Um dos exercícios mais complicados para qualquer investidor é o de tentar antecipar o comportamento do mercado a partir das variáveis presentes e conhecidas. E isso vale para pequenos, médios e grandes. Lembre, por exemplo, do strike provocado no mercado pela desvalorização do real em 1999. Ou os prejuízos colossais provocados pelos riscos cambiais que algumas empresas assumiram lá por 2009, que enfraqueceram companhias como Aracruz e Sadia, levando a mudanças enormes aos mercados em que elas atuavam.

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Em ambos os casos, gestores assumiram posições arriscadas, que resultaram em perdas importantes para suas instituições. Se gente especializada sofre para interpretar a realidade a partir dos números, como é que um investidor iniciante pode ousar se dar bem?

A primeira dica é prestar atenção no que os especialistas dizem. Eles podem errar, é verdade – mas o leigo sozinho sempre vai errar muito mais. Fique atento aos relatórios de análise que bancos e corretoras divulgam para os seus clientes. Eles são auxílios valiosos para o investidor.

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A segunda dica é não correr atrás de boatos espalhados via internet. Os fóruns de investidores na rede incluem muitas informações estranhas e infundadas, especialmente no que se refere a ações. Papéis de empresas concordatárias e com poucos negócios na bolsa, por exemplo, são alvo frequente dessas conversas sobre potenciais fantásticos de alta que nunca se realizam.

Na dúvida, seja conservador. Manobras arrojadas exigem conhecimento do mercado, de sua lógica e das suas alternativas.

Índices dissonantes

O Índice de Atividade do Banco Central (IBC-BR) divergiu do resultado do PIB apontado pelo IBGE. Os números do ano fechado não são tão diferentes – 2,52% no IBC-BR e 2,3% nas Contas Nacionais do IBGE. Mas o IBC-BR apresentou dois trimestres seguidos de retração (o que, teoricamente, apontaria para uma recessão na segunda metade do ano passado), enquanto que o IBGE relatou crescimento de 0,7% no período de outubro a dezembro e queda de 0,5% nos três meses imediatamente anteriores.

Quando surgiu, em 2012, o IBC-BR era apontado como uma prévia do PIB – um indicador mensal (o PIB é calculado por trimestre) que mediria, basicamente, os mesmos dados. Não tem sido assim. Uma pena, porque os institutos de pesquisa, bancos e o mercado em geral fariam bom uso de um indicador que fosse igualmente confiável, mas mais "fresco" (no sentido de colhido e divulgado rapidamente) que os do IBGE.

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Em todo caso, o índice do BC é uma importante referência, principalmente em relação ao que ocorre na indústria. Não deve ser desprezado.

Mudando de assunto…

O leitor Paulo César, que é contador e tem experiência em consultoria e auditoria, escreve para discordar da coluna da semana passada, que dizia que o sistema tributário brasileiro não é tão burro como se pensa. Ele faz sete considerações, abordando, entre outros temas, a faixa de isenção ("deveria ser muito mais elevada") e a ideia de que a dedução com despesas médicas deveria ser ilimitada. "Realmente…", conclui, "para ser um sistema burro, precisa melhorar, e melhorar muito".

Concordamos em diversos pontos, Paulo. O mais óbvio: o governo brasileiro é um péssimo prestador de serviços. A questão é que a taxação do salário e da renda é assunto polêmico em todo o mundo – que o diga o ator Gérard Depardieu, que tornou-se cidadão russo para escapar aos impostos de sua França natal. Nos Estados Unidos, onde União, estados e municípios podem cobrar impostos sobre a renda, o atendimento público de saúde é quase inexistente. E as alíquotas somadas de impostos sobre a renda podem chegar a quase 60%!

Pelo ponto de vista do contribuinte, qualquer tipo de tributação sempre será polêmica.

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