Corria o ano de 1982. O Brasil encerrara dois anos antes o período do "milagre econômico" e se recuperava de uma recessão braba (no ano anterior, o PIB havia recuado 4,25%) quando o México decretou moratória, dando início a uma temporada de notícias semelhantes mundo afora. Credores internacionais passaram a olhar o país com lupa, cortaram linhas de crédito e a economia nacional passou maus bocados. Dos dez anos seguintes, de 1983 a 1992, o país fechou quatro em recessão. A crise da dívida arrastou o Brasil, que também suspendeu o pagamento de suas dívidas cinco anos depois, em 1987.

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Em 2001, a Argentina passou por mais uma de suas recorrentes crises econômicas. Antes mesmo de isso acontecer, bancos internacionais já estavam aconselhando seus clientes a reduzirem também sua exposição ao Brasil – o que nem fazia tanto sentido assim na época: o país passava por um período de nove anos de crescimento e havia domado a inflação.

Chegamos a 2014, e, novamente, temos crise na vizinhança. Viveremos dificuldades por causa dela – afinal, a Argentina perdeu importância na balança comercial brasileira, mas ainda é o terceiro maior destino das nossas exportações, respondendo por 6,7% nas vendas no primeiro semestre. Mas as maiores dificuldades virão de nossas próprias deficiências.

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Tudo indica que o PIB encolheu no período de abril a junho e as coisas não parecem melhores neste terceiro trimestre – não é nem preciso esperar o IBGE para saber disso, basta sair às ruas e bater um papo com comerciantes e industriais, pequenos ou grandes. Além disso, o mercado financeiro já antecipa o fim dos incentivos do governo americano, que fará com que os juros por lá subam. Como consequência, o mercado brasileiro vai perder um tanto de sua capacidade de atrair investidores internacionais.

A crise argentina agrega um risco a mais para o cenário da "tempestade perfeita" de que vem falando desde fins do ano passado o ex-ministro Delfim Netto – um agregado de fatores que levaria a um aumento nas cotações do dólar, a uma redução no crédito bancário e a um forte aumento nas taxas de juros. Todas essas ocorrências contribuiriam para sabotar ainda mais o crescimento.

O resultado pode ser aumento no desemprego e uma recuperação ainda mais lenta para as dificuldades deste ano.

O mercado e o terror

Já faz algum tempo que a coluna vem alertando sobre o risco de a economia e política se misturarem neste segundo semestre, em consequência de uma radicalização exagerada. O que me surpreende é que não é só de criação de boatos e de discursos que essa radicalização vem se moldando. O mercado vem embarcando com força. Primeiro foi o caso do Santander, que, em relatório para clientes, observou que a reeleição de Dilma resultaria em deterioração dos fundamentos macroeconômicos. Agora, a questão envolve a Empiricus Research, uma casa independente de análise de mercado que construiu uma boa fama desde sua recente criação, em 2009. Em parte, essa fama veio de relatórios em linguagem direta e mordaz – a mesma linguagem que, agora, gera polêmica ao apontar que o Brasil está "à beira do precipício", em uma série de documentos intitulados "O fim do Brasil".

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Caro leitor, não se deixe levar nem pelas análises pessimistas da oposição, muito menos pelo otimismo vazio do governo – este construiu sua falta de credibilidade ao fazer previsões oficiais para o crescimento do PIB sempre dois ou três pontos porcentuais acima da realidade. Forme sua opinião e baseie nela seus investimentos.

E não se esqueça de ser consciente na hora do voto.

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