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Giovani Ferreira

Afinal, quem fala sobre a vaca louca

Apesar de carregar a proteína que pode causar a doença, a vaca que morreu no Paraná em 2010 não estava louca. Isso é fato, comprovado em exames laboratoriais e validado pela autoridade máxima no ambiente internacional, a Organização Internacional de Epizootias (OIE), ou Organização Internacional de Saúde Animal. Mas como explicar, então, o embargo à carne bovina brasileira, promovido primeiramente pelo Japão, que foi seguido por China e África do Sul? Há ainda as ameaças de suspensão das compras, nada elegantes, muito menos diplomáticas, feitas por Rússia e Irã, que estão entre os principais compradores da carne brasileira.

As justificativas, pelo menos em tese, são sustentadas em ações de precaução, prevenção e cuidado com a saúde pública e a sanidade animal. Na prática, porém, não há como ignorar a natureza comercial das barreiras. Estratégias adotadas para legitimar interesses domésticos, de protecionismo, nada legítimos no comércio internacional e globalizado, onde a lei da oferta e demanda está mais relacionada a fundamentos e cada vez menos à especulação. Mas por que o Brasil estaria sujeito a isso? É simples. O país não é nada mais nada menos que o maior exportador mundial de carne bovina. Está na vitrine. A discussão, então, é sanitária. Passa, sim, pela segurança alimentar. Mas o interesse, ao final, será sempre econômico.

De qualquer forma, não dá para deixar de discutir e esclarecer o caso. Se houve suspeita, se o caso é clássico ou atípico, se o animal morreu ou não da doença, é preciso ser didático na comunicação do ocorrido, principalmente junto à população. Os resultados dos exames demoraram? Mas por que demoraram? A OIE decidiu manter o status de risco insignificante ou ainda está revendo esse status? Quem tem propriedade para se manifestar sobre o assunto? O governo estadual, o governo federal, a OIE? Legalmente, quem é o porta-voz brasileiro na discussão? Será que não tem muita gente falando? Muitas vezes sem credenciais ou autorização para tanto.

Na semana passada, o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, José Carlos Vaz, fez referência à "batalha da comunicação" travada pelo governo para esclarecer a comunidade internacional de que não há motivos para embargos e suspensões no comércio da carne bovina com o Brasil. Uma batalha que talvez precise começar internamente, junto a suas próprias fileiras e pares na avaliação técnica e sanitária da ocorrência. A informação e o acesso à informação precisam ser livres, amplos e democráticos. Mas em casos como esse, passíveis de alardes, riscos e com dimensões continentais, também é preciso disciplinar o processo de comunicação. A começar pelas fontes.

No programa de ontem, o Globo Rural exibiu uma reportagem com um professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ele teria acompanhado desde o início o suposto caso da vaca louca no Paraná. Até certo ponto ele foi didático e esclareceu algumas dúvidas básicas do processo. Como, por exemplo, algumas datas que ajudam a entender a cronologia do que ocorreu e das ações que foram tomadas, bem como por que o resultado demorou quase dois anos para ser concluído. Mas ele também deixou dúvidas ao contrapor o Mapa e até mesmo suas próprias informações.

Em determinado trecho da entrevista ele afirmou que o animal tinha a vaca louca. Em outro momento ele se questiona: "Ela morreu de vaca louca? Eu acredito que não." Ou seja, coloca em dúvida se o animal morreu ou não desse mal. O Ministério da Agricultura já disse que não. Ou seja, se não conseguimos nos entender nem internamente, como é que vamos tranquilizar a comunidade internacional? O professor esclareceu, mas também confundiu. O que não deixa de ser saudável na busca pela informação, segura e transparente. Mas também mostrou que o caso precisa ser melhor detalhado. Mas por alguém legitimado para tanto. Não que o professor não esteja.

Ocorre que, a depender do ponto de vista, o posicionamento do professor também pode ser interpretado como fogo amigo. Afinal, nossos parceiros compradores não deixam de ser movidos pela conveniência. Eles podem usar os argumentos do Mapa para retirar ou suspender embargos. Ou então encontrar em avaliações e declarações oficiosas motivos para levantar novas barreiras, pouco importando se elas são sanitárias ou comerciais. O secretário está certo. É a batalha da comunicação. Eu acrescentaria, ainda, que o que está em jogo é bom senso e o interesse, não público ou privado, mas de uma nação, no caso o Brasil.

Não tenho dúvidas da veracidade das informações prestadas pelo professor. Como não tenho dúvidas do alarde que elas causaram. Mas seria ele a autoridade credenciada para se manifestar sobre o assunto? Não seria a Secretaria Estadual da Agricultura (Seab) ou então a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar)? Órgãos que poderiam, inclusive, ser municiados com informações do próprio professor.

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