Oito vezes por ano, a diretoria do Banco Central se reúne para tratar das taxas de juros. Esse é o tal Comitê de Política Monetária (Copom) de que tanto se fala. A próxima reunião ocorre daqui a duas semanas.
Pela maneira destacada como essas reuniões são tratadas nas análises dos economistas e mesmo por nós, jornalistas, parece até que nada ocorre no dia a dia. Isso não é verdade. A cada dia ocorrem milhões de negócios com taxas de juros, que são simultaneamente causa e consequência das decisões do Copom. E é por meio desses negócios que é possível estabelecer uma trajetória mais fiel da avalanche registrada na Selic nos últimos anos. É só dar uma olhadinha no gráfico ao lado. Se o leitor tem mais de 35 anos, ele viveu a totalidade da sua vida econômica no período retratado.
Pode ser que você não se lembre de tanta variação. Mas ela está lá a memória humana é que costuma destacar mais alguns eventos do que outros. Um otimista (e acho que a esmagadora maioria da população brasileira se enquadra nessa categoria) diria que ela indica que, logo, logo, os juros brasileiros deixarão de ser os maiores de mundo.
Sendo assim, um dos melhores investimentos que se pode fazer é garantir, no longo prazo, uma remuneração semelhante à atual. Imagine, por exemplo, que em 2027 as taxas de juros brasileiras estejam alinhadas às que o Canadá paga hoje em dia: 1% ao ano. E você, que "travou" seus ganhos a partir da Selic de hoje, por meio de investimentos no Tesouro Direto, tem garantidos 9,75% ao ano. Parece bom demais para ser verdade, não é?
Algo semelhante a isso deve ter passado pela cabeça do leitor Tiago, que escreveu perguntando qual seria o risco de investir no Tesouro Direto.
Primeiro, o básico: os títulos do Tesouro são papéis da dívida, porque, na prática, o investidor está emprestando dinheiro à União, sob a promessa de receber os juros combinados. Isso significa que o risco associado a esses papéis é o risco de o Brasil deixar de honrar seus compromissos. Olhando para trás, há razões para desconfiar: o governo brasileiro não tem um histórico muito tranquilo em relação à dívida interna. Já houve momentos em que o país ameaçou não pagar, houve outros em que impôs restrições. Até que ponto dá para confiar?
Não dá para responder essa questão de forma objetiva. Novamente, entretanto, não parece haver no horizonte razões para pessimismo. Nas últimas duas décadas, o Brasil tem aprimorado suas instituições econômicas e políticas. Tem uma democracia estável e respeitável. Tem se esforçado para combater a corrupção e para melhorar a infraestrutura. Todos esses são avanços que não devem ser creditados a nenhum governo, mas a essa figura especialíssima que é o cidadão brasileiro e às suas instituições até puxo a brasa para a nossa sardinha: a imprensa independente e plural do país tem grande participação nessa estabilidade.
Não dá para usar as vendas mensais de títulos do Tesouro Direto como termômetro para avaliar a compreensão média dos investidores. Isso porque as condições que influenciam cada período são diferentes em especial no que se refere à queda recente da Selic, que mexe novamente com esse equilíbrio. Levando em conta o estoque de títulos, essa distorção diminui um pouco. Percebe-se que os investidores guardam, principalmente, títulos com prazo de um a cinco anos, que equivalem a 54,6% dos R$ 7,78 bilhões de títulos vendidos diretamente às pessoas físicas. Papéis superiores a cinco anos somam 26,5% do total.
E você, como você avalia esse risco?
Corretoras
O Tiago gosta de fazer perguntas difíceis. Ele também quer saber quais devem ser as preocupações de que está procurando uma corretora. Tem gente que se preocupa mais com preço (as taxas de corretagem andaram baixando muito nos últimos anos), outros estão mais ligados nos relatórios de análise; alguns querem conversar com corretores, outros preferem operar só pela internet. Algumas corretoras têm carteiras recomendadas de ações, de fundos e até de títulos públicos. Sugiro que converse com outros clientes e converse com seus representantes. Descubra o que é importante para você, e veja quem consegue atendê-lo melhor.