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A morte do deputado federal Moacir Micheletto abre um vácuo na política paranaense e na representação do agronegócio no estado. Ele não só representava os produtores como era um deles, fato que legitimava ainda mais sua atuação. Agrônomo, agricultor, dirigente classista e cooperativista, o parlamentar morreu em um acidente de carro na segunda-feira da semana passada na região onde construiu sua base eleitoral, o Oeste do Paraná. Catarinense radicado no Paraná, em seu sexto mandato ele mantinha um eleitorado cativo acima de 100 mil votos. Nas eleições de 2010 foram 121.285 votos em 393 dos 399 municípios do Paraná. Eleitores de dentro e de fora da porteira, representantes de todos os elos da cadeia produtiva. Em sua maioria produtores rurais, que se identificavam com Micheletto e com sua simplicidade, com o homem do campo que chegou a Brasília.

Como todo político, ele também não era unanimidade. Mas era respeitado, seja pela atuação em defesa do agronegócio, seja pela sua reconhecida capacidade de articulação política no Congresso Nacional, nos ministérios e no Executivo. No mandato atual mantinha uma relação ainda mais próxima do poder, fruto da composição de um grupo político dentro do PMDB, partido do qual fazia parte, liderado pelo vice-presidente Michel Temer. Em 2010 também voltou a ter presença mais atuante no Ministério da Agricultura, com a indicação de Wagner Rossi para o comando da pasta. Rossi acabou sendo destituído após denúncias de fraudes que estariam ocorrendo no ministério. Mas o PMDB conseguiu manter o posto, agora com Mendes Ribeiro, parlamentar gaúcho com quem Micheletto também mantinha excelentes relações.

O que está em jogo, então, não é apenas a representação do agronegócio paranaense, mas a influência do Paraná na configuração política da bancada ruralista em Brasília – que tinha Micheletto como um dos seus principais articuladores –, assim como possíveis mudanças nos cargos ocupados por apadrinhados do deputado em cargos de confiança ligados ao Ministério da Agricultura, como a Superintendência Federal da Agricultura no Paraná. Isso sem falar das dezenas de milhares votos que agora buscam novo representante. Assim como a Frente Parlamentar da Agricultura, a Frente Parlamentar do Coope­rativismo, as Comissões de Agri­cultura e do Meio Ambiente também procuram um novo integrante, um novo nome para discutir, entre outros temas, o apoio ao trigo, ao seguro rural, ao preço mínimo e para enfrentar a polêmica discussão sobre o novo Código Florestal.

O primeiro suplente do PMDB Odílio Balbinotti também tem relações fortes com o agronegócio. Ele inclusive é empresário do setor. No pleito de 2010, recebeu 84.545 votos. Em 2008 chegou a ser indicado pelo PMDB para assumir o Ministério da Agri­cultura em substituição a Luis Carlos Guedes Pinto, que foi conduzido ao cargo após a demissão do então ministro Roberto Rodrigues. A indicação de Balbinotti durou 48 horas. Ele caiu antes mesmo de assumir, diante de acusações sobre ilegalidades cometidas em sua vida profissional. A opção então foi pelo deputado federal Reinhold Stephanes, que surpreendeu, fez um excelente trabalho e deixou saudades. Foram três anos de um ministério mais técnico que político, de um período em que a pasta foi conduzida quase que sem amarras a siglas partidárias.

Micheletto era apenas um entre os 30 parlamentares do Paraná em Brasília. Por uma questão lógica, dada a vocação regional do estado, teoricamente todos são representantes do agronegócio, embora na prática nem sempre seja bem assim. Qualquer um, e a qualquer momento, pode e deve chamar para si a responsabilidade pelo legado deixado por Micheletto em sua atuação e representação. Alguns deputados, a exemplo de Stephanes e Abelardo Lupion, sempre tiveram uma atuação mais destacada na defesa do agronegócio e podem, sim, assumir, dividir e fazer frente às atividades conduzidas por Micheletto. Bem como o seu sucessor, o deputado Balbinotti. Demandas que não eram do deputado, mas do agronegócio do Paraná.

Apesar das divergências políticas, partidárias e de atuação no Congresso Nacional, pelo passado recente, mais focado na agricultura, o deputado federal Reinhold Stephanes parece ser o nome mais indicado, credenciado e qualificado. Não para ser um novo representante do agronegócio, porque isso ele já é. Mas para assumir uma responsabilidade ainda maior, um papel ainda mais determinante na defesa e no atendimento das demandas do Paraná e do agronegócio nacional. Como nos tempos de ministro da Agricultura, o nome de Stephanes volta a ganhar força e relevância para garantir e fortalecer a representação do estado no Congresso Nacional, com o apoio das entidades do setor no Paraná.

Representar o agronegócio não é fácil e dá trabalho. São inúmeras as demandas. Mas também dá voto. Dada a importância do setor, representar o agronegócio é contribuir com o desenvolvimento econômico e social do estado e do país. É representar o produtor rural, o povo do estado e do país. Mas não é para qualquer um. Requer história, engajamento e identificação com a causa. O objetivo não deve ser substituir Micheletto, mas encontrar alguém tanto quanto comprometido com a causa.

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