A vida financeira da gente é feita de escolhas. O que não quer dizer que elas não sejam difíceis e incômodas, de vez em quando.
Veja o que aconteceu com a leitora Anna. Na semana passada, ela vendeu seu carro e passou a fazer a maior parte de seus deslocamentos de ônibus. A razão para a troca foi financeira: depois de fazer muitas contas, ela reconheceu que as despesas com o veículo estavam mais altas do que o aceitável. Eram gastos com prestação (o carro era financiado), combustível, estacionamento, manutenção, impostos... Sem contar uma lavagem de vez em quando você percebeu quanta poeira anda se acumulando sobre os carros nesses últimos dias?
A lógica, portanto, é impecável. Racionalmente, ela estava convencida de que estava fazendo a coisa certa. Então por que foi tão dolorida a caminhada até o ponto de ônibus, cruzando a Praça Rui Barbosa no primeiro fim de tarde sem locomoção própria? Por que a vontade de comprar outro carro, somente dois dias depois de livrar-se do antigo? Seria síndrome de abstinência?
Não sei se é o caso de Anna, mas, em geral, a relação que as pessoas têm com o automóvel vai além do simples uso. Há a questão da comodidade, e posso falar dela em primeira pessoa. Há algumas semanas, também optei por vir de ônibus para o jornal. Na hora de voltar para casa, preferiria simplesmente entrar no carro e ir embora. Em vez disso, tenho de caminhar até o ponto, aguardar um tempo, pegar a condução. Talvez essa seja a maior diferença: no transporte próprio, somos protagonistas; no coletivo, somos passivos.
Para aceitar uma pressão psicológica como essa é preciso ter boas razões. No caso da leitora, o que a convenceu foi uma prioridade. "Não tinha jeito: o carro estava custando muito caro, não sobrava dinheiro para outros objetivos, como viajar", explicou. Sem carro, ela está planejando uma viagem aos Estados Unidos nas próximas férias. Vai trocar o carro pelo avião, digamos.
Essa troca faz sentido para ela. Para outra pessoa, talvez pareça absurda. Isso é o que faz a administração das finanças pessoais algo tão subjetivo ela só pode ser pensada a partir das necessidades, desejos e aspirações das pessoas. Por isso não há fórmula infalível. Cada pessoa precisa ter seus próprios objetivos e prioridades pessoais, e construir estratégias financeiras para transformá-los em realidade.
Só não vale confundir as coisas. Nenhuma prioridade de consumo pode estar acima de uma necessidade. Você precisa de carro para ir à faculdade? Ótimo, mas não esqueça que é preciso pagar a mensalidade da faculdade e a conta da luz, a água, o condomínio e tantas outras. Mas esse é um tema para outra coluna...