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Enchendo a bolsa

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Semana passada, depois de uma sessão de cinema, vi na praça de alimentação de um shopping center uma cena daquelas que valem uma foto. Infelizmente não tinha uma câmera na hora, mas posso descrever o que vi: dois rapazes conversando em torno de uma mesinha, com um notebook aberto mostrando algumas planilhas e um livro ao lado. O título: "Como investir em ações".

Não parei para falar com eles, mas guardei a imagem na cabeça, como um símbolo da tal popularização da bolsa, de que tanto se anda falando (inclusive aqui nesta coluna). Alguns números para refrescar a memória:

- o número de pessoas físicas registradas para operar na bolsa subiu de 85 mil em 2002 para 550 mil em fins do ano passado;

- o patrimônio dos clubes de investimentos – um dos instru­men­tos mais "fáceis" para entrar na bolsa – dobrou desde 2005, e en­­cer­­­rou o ano passado em R$ 13,6 bi­­­lhões. E olha que ele andou até encolhendo, durante o período da crise de 2008;

- a média diária de negócios pelo home broker (o sistema de negociação via internet da Bovespa) dobrou entre dezembro de 2007 e dezembro de 2009, atingindo 228 mil operações.

No ano que passou, esses investidores não tiveram muito do que reclamar. As perdas causadas pela crise das hipotecas dos EUA ficaram para trás e ganhar dinheiro não foi tarefa muito complicada. O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, subiu 82,7%.

Isso não significa, é claro, que este ano será igual. Pelo contrário: um ditado muito usado no mercado diz que investir pensando nos resultados passados é como dirigir olhando apenas pelo espelho retrovisor.

O investidor brasileiro está bem mais maduro do que em ocasiões anteriores. Olhando para os números, é possível perceber que as pessoas físicas aumentaram participação no mercado justamente na crise, quando os investidores estrangeiros venderam em massa seus papéis. "Os estrangeiros tinham razões para isso, eles precisavam cobrir as perdas que estavam tendo em seus mercados de origem e aqui havia liquidez", diz o economista Mário de Almeida, da Gradual Investimentos. "Mas, no fim, foram eles que venderam na baixa e agora estão comprando na alta." Ponto para as pessoas físicas brasileiras, que não se assustaram com a encrenca e agiram direitinho.

Mesmo assim, ainda há muito o que aprender. Na sexta-feira, o jornal paulista Valor Econômico publicou reportagem mostrando que perto de 70% dos investidores brasileiros deixaram de pagar o IR devido pelas operações com ações. A Receita está vigilante, e a chance de esse descuido fi­­car por isso mesmo está cada vez menor.

Para quem não sabe, o IR sobre operações na bolsa é de 15% sobre o lucro obtido, e deve ser pago men­sal­mente por quem fez vendas superiores a R$ 20 mil. E o valor da venda de ações deve ser apurado somando o valor de todas as operações do mês. Assim, alguém que tem patrimônio de R$ 5 mil, mas faz operações frequentes de compra e venda, pode chegar fácil a esse valor.

Essa é uma das armadilhas a que está sujeito o investidor despreparado. Há outras. Melhor tomar cuidado.

Tajiquistão, Tonga, Haiti e Brasil

Imagine viver em um lugar onde boa parte dos recursos vem de remessas de dinheiro enviadas por emigrantes que vivem no exterior. Isso existe – no pobre Haiti, destruído pelo terremoto, quase 19% do PIB é enviado por trabalhadores haitianos vivendo em lugares como Estados Unidos, França e Canadá. Mas há lugares onde a dependência é ainda maior. No Tajiquistão, líder desse estranho ranking, metade da força de trabalho mora no exterior e 49,6% do PIB vem de fora (da Rússia, principalmente). No Reino de Tonga, na Oceania, 38% do dinheiro vem do exterior. No Brasil, as remessas nunca foram tão grandes: US$ 4,9 bilhões (mais de três vezes as do Tajiquistão), que correspondem a 0,3% do PIB.

Por outro lado, estrangeiros vivendo no Brasil enviaram a seus países de origem US$ 1,2 bilhão em 2008 (último dado disponível). Isso pode surpreender muita gente, mas – segundo o Banco Mundial – 47% das remessas globais vêm de países em desenvolvimento, enquanto que os países ricos membros da Organização para Coope­ração Econômica e Desenvol­vimento (OCDE), respondem por 41%. E isso tende a aumentar. Em 2008, remessas que tinham os Estados Unidos como origem cresceram 3,37% em relação ao ano anterior. Já o envio de dinheiro feito por estrangeiros a partir do Brasil cresceu 33%. Fale conosco

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