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Financês

Dinheiro para dar

Veja a variação dos preços na categoria “Recreação” no Índice de Preços ao Consumidor Amplo |
Veja a variação dos preços na categoria “Recreação” no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (Foto: )

Há muitos benefícios em ter uma situação financeira organizada e saudável. E, por incrível que pareça, eles vão bem além do bem-estar do próprio dono da conta-corrente. Quer ver?

Em 2008, as pessoas físicas americanas doaram para instituições filantrópicas de diversas áreas US$ 229 bilhões, o equivalente a 2,2% do PIB. Para os olhos de um brasileiro, o número é impressionante, mas para eles não é nada tanto assim: esse foi considerado por especialistas por lá o segundo pior ano para as doações desde a Grande Depressão. A ideia de dar dinheiro para pessoas e instituições que fazem um bom trabalho faz parte da cultura local – há na internet vários sites, inclusive, dedicados a ajudar o contribuinte a decidir a quem vai dedicar seus dólares.

Isso quase não existe no Brasil. Há poucos estudos a respeito, o que já é um mau sinal. Em 1998, segundo a antropóloga Leilah Landim e a socióloga Maria Celi Scalon (do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e autoras de Doações e Trabalho Voluntário no Brasil), 21% dos brasileiros faziam algum tipo de doação, em dinheiro ou bens. Nos EUA eram mais de 70%. A doação média no Brasil era de R$ 158,00 por ano.

Assim, por melhores que sejam as intenções e o desempenho da organização, ela acaba por tornar-se dependente em larga escala do Estado, que não consegue nem quer apoiar todas as iniciativas. A Pastoral da Criança, instituição que certamente sentirá a falta da liderança da médica Zilda Arns, pode servir de exemplo. Sua demonstração financeira do período outubro de 2008-setembro de 2009 mostra que, de uma receita bruta de R$ 44,3 milhões, R$ 33,9 vieram do Ministério da Saúde. As doações das pessoas físicas somaram cerca de R$ 5,3 milhões – R$ 3 milhões provenientes do Cartão Solidariedade do HSBC, que inclui uma mensalidade de R$ 10,00 a R$ 30 para a instituição; e R$ 2,6 milhões em parcelinhas cujo débito milhares de pessoas pelo país autorizam em suas contas de energia, a partir de R$ 1,00 ao mês.

O objetivo desta coluna não é comentar as finanças da Pastoral, mas observar que ela e outras instituições poderiam fazer muito mais se os brasileiros cuidassem melhor do seu dinheiro. Quem está devendo o equivalente a dois salários no cartão de crédito, por exemplo, não tem condições de doar nada. Assiste ao noticiário, fica compungido com situações que demandam doações – crianças pobres no Natal, as inundações em Santa Catarina e em Angra dos Reis, o pobre povo haitiano etc etc etc –, mas não pode fazer nada para ajudar.

A tradição americana costuma sugerir que as pessoas se organizem de forma a ter no orçamento duas reservas: uma para poupar e outra para doar (esta última inclui as obrigações que muitos assumem com suas igrejas, como o dízimo, e por isso sugere-se que seja de, no mínimo, 10% da receita líquida). Pode-se aprender com ela.

Voluntariado

Que bom que, no caso da Pastoral da Criança, não se vive só de dinheiro. Desde o início ela se baseia no trabalho de voluntários, com apoio da Igreja Católica. Uma contribuição valiosa, por sinal: se fossem remunerados, os voluntários da Pastoral teriam custado R$ 112 milhões no período passado.

Ingresso caro, mesmo!

Tem dado o que falar o preço dos ingressos nos estádios de Curitiba – os leitores do caderno Esportes que o digam. Pelo ponto de vista objetivo da Economia dá para dizer que, no ano passado, a cidade teve a segunda maior alta: 24,7%, contra 26,28% em Porto Alegre. Em 2008, a alta também havia sido forte: 40,72%. Ou seja: em dois anos, a alta acumulada foi de 75,5%. De longe, a maior do país. Os dados são do IBGE e fazem parte da pesquisa de preços do IPCA, cujo índice de 2009 saiu na semana passada. Aliás, é bom observar que a inflação do ano passado ficou em 4,31%. Ou seja, os preços em geral subiram beeem menos que o discutível espetáculo que os clubes locais têm apresentado.

Ah, só lembrando: esses números não incluem o aumento deste mês.

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