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Conversando com um gestor de recursos, depois da operação de salvamento do banco PanAme­­ri­­cano, ouvi uma história surpreendente. No ano passado, um cliente desse consultor precisou resgatar recursos que estavam investidos em um fundo do PanAmericano. O resgate – algo simples, que ocorre todos os dias – teve de ser parcelado. O tal cliente, sem opções, aceitou.

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Esse é um sinal de que as coisas iam bem mal no PanAme­­ri­­cano. Mais um sinal, aliás: observadores acreditam que o fato de a instituição estar pagando perto de 110% do CDI para os clientes de seus CDBs era um indício de que o PanAmericano estava muito necessitado de caixa. Esses eram temas comentados a boca pequena entre os participantes do mercado, macacos velhos. Como macacos velhos também são os reguladores do mercado, o pessoal do Banco Central. Como é que ninguém ouviu nada sobre isso?

Essa é mais uma das dúvidas que pairam sobre o caso. Sei que o leitor já deve estar meio cansado de ouvir sobre isso, mas é preciso repetir: muita gente ficou mal com essa história do PanAme­­ricano. O BC, por não ter visto nada; as auditorias, que não detectaram um rombo de R$ 2,5 bilhões; a Caixa Econômica Federal, que comprou metade do capital votante de uma companhia que quebrou meses mais tarde. Só quem parece ter saído com a imagem ilesa é, paradoxalmente, quem assumiu o maior prejuízo. Silvio Santos, que terá de pagar pelos R$ 2,5 bilhões emprestados pelo Fundo Garan­­tidor de Crédito, ganhou o respeito de muita gente ao dizer que vai honrar cada centavo, ain­­da que tenha de vender a maior parte de seu patrimônio para isso.

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Não vou me estender mais sobre o assunto – até porque o Fundo Garantidor de Crédito é o tema da reportagem abaixo –, mas a situação do PanAmericano serve para lembrar que o risco ainda está presente no Sistema Financeiro Nacional. É bom saber que há uma instituição capaz de assegurar que os correntistas e investidores não terão perdas em decorrência da má administração de instituições financeiras; mas o seguro, como dizem, morreu de velho. Se pu­­der, mantenha suas aplicações em CDBs abaixo do teto de cobertura do FGC, que é de R$ 60 mil por CPF, principalmente se eles não forem de bancos top.

E a imprensa?

A antiga Lei de Imprensa do regime militar (que o STF mandou para as cucuias em abril do ano passado, declarando-a inconstitucional e incompatível com a democracia) previa, como um dos crimes puníveis com detenção, "publicar ou divulgar notícias falsas ou fatos verdadeiros truncados ou deturpados que provoquem desconfiança no sistema bancário ou abalo de crédito de instituição financeira ou de qualquer empresa, pessoa física ou jurídica". Talvez por isso a im­­prensa brasileira tenha se acostumado a não investigar a situação de instituições financeiras problemáticas. O resultado é que o investidor acaba sendo pego de surpresa por notícias como essa.

Empréstimo x previdência

O João, leitor da coluna e funcionário de uma grande instituição financeira, enviou e-mail co­­men­­tando o texto da semana passada. Nele eu contava a história da Giselle, que tem algumas dívidas, mas relutava em sacar o dinheiro depositado em seu fundo de previdência privada para quitá-las. João falou de uma modalidade de crédito, praticada pela maioria dos bancos, em que uma aplicação serve de "lastro" para um empréstimo. Como há uma garantia firme – o cliente autoriza o banco a debitar a parcela em sua aplicação, em caso de inadimplência –, os juros são mais baixos do que na maior parte dos empréstimos.

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Perguntei a ele o quanto mais baixos eles eram. No caso de um empréstimo lastreado por uma aplicação em previdência, segundo ele, a taxa praticada é de 1,9% ao mês mais o IOF. Real­­men­­te, é bem menos do que os 10,69% que correspondem à média nacional do cartão de crédito. Mas é, claro, bem mais do que o cliente vai receber de valorização no seu fundo. Que fique claro: não é possível acumular dívidas e investimentos ao mesmo tempo – as dívidas sempre crescem mais rapidamente.

Agora, numa coisa o João tem razão: essa aplicação é uma saída interessante para quem está passando por uma emergência. Se você não vai precisar de muito dinheiro e pretende quitar rápido, pode pensar em usá-la.

Fim de feriado

Hoje, todo mundo volta ao ba­­ten­­te. Aproveite para mandar sua dúvida, sugestão, crítica ou co­­mentário para a coluna. Man­­de seu recado pelo financaspessoais@gazetadopovo.com.br

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