rentabilidades muito altas nos CDBs. Instituições com problemas precisam captar recursos e, muitas vezes, fazem isso oferecendo porcentuais altos a investidores que compram seus papéis. Os CDBs são negociados tendo como referência um porcentual do CDI, que é uma taxa interbancária cujos números costumam ficar bem próximos da Selic. Um banco grande, desses cinco ou seis que são líderes no mercado brasileiro, costuma pagar algo como 80% do CDI aos seus clientes – quanto maior for a aplicação, melhores são as chances de conseguir números maiores. Bancos de porte médio pagam mais: 90% a 95%, às vezes. Perto da sua liquidação, em 2005, o Banco Santos pagava perto de 240%.

Alguém está oferecendo uma remuneração muito mais alta do que a média? Procure mais informações. Pode ser que seja realmente uma boa oportunidade. Ou não.

Nível H

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O balancete do Banco Cruzeiro do Sul referente a março de 2012 está publicado no site do BC. É um documento técnico, apenas um relato das contas da instituição. Para quem fala financês, há informações relevantes por lá, em especial nas linhas que se referem à classificação de risco da carteira. Os dados revelam que as contas com atraso superior a seis meses – classificadas como "nível H" – quadruplicaram entre março de 2011 e março de 2012. Foram de R$ 20, 6 milhões para R$ 80,6 milhões. As operações nível G (empréstimos com atraso entre 151 e 180 dias) aumentaram de R$ 4,3 milhões para R$ 53,2 milhões, o que equivale a um aumento de 1.129%. Já as de nível F (atraso entre 121 e 150 dias) subiram de R$ 907 mil para R$ 28,6 milhões. Uma elevação de 2.485%. Já a carteira de crédito de boa qualidade, classificado como AA, encolheu dramaticamente, de R$ 40 milhões para R$ 311 mil.

A inadimplência do Cruzeiro do Sul foi às estrelas. Como foi que o Banco Central não percebeu?

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