Em tempos de instabilidades nas economias mundiais e por consequência no comércio internacional, o Brasil se segura graças aos embarques de commodities agrícolas. Entre janeiro e setembro, o saldo positivo da balança comercial foi de US$ 59,2 bilhões, um acréscimo de 2% sobre o mesmo período do ano passado.
Contra todos os prognósticos pessimistas que achatam o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 2012, o agronegócio segue na contramão, com indicadores que confirmam a cada dia que este será um dos melhores anos da história da economia agrícola do país. Fato interessante nesta análise está na motivação, tanto para o recuo do PIB como para o bom momento da produção de commodities agrícolas. Ela tem a mesma origem: o cenário internacional. De um lado, a crise estrutural na Europa e a lenta recuperação dos Estados Unidos, que nos últimos anos têm ampliado seus efeitos colaterais à economia mundial. Do outro, a demanda aquecida num momento de redução na oferta de alimentos, que abre uma oportunidade sem precedentes ao posicionamento do Brasil no comércio de grãos.
Sem medo de errar, é possível afirmar que a queda no PIB só não é maior graças aos números da produção agrícola e pecuária, principalmente dos grãos, em especial da soja e do milho. Além de movimentar a economia interna, dos estados, regiões e municípios, garante superávit à balança comercial e posiciona o Brasil como o grande player fornecedor de alimentos para o mundo. Tudo bem que neste momento o país conta com uma ajuda dos Estados Unidos, que perdeu 120 milhões de toneladas de grãos para o clima, racionou o consumo e as exportações e com isso abriu espaço para a produção brasileira no mercado externo. Oportunidade que não foi desperdiçada e que agora vira estatística, favorável não apenas ao Brasil como à América do Sul.
Juntos, na temporada que está começando os países sul-americanos têm potencial para produzir 150 milhões de toneladas de soja. O quanto isso significa? A depender da aposta dos Estados Unidos na próxima safra, a se confirmar esse volume pode representar perto de 60% da oferta mundial. O bloco ainda pode render outras 110 milhões de toneladas de milho e abastecer tradicionais clientes dos norte-americanos e ampliar os embarques para os próprios Estados Unidos, como ocorre este ano. Até o final de 2012, o Brasil, que tem pouca tradição na exportação de milho, pretende enviar ao exterior um total de 18 milhões de toneladas do cereal. Um alívio à produção recorde, que pela primeira vez superou as 70 milhões de toneladas, com uma garantia de sustentação de preço ao produtor.
Em tempos de instabilidades nas economias mundiais e por consequência no comércio internacional, o Brasil se segura graças aos embarques de commodities agrícolas. Entre janeiro e setembro, o saldo positivo da balança comercial foi de US$ 59,2 bilhões, um acréscimo de 2% sobre o mesmo período do ano passado. Variação pequena, mas positiva. A considerar um cenário de quase recessão, um crescimento significativo e uma verdadeira proeza que eleva a participação do agronegócio na balança comercial brasileira, que no período subiu de 37,3% em 2011 para 39,5% este ano.
E as boas notícias do agro não param por aí. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) tem potencial para dar um salto superior a 8%. No ano em que o PIB deve ficar abaixo de 2%, uma marca que destaca o agronegócio como o grande motor da economia brasileira, agora de fato e validado com números de produção, exportação, industrialização, geração de emprego, renda e divisas.
Mérito dos produtores. É claro. Mas não apenas dos produtores. Uma conquista, ou várias conquistas, que desta vez precisam ser divididas com o governo, que cria um ambiente extremamente favorável ao desenvolvimento do setor. Não porque é bonzinho ou resolveu cair de paixão pelo agronegócio. Simplesmente porque conseguiu, enfim, enxergar no segmento um aliado para segurar as pontas da economia. Por conta disso, aposta muitas e grandes fichas no setor, como o Plano Agrícola e Pecuário 2012/13, que disponibiliza valor recorde, aumenta o limite e reduz os juros na contratação do crédito rural. Outra está no plano estratégico de ampliar a malha ferroviária, melhorar os portos e as rodovias, que pode até atender o país, mas vai atender primeiramente o agronegócio. O que falar então do novo Código Florestal. Se não atendeu os produtores rurais, quem foi que atendeu então?
Por fim, as eleições nos municípios brasileiros, que ampliam a representação dessa base. Já forte na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional os agropecuaristas ganham agora mais espaço nas câmaras de vereadores e prefeituras do Brasil e do Paraná. Londrina, uma das chamadas agro capitas do país, por exemplo, será administrada por um ruralista. Alexandre Kireeff, ex-presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP) foi eleito prefeito da cidade com uma diferença de 0,86% dos votos válidos sobre seu concorrente de 2.º turno, Marcelo Belinati. Ou seja, tudo pode ficar ainda melhor para o agronegócio.