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Um bombeiro no ministério

Cargos de confiança ou funções comissionadas. Eles existem aos milhares em Brasília. A ocupação desses postos é feita por servidores lotados nos poderes constituídos ou então de livre provimento, indicados por aqueles que ocupam cargos diretivos. Em alguns casos, como nos diversos ministérios do governo federal, é o indicado do indicado, já que os ministros também são escolhidos. Em tese, as indicações devem seguir critérios técnicos, de atestada competência para assumir a função em questão, embora nem sempre seja assim. O que se viu nos últimos anos foi um festival de indicações políticas, com pouco ou quase nenhum critério técnico.

Agora, com a mudança de governo, tudo de novo. De ministérios rateados entre partidos, como condição à governabilidade a políticos mudando de partido como condição a ser ministro. Foi o caso do senador Blairo Maggi. Para ser indicado ao Ministério da Agricultura (Mapa) teve que deixar o PR e se filiar ao PP. Independentemente de questões ideológicas e de fidelidade partidária, uma decisão acertada do senador que tem, em tese, atestada competência para o cargo. Ou trocava de partido ou o setor ao qual ele pertence corria o risco de cair, mais uma vez, em mãos erradas. De qualquer forma, o Mapa continua nas mãos de um partido. A diferença é que o comando da pasta está com um político que também é produtor.

Mas ok, vamos em frente. Vencida a fase da indicação mais técnica do que política, o ministério enfrenta a prova de fogo no preenchimento dos cargos de segundo escalão. A atenção se volta para os nomes que vão comandar o Mapa ao lado do ministro Maggi nas secretarias Executiva, de Política Agrícola e de Defesa Agropecuária. Nas primeiras nomeações, Maggi cumpre em sua plenitude a definição de cargo de confiança. E também vai aos extremos quando o critério é experiência para o cargo. Na semana passada, deu posse a Eumar Novacki como secretário-executivo. Coronel da Policia Militar de Mato Grosso, ele é bacharel em Direito e tem curso superior de Bombeiro.

Pelas suas credenciais, a proximidade do novo secretário com o agronegócio se restringe à sua proximidade com Blairo Maggi e no fato de ter base no maior estado produtor de grãos do país. Seu currículo não deixa dúvidas quanto a sua capacidade gerencial e de articulação. Resta saber se ele irá conseguir colocar suas qualificações a serviço do Mapa e da agricultura, uma área um tanto distante das suas atribuições até então. Contudo, na linha do equilíbrio, outro nome já definido e que deve ser anunciado está semana é o de Neri Geller, também do Mato Grosso. Produtor e ex-deputado federal, no primeiro governo de Dilma Rousseff Geller não apenas passou pela Secretaria de Política Agrícola como assumiu por nove meses o posto de ministro, o que dispensa apresentação.

De qualquer forma, em uma analogia à formação do novo secretário-executivo, o mínimo que se pode esperar é que Eumar e Neri possam apagar o ‘incêndio’ no Mapa provocado pela gestão anterior.

Soja vai a R$ 100?

A combinação de câmbio, esmagamento e exportação fazem a soja passar de R$ 90 a saca de 60 quilos no Porto de Paranaguá. Nas duas últimas semanas, em duas ocasiões a cotação no porto rompeu essa barreira. Na véspera do feriado de Corpus Christi, foram registrados negócios a R$ 91/saca colocada no terminal.

A explicação está na valorização do dólar frente ao real, na demanda aquecida para a indústria de óleo e ração, e na pressão exercida pelos embarques, que também batem recorde no acumulado de 2016.

Por outro lado, a posição do produtor, que segue altamente vendido, limita a oferta e sustenta as cotações na Bolsa de Chicago. Em três meses, o preço em dólar/bushel ganhou mais de US$ 2. Saiu de US$ 8,63 em 1.º de março para US$ 10,86 em 28 de maio. No interior do estado, a saca em praças como Jacarezinho e Guarapuava é negociada acima dos R$ 80. Nas 19 localidades monitoradas pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab), a semana que passou foi de cotações sempre acima de R$ 75.

O mercado questiona agora se a saca no porto pode atingir R$ 100. A especulação diz que sim. Já os fundamentos, nem tanto. Para chegar aos R$ 100, a cotação precisa combinar dois fatores difíceis de prever neste momento. Um é o câmbio, que precisa se aproximar dos R$ 4. E outro é a safra dos Estados Unidos, onde as lavouras estão em desenvolvimento. O período é de chuva intensa por lá, o que gera muita especulação. Mas nada, pelo menos por enquanto, que possa comprometer de fato a produção final e pressionar um novo rali nas cotações em Chicago.

Neste momento, portanto, soja a R$ 100 no porto é mais o mercado querendo fazer mercado. É possível. Mas não é fácil assim. Vai depender do prêmio que o importador/embarcador estiver disposto a pagar, do comportamento do câmbio, dos movimentos na Bolsa de Chicago e do clima nos Estados Unidos.

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