Nas últimas duas semanas o Agronegócio Gazeta do Povo publicou inúmeras reportagens que de certa forma fizeram um balanço sobre o desempenho do setor em 2012, do excelente resultado dos grãos às dificuldades econômicas e sanitárias enfrentadas pelo segmento de carnes. Entre os destaques, o agronegócio sustentando o superávit da balança comercial pelo 12.º ano consecutivo e a soja com valorização superior ao ouro. Na outra ponta, a crise da avicultura, que reduziu o crescimento e as exportações do setor. E o caso da "vaca louca", que provoca alarde desnecessário, desproporcional e até irresponsável por parte dos países que levantaram embargos à carne bovina brasileira.

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Em 2012 também atravessamos outros debates polêmicos, como o Código Florestal, o seguro rural e mais uma redução drástica na área de cultivo do trigo, cenário que afeta a soberania nacional, a considerar que já estamos importando mais da metade do cereal essencial ao abastecimento interno. Aliás, uma cadeia que vive uma situação difícil de entender e compreender. Quase que sem lógica. O país investe na construção de moinhos de trigo, mas não investe e nem incentiva o cultivo do cereal. Prefere trazer o trigo de fora, importar o produto e aumentar a dependência externa. Exemplo do que ocorre neste momento com as cooperativas do Paraná.

No balanço, os números mostram que entre mortos e feridos o agronegócio teve um bom ano, apesar das dificuldades, especialmente no setor de suínos e aves. Uma temporada sustentada pelo cenário internacional, onde oferta e demanda se desencontraram, num efeito causado pela expressiva quebra da safra norte-americana. Além de racionar o consumo interno e ampliar as importações, os Estados Unidos reduziram as exportações, aqueceram e valorizaram o mercado de commodities agrícolas. A soja virou artigo de luxo e o milho do Brasil nunca teve tanto espaço nos porões dos navios.

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O segundo semestre do ano passado foi um período de escassez de soja, que em seus picos superou os R$ 80 a saca de 60 quilos. Quase o dobro do preço exercido em alguns momentos de 2011. E para ilustrar a situação com dois dos principais produtos do agronegócio brasileiro, com o milho não foi diferente. Foram registrados negócios perto de R$ 30 a saca, valor mais que 100% maior que o pago em alguns meses de 2011. Na temporada de exportação de milho medida pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que termina agora em janeiro, o país deve embarcar perto de 22 milhões de toneladas. Um recorde absoluto para uma nação que há dez anos praticamente não exportava milho.

Desafios

Mas como manter esse ritmo de produção e principalmente de exportação? Está aí o grande desafio do agronegócio brasileiro em 2013, a começar pelo ciclo em curso. Com previsões recordes no campo e nos embarques, o Brasil parte para uma prova de fogo, que coloca em xeque nossa competitividade fora da porteira. Com o clima favorável, área ampliada e maior investimento em tecnologia o Brasil atinge fácil as 185 milhões de toneladas de grãos, das quais mais de 80 milhões de toneladas serão de soja e outras quase 70 milhões de toneladas de milho. Difícil mesmo será colocar toda essa produção em caminhões, barcaças, trens e navios. Ou então acomodar numa estrutura de armazenagem deficitária, não tanto em volume, como em distribuição geográfica dessa capacidade.

Armazenar ou escoar

Ao contrário de países como Europa e Estados Unidos, que têm o armazém na fazenda, o Brasil priorizou a armazenagem coletiva, em armazéns públicos ou de cooperativas. Uma estratégia que poder até ter sido interessante, há 20 ou 30 anos, quando a produção era mais concentrada. Mas e agora, com a oferta pulverizada, de Norte a Sul, de Leste a Oeste? A solução é colher e escoar, colocar em cima de uma carreta ou de um vagão e driblar o armazém, que em muitas regiões sequer existe ou tem capacidade para absorver o rápido e expressivo crescimento da produção. Pode não ser a solução ideal. Aliás, não é uma solução. Até porque a sobrecarga nas estradas, trilho e portos só encarece o custo e afeta ainda mais a competitividade. Mas se não há outra saída, o produtor não tem o que fazer se não entrar no risco, e no custo.

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Ações e investimentos, públicos e privados tentam conter ou pelo menos amenizar a ameaça do apagão logístico e da competitividade. O governo federal discute a ampliação e renovação das vias de escoamento, o governo do Paraná recupera as estradas rurais (a obrigação seria dos municípios) e o privado investe em terminais ferroviários e estruturas para agilizar o transbordo e a exportação na área portuária e na integração multimodal. Muito pouco dessas iniciativas terão reflexo na safra atual. Mas não deixa de ser um começo. Importante, é bom que se diga, na busca por melhores condições ou pelo menos condições mínimas e competitivas que possam fazer frente ao aumento da produção e às pretensões do agronegócio brasileiro no mercado internacional.

Pretensões que só não serão atingidas, realizadas e consolidadas se o Brasil não fizer a lição de casa. Na teoria, parece fácil. Quero ver na prática, nas estradas, nos trilhos e nos portos. Quero ver como será em 2013. Não sei a que preço, mas pelo menos uma coisa é certa. No ano em que se inicia o Brasil tem tudo para se consolidar como maior exportador e, agora, maior produtor mundial de soja.