Costuma-se chamar de tubarões aqueles grandes capitalistas que são imbatíveis na sua ânsia de crescer e engolir outras empresas no caminho. No Brasil, poucos estiveram tão associados a essa imagem quanto o bilionário Eike Batista. Essa fama abriu caminho para que ele consolidasse a abertura de capital de uma série de empresas, algumas das quais se tornaram estrelas da bolsa brasileira. Ontem, uma delas teve trajetória de estrela cadente.

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Os papéis da petrolífera OGX caíram 29,11%% ontem. No ano, a desvalorização chega a 87,21% – a ação virou pó, como se diz no mercado. A razão está nos tubarões: a empresa anunciou ontem cedo que deixará de produzir petróleo no campo de Tubarão Azul ao longo do ano que vem, porque uma análise detalhada feita pela companhia revelou que não existe tecnologia disponível que seja capaz de aumentar seu nível de produção. Também avisou que vai suspender o desenvolvimento dos campos de Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Areia, cuja exploração é economicamente inviável. Muitos investidores deduziram que, sem esses poços, a empresa teria menos petróleo para vender. Portanto, não teria lucros e, por consequência, deveria valer menos. E puseram papéis à venda.

Muitos acreditam que ela pode se recuperar, que as concessões que ela tem são valiosas. É possível. Neste momento, o futuro dessas empresas e de suas ações é nebuloso. Mas podemos aprender muito com seu passado, inclusive para fazer investimentos melhores.

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Passado recente, aliás. A OGX foi criada em 2007 e não tinha tirado do subsolo uma gota de óleo até janeiro do ano passado – justamente do poço de Tubarão Azul, esse cuja morte foi anunciada ontem. Em seus vídeos institucionais, disponíveis no canal do grupo EBX no YouTube, a OGX fala das vantagens do campo, que teria "baixo custo de produção e alta produtividade". E orgulha-se de ostentar um recorde mundial, levando apenas 25 meses entre a descoberta da zona petrolífera até a produção de Tubarão Azul. Provavelmente alcançará outro: o de poço de vida mais curta na história.

Eike e companhia se notabilizam pela ambição e pela pressa. E foram incentivados pelo mercado, que comprou planos de negócios recheados de sonhos, pensando serem ações. Esse pensamento positivo em torno das empresas do grupo levaram três delas para o índice Ibovespa, inclusive a LLX Logística, em fase pré-operacional (ou seja, sem receitas), cujo grande projeto é o Superporto do Açu, um negócio cercado de névoa que esteve no coração dos bate-bocas que antecederam a aprovação da medida provisória dos portos. Juntas, OGX, LLX e MMX respondem por 3,7% do índice Ibovespa. Não é pouco, se você levar em conta que o índice é formado por papéis de 66 empresas e que a de maior peso é a poderosa Vale, com 11,1%.

Nos últimos anos, pouca gente ousou contradizer o entusiasmo que projetos como o da OGX criavam no público, mesmo que eles parecessem difíceis de realizar. Afinal, Eike parecia ser o modelo do capitalismo ousado que se desejava construir no país. Minha opinião é que ele está bem longe disso. Está mais para um tipo de personalidade de que o país deveria se livrar, um misto de salvador da pátria com herdeiro de estranhos negócios antigos.

A crise de confiança por que as empresas X passam hoje poderia ser evitada se investidores – inclusive o BNDES – tivessem exigido um mínimo de bom senso antes. Isso inclui os pequenos investidores, também. Ao comprar uma ação, não esqueça que você está se tornando sócio de uma empresa. Você precisa saber o que ela faz – se não faz nada, apenas promete fazer, avalie se vale o preço.

Agora, outros tubarões do mercado financeiro internacional deverão de aproveitar da fragilidade do grupo X. Eike ainda pode se levantar. Mas não será tão simples.

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