Tenho alguma relutância em escrever sobre datas comemorativas. Tenho receio de entrar em uma armadilha da qual não vou conseguir sair: ter de inventar, todos os anos, alguma coisa para falar sobre esse mesmo tema. Este ano, entretanto, topei escrever sobre o Dia Internacional da Mulher, porque acredito haver algumas questões importantes a comentar.
A primeira é a quantidade de mitos e preconceitos que a gente ouve sobre a relação das mulheres com o dinheiro. Dizem que elas gastam demais, que não podem ver uma liquidação de sapatos. Que o cachorro é o melhor amigo do homem, e que o cartão de crédito é o melhor amigo da mulher.
Bobagem. Não há muitos dados públicos recentes, mas uma pesquisa de 2006, divulgada pela administradora de cartões Credicard, mostra que a quantidade de cartões em poder de mulheres equivale a metade dos plásticos disponíveis, e que o tíquete médio (ou seja, o valor médio de cada compra) das mulheres é inferior à média do mercado (R$ 81, àquela época, contra R$ 88 do mercado em geral; no ano passado, o valor do tíquete médio do mercado havia subido para R$ 106).
Homens e mulheres são diferentes no comportamento financeiro, mas não dá para acusar ninguém de ser mais ou menos desleixado no cuidado com o dinheiro. Algumas senhoras e senhoritas podem até exagerar nos gastos no shopping, mas é difícil encontrar um nome feminino nas listas de pessoas que caem em armadilhas como investimentos em bois gordos, avestruzes altos, porcos fortes ou qualquer outro bicho que esteja na moda. Dizem que é porque elas pensam mais antes de tomar uma decisão.
A segunda razão é a expectativa que o mercado financeiro tem em relação a elas. Em janeiro, por exemplo, apenas 24,8% dos investidores na Bolsa de Valores de São Paulo eram mulheres. Em termos de valores investidos, elas estavam ainda mais abaixo: seu saldo em aplicações era de R$ 22,3 bilhões, 20,4% do total sob administração de bancos e corretoras.
Parece pouco e, na verdade, é. Mas olhe a evolução: em 2002, apenas 17,6% dos CPFs registrados na bolsa eram femininos. De lá para cá, a bolsa popularizou-se e atraiu muita gente, mas foi especialmente atraente para as garotas. Aos números: de dezembro de 2002 a janeiro de 2011 o número de homens investindo na bolsa aumentou 546%; a quantidade de mulheres aumentou 895%.
A BM&FBovespa tem um programa especial para ensinar o básico do mercado a essa faixa da população. É o Mulheres em Ação. O site do programa (www.bmfbovespa.com.br/mulheres) traz o conteúdo educacional da bolsa empacotado de forma atraente e inclui extras, como dicas em áudio, vídeos e artigos sobre finanças não só sobre bolsa, mas também outras formas de investimentos, financiamentos e organização pessoal em geral. Ele pode até ter dado uma mãozinha no crescimento, mas não merece todo o crédito.
O fato é que a sociedade brasileira está cada vez mais complexa, com mais gente capaz de tomar conta de seus próprios negócios homens e mulheres, jovens e ou não , e isso é bom. Que se mantenham bem informados e tomem as melhores decisões.
Antecipação do IR
Começou a temporada de declarações e os bancos voltaram a oferecer aquela linha de crédito que "antecipa" entre aspas mesmo, porque pode dar a impressão de que se trata de uma operação da Receita a restituição de Imposto de Renda.
É bom lembrar que se trata de um empréstimo, com juros quase sempre acima de 3% ao mês. Apesar de parecer um número pequeno, na comparação com taxas estratosféricas como aquelas cobradas no cartão de crédito ou no cheque especial, não é nada baixo, não. Como o crédito tem a garantia da restituição que, afinal, vai mesmo cair na conta bancária do sujeito , a taxa poderia ser bem mais razoável. Poderia, por exemplo, estar mais perto da taxa do empréstimo consignado, lá por 1,5% ao mês.
Pode valer a pena? Só se você estiver muito endividado e quiser usar o crédito para quitar dívidas com juros mais altos. Nesse caso, tente negociar com o banco uma taxa menor.
Momo
Não faça folia com as suas contas. Não vá gastar demais no feriado. Se sobrar alguma dúvida ou quiser enviar uma sugestão ou crítica, fique à vontade. Escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br