O FMI divulgou ontem dois documentos que interessam a quem está preocupado com o país e sua economia, e também a quem precisa acompanhar esse assunto para tomar decisões de investimento, sejam pessoais ou corporativas.

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O primeiro é um relatório burocrático periódico, que descreve os achados de uma visita oficial de representantes do fundo. A declaração da missão do FMI aponta uma piora na “dinâmica da dívida” pública, resultado de baixo crescimento e juros altos – muito mais altos que em qualquer economia séria do planeta, já que a maioria dos países vem mantendo taxas próximas de zero há sete ou oito anos. Lógica simples: a se o PIB não cresce, mas a dívida aumenta (muito) com os juros altos, a relação dívida/PIB obviamente vai se deteriorar.

A recuperação econômica é prejudicada pela alavancagem das empresas (traduzindo do financês: elas estão operando com alto grau de dependência de dinheiro emprestado), pelo desemprego e porque as famílias estão gastando mais do que ganham. A “receita” do FMI para melhorar isso é previsível, e surpreendentemente parecida com a agenda que o governo-tampão de Temer propõe: reforma na previdência, redução da rigidez fiscal, fim da vinculação do salário mínimo ao reajuste das aposentadorias (que levaria ao achatamento dos vencimentos do pessoal inativo).

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Além disso, o fundo sugere a extensão da proposta de limite de gastos do governo aos Estados – vai ter chiadeira, mas essa é uma consequência lógica, já que muitas unidades da Federação estão enforcadas.

O outro documento é um estudo feito por uma equipe de economistas capitaneada por Vitor Gaspar, ex-ministro de Finanças de Portugal e diretor do departamento de Assuntos Fiscais do fundo. O trabalho trata da principal ameaça à economia global nos dias de hoje, a combinação de baixo crescimento com inflação excessivamente baixa, e traça uma estratégia de combate que inclui ações coordenadas, abrangendo as grandes economias globais. O ponto-chave é a política fiscal, e o FMI sugere redução de impostos e aumento nos investimentos do governo.

O Brasil vai na contramão desse cenário, com discussões importantes justamente sentido inverso, de aumentar impostos e transferir para a iniciativa privada iniciativas que hoje dependem do Estado. Isso porque nossa situação é diferente. Estamos em plena recessão, com inflação alta demais. O BC prevê para o ano que vem uma inflação bem próxima à meta de 4,5% ao ano, mas há uma razão triste para isso: a crise reduz a demanda por produtos e serviços, e com isso os preços tendem a cair.

Caso se confirme o cenário temido pelos economistas do fundo – global slowdown, dizem eles, desaceleração econômica global para nós –, o Brasil já começa em posição de desvantagem. Se o leitor ficou curioso com o estudo, pode achar uma cópia em goo.gl/FdSKhv (está em inglês).

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