Veja os números de venda dos carros nos cinco primeiros meses dese ano| Foto:

Você já parou para pensar por que às vezes é tão difícil economizar? Por que é que, mesmo com um levantamento das despesas pessoais e familiares na ponta do lápis, parece tão dolorosa a tarefa de escolher o que pode ser cortado?

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A resposta é, como diriam nas pizzarias, mezzo economia, mezzo psicologia – mas o tempero mais forte é o da psicologia. Desde que inventaram as calculadoras, lidar com números é simples. Complicado é mexer com expectativas, sonhos, formas de ver a vida. É com essa área que a poupança mexe.

Guardar dinheiro significa, basicamente, abrir mão de algum conforto ou alegria no momento atual para desfrutar de um benefício futuro, pessoal ou coletivo. A psicóloga Márcia Tolotti, autora do livro As armadilhas do consumo (editora Campus Elsevier), lista pelo menos três razões para as pessoas lidarem tão mal com essa questão.

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A primeira diz respeito a uma espécie de "complexo de pobreza". "Essa categoria inclui pessoas que têm consciência de que deveriam poupar, mas que não o fazem porque isso as remete a uma situação de inferioridade, como se poupar dinheiro fosse coisa a ser feita apenas por pessoas menos favorecidas".

A segunda razão está numa característica da sociedade atual, que valoriza a abundância e menospreza a capacidade de viver com pouco. "Economizar é como andar na contramão dessa lógica do excesso", opina a psicóloga. Como consequência, muita gente teme ser mal vista pelo seu círculo de amizades caso os outros saibam que estão cortando gastos.

Finalmente, há a falta de um pensamento de longo prazo. Esse longo prazo pode estar relacionado com questões pessoais – poupar para a velhice, por exemplo – ou sociais (economizar energia ou combustível em nome de metas ambientais).

Quem liga para o futuro?

O problema é como as pessoas imaginam esse tal futuro. Quando será? Será que o esforço de poupar agora vai ser recompensado no futuro, ou será que eu vou ficar decepcionado com o resultado?

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A questão é tão antiga quanto a humanidade. O leitor diligente encontrará um ponto de vista, por exemplo, na poesia de Horácio ("Colhe o dia e não deposites confiança no futuro", escreveu, provavelmente no século 1 a.C.), e outro no livro bíblico de Eclesiastes ("Se, pois, o homem viver muitos anos, regozije-se em todos eles; contudo lembre-se dos dias das trevas, porque hão de ser muitos").

Para Márcia Tolotti, esse comportamento não é inerente à humanidade, mas social.

"O ser humano busca a imortalidade de várias formas, pela religião, pela realização de obras que sobreviverão a elas. Mas as pessoas hoje estão preocupadas em realizar muito, e muito rápido. Isso vem da cultura imediatista que vivemos", opina.

Autoexame

Se você, leitor, está diante de seu orçamento doméstico mas não consegue fazer os cortes necessários para pôr as contas em dia, mude o olhar. Quem sabe aquela despesa que você considera essencial seja, na verdade, importante apenas por uma questão de status. Ou que é perfeitamente possível morar em um apartamento menor ou ainda dirigir um carro mais baratinho.

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Não olhe para a planilha, mas para si mesmo. Pode ser que ajude.

O papelão do IPI

Em março, esta coluna observou que o governo federal estava agindo mal ao não esclarecer seus planos a respeito do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Há alguns dias, o editor de Economia, João Paulo Pimentel, voltou ao assunto. Dizia, com razão, que o governo fazia questão de embaralhar o assunto.

Pois bem: ontem o ministro Guido Mantega anunciou, com a maior cara lavada, que a redução do IPI seria prorrogada. Não custa nada lembrar de uma frase anterior do próprio Mantega, dada há umas três semanas: "A desoneração termina este mês. Se você está pensando em adquirir um automóvel, aproveite a oportunidade, porque os preços ainda estão reduzidos". Ao falar uma coisa e fazer outra, o ministro induziu o cidadão a tomar uma decisão apressada, que pode não ser a melhor.

Fazer políticas anticíclicas (ou seja, impor medidas capazes de inverter um ciclo de baixa da economia) é uma coisa. Trabalhar em conjunto com o marketing das montadoras é outra, bem diferente e injustificável.

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Aliás, as multinacionais do ramo têm verba para pagar garotos-propaganda muito mais bem-apessoados. Dá até para imaginar o ministro num comercial de automóveis dançando numa concessionária ou surfando com um cachorro-peixe.

Que papelão, Mantega!

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