Mês que vem é junho, metade do ano. A temporada 2011/12 está terminando e o resultado não será dos piores. Apesar do revés na Região Sul, onde a estiagem reduziu o potencial produtivo em pelo menos 10 milhões de toneladas, na média o Brasil colhe uma boa safra. E o que é melhor, com bons preços. Cotações que compensam, em parte, o volume menor por conta da quebra na produção principalmente do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, estados que, juntos, somam participação expressiva na produção nacional de grãos.

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A soja, por exemplo, commodity com maior liquidez no mercado agrícola, fechou a semana passada em queda na Bolsa de Chicago (CBOT), mas ainda assim encerrou a sexta-feira no Paraná valendo R$ 60 a saca na praça de Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Na média, os negócios registrados no estado foram acima de R$ 55, conforme o indicador apurado pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab). Mesmo com um recuo de quase US$ 0,50/bushel, o mercado internacional se mantém firme acima dos US$ 14/bushel, patamar que deve se sustentar até a completa implantação da safra nos Estados Unidos, em dois a três meses.

Importante destacar que as cotações sempre estiveram em um patamar atraente desde o início do ciclo. O que ocorre agora é que os preços estão ainda mais interessantes, inclusive batendo recordes históricos, em uma relação favorecida pelo câmbio e pelos fundamentos de oferta e demanda. Safra menor no Brasil e na América no Sul é safra menor no mundo, que, com estoques em baixa, vive uma entressafra de racionamento da oleaginosa. Bom para quem ainda tem soja para vender, como para quem seguiu à risca uma das regras básicas de comercialização; o escalonamento das vendas.

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Escalonar a venda da produção com operações antecipadas, bem como durante e após a colheita, nunca fez tanta diferença. Quem teve visão, orientação e se aproximou desse cenário não vai ter uma boa, mas uma excelente média de preço e com alta rentabilidade. O ano foi atípico, é verdade. Contudo, nessas horas é que fica mais evidente a necessidade de fazer agricultura com planejamento. Não somente agronômico, mas econômico, com custos reais de produção e estratégias de comercialização. Quando as variáveis climáticas e econômicas se tornam cada vez mais acentuadas, ser competitivo é condição à sobrevivência no setor e à remuneração da atividade.

Outra boa notícia que corrobora com a visão mais otimista do desempenho da safra que se finda é o monitoramento da produção feito pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em seu oitavo levantamento, divulgado na semana passada, a estatal previu uma safra total de 160,06 milhões de toneladas de grãos. É o quarto relatório seguido que a Conab reajusta para cima a produção brasileira de grãos. São duas as justificativas mais prováveis. A primeira e também incontestável é o excelente resultado no Centro-Oeste e Centro-Norte do país, que quando não igualaram, superaram o seus recordes regionais de produtividade.

A segunda hipótese – na qual eu também acredito – é que depois do rebate da seca, que castigou as lavouras no final do ano passado e voltou a agir no início de 2012, o Sul esboçou uma recuperação e diminuiu o impacto negativo dos números finais do ciclo tanto para os indicadores regionais quanto à produção nacional. Isso nos leva a crer que tanto o Paraná quanto o Rio Grande do Sul tiveram perdas severas, mas que também verificaram ilhas de produção e produtividade que podem ter passado imunes ao dano maior que castigou algumas regiões. A Conab também começa a validar uma tendência apontada pela Expedição Safra da Gazeta do Povo, de que temporada seria afetada pela estiagem no Sul, mas que no balanço geral não seria tão ruim quanto se chegou a estimar. No relatório de fevereiro, a Conab chegou a estimar a produção em 157 milhões de toneladas. Em dois meses, são 3 milhões de toneladas a mais. Para constar, as 160 milhões de toneladas estimadas hoje pela companhia sempre foi a expectativa mais pessimista da Expedição.

O Mapa e o PR

Ministro e Ministério da Agricultura (Mapa) decididamente resolveram prestigiar o Paraná. E, independente da retribuição do governo e das lideranças do agronegócio do estado, o ministro Mendes Ribeiro e sua equipe insistem na relação. Em 40 dias, o titular do Mapa desembarcou três vezes em solo paranaense. Duas delas somente na última semana. Sem falar das vezes que, nesse período, seus secretários estiveram por aqui discutindo política agrícola. Nem sempre, ou quase nunca, o setor tem suas demandas atendidas em plenitude. Assim como as medidas de apoio do Mapa também nem sempre chegam a tempo. De qualquer maneira, o ministério tem mostrado disposição ao diálogo e ao debate, como forma de alinhar prioridades e pelo menos tentar equacionar o delay e ajustar o tempo do Ministério da Agricultura à real demanda do campo. Mais do que um desafio, uma necessidade. Mas que requer persistência e disposição, de ambos.

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