Numa América melhor, Mitt Romney estaria concorrendo à presidência com base no impacto de sua grande conquista como governador do Massachusetts: uma reforma do sistema de saúde que, em todos os seus aspectos importantes, era idêntica à reforma implantada pelo presidente Obama. A reforma em Massachusetts, a propósito, está funcionando muito bem e tem um apoio popular esmagador.

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Na realidade, porém, Romney não está fazendo nada parecido, condenando amargamente a Suprema Corte por ter mantido a constitucionalidade de seu próprio sistema de saúde. Seu argumento para ser presidente depende, em vez disso, de sua alegação de que, tendo sido um empresário de sucesso, ele sabe como criar empregos.

Isso, por sua vez, significa que, por mais que a campanha de Romney desejasse o contrário, é plenamente lícito falarmos da natureza de sua carreira como empresário. Como Romney fez todo aquele dinheiro? Isso sugere que, de algum modo, o que foi bom para a Bain Capital, a firma de capital privado que o enriqueceu, também seria bom para a América? E a resposta para isso é não.

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A verdade é que, mesmo que Romney tivesse sido um capitão clássico da indústria, um Andrew Carnegie [industrial e filantropo do século 19 responsável pela expansão da indústria do aço] dos dias de hoje, sua carreira não o teria preparado para lidar com a economia. Um país não é uma companhia (apesar da globalização, a América ainda vende 86% do que ela produz para si mesma), e as ferramentas das políticas macroeconômicas – taxas de juros, taxas tributárias, programas de despesas – não têm um equivalente no esquema da organização corporativa. Eu mencionei que o ex-presidente Herbert Hoover também foi um excelente empresário, nos moldes clássicos?

De qualquer modo, porém, Romney não foi esse tipo de empresário. A Bain não criou negócios; ela os comprou e vendeu. Às vezes as aquisições levaram a novas contratações; na maior parte do tempo, ela levou a demissões, cortes salariais e perda de benefícios. Em algumas ocasiões, a Bain lucrou mesmo quando a empresa adquirida foi à falência. Nada disso parece o tipo de histórico que agradaria os trabalhadores americanos que procuram por um salvador econômico. E ainda tem a questão da terceirização.

Há duas semanas, o jornal The Washington Post noticiou que a Bain havia investido em companhias cuja especialidade era auxiliar outras companhias a deslocar seu trabalho para o exterior. A campanha Romney ficou enlouquecida, exigindo – sem sucesso – que o Washington Post retirasse a reportagem com base numa "folha informativa" consistindo, em sua maior parte, de testemunhos de executivos.

E o mais interessante foi a insistência por parte da campanha Romney de que o Post havia enganado os leitores por não ter distinguido entre "deslocalização" – levar os empregos para o exterior – e "terceirização", que significa simplesmente ter um contratante externo para realizar os serviços que poderiam ser realizados pela própria companhia.

Agora, se a campanha Romney acreditasse mesmo em seus supostos princípios de livre mercado, ela teria defendido o direito das corporações de fazer o que quer que seja para maximizar seus lucros, mesmo que isso signifique mandar os empregos para o exterior. Em vez disso, porém, a campanha, com efeito, concedeu que a deslocalização é algo ruim, mas insistiu que não há nenhum problema com a terceirização, contanto que o contratante seja outra firma americana. Isso, no entanto, é uma afirmação muito duvidosa.

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Consideremos um dos mais famosos comentários de Romney: "As corporações são pessoas, meu amigo". Quando a plateia riu da declaração, ele continuou: "Todo dinheiro que a corporação ganha, no fim das contas, vai para as pessoas. Aonde vocês acham que ele vai? Aos bolsos de quem? Aos bolsos de quem? Aos bolsos das pessoas". Isso é indubitavelmente verdadeiro, se você levar em conta os bolsos de, digamos, os parceiros da Bain Capital (que, eu devo acrescentar, são, de fato, pessoas). Mas um dos problemas da terceirização é que ela garante que o mínimo possível do que a corporação ganha vai para os bolsos das pessoas que realmente trabalham para essas corporações.

Por que, por exemplo, tantas grandes companhias agora terceirizam seus serviços de limpeza e segurança com contratantes externos? Claro que a resposta é, na sua maior parte, que os contratantes externos podem contratar trabalhadores baratos, não representados pelo sindicato e não elegíveis para participarem dos planos de saúde e aposentadoria da companhia. E, como era de se esperar, pesquisas acadêmicas recentes descobriram que zeladores e guardas terceirizados recebem piores benefícios e salários substancialmente menores do que seus equivalentes não-terceirizados.

E, só para esclarecer, a terceirização é só uma das fontes do enorme descompasso entre uma elite minúscula e os trabalhadores americanos comuns, um descompasso que tem crescido durante mais de 30 anos. E a Bain, por sua vez, foi só um único agente nesse crescimento da terceirização. Logo, Mitt Romney não foi o responsável por destruir, sozinho e pessoalmente, a sociedade de classe média que costumávamos ter. Mas ele foi um participante entusiasmado e muito bem remunerado nesse processo de destruição; se a Bain se envolvesse com a sua companhia, de um modo ou de outro, havia chances bem altas de que, mesmo que o seu emprego fosse poupado, você acabasse com um salário mais baixo e menos benefícios.

Em resumo, o que foi bom para a Bain Capital definitivamente não foi bom para a América. E, como eu disse no começo, a campanha Obama tem todos os direitos de apontar isso.

Tradução: Adriano Scandolara.

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