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Paul Krugman

O falso fator medo

As boas notícias: após pas­­sarmos um ano e meio falando sobre dé­­ficits, déficits, déficits, quando deveríamos estar falando de empregos, empregos, em­­pregos, estamos finalmente voltando a discutir o problema certo.

As más notícias: os republicanos, auxiliados e apoiados por muitos intelectuais de política con­­servadora, estão com uma fi­­xação num ponto de vista so­­bre o motivo do bloqueio da criação de empregos que confirma seus preconceitos e serve os interesses de banqueiros ricos, mas não tem qualquer relação com a realidade.

Ouçam a basicamente qualquer discurso de um dos futuros candidatos republicanos e vocês ouvirão asserções de que a administração Obama é a responsável pelo baixo crescimento de em­­pregos. Como? A resposta, repetida de novo e de novo, é que as em­­­­presas têm medo de expandir e criar empregos porque temem regulamentos e altos impostos. E não são só os políticos que dizem isso. Economistas conservadores repetem essa declaração em artigos de colunas de opinião, e os oficiais da Reserva Federal repetem-na para justificar sua oposição a até mesmo os mais modestos esforços para melhorar a economia.

A primeira coisa que se precisa saber, pois, é que não há provas que apóiem essa declaração, enquanto há muitas que de­­mons­­tram o contrário.

O ponto principal para muitas afirmações de que políticas antinegócios estão ferindo a economia é a asserção de que a lerdeza na recuperação da economia após a recessão não tem precedentes. Mas, como documenta extensivamente um novo artigo de Law­­rence Mishel do Economic Policy Institute (Instituto de Políticas Econômicas), isso não é verdade. Longos períodos de "recuperação sem empregos" após recessões têm sido regra durante as últimas duas décadas. De fato, o crescimento de empregos no setor privado desde a recessão de 2007-2009 tem sido melhor do que depois da recessão de 2001.

Nós podemos acrescentar que às maiores crises financeiras quase sempre se segue um período de lento crescimento, e a experiência dos EUA é mais ou menos o esperado, considerando-se a severidade do choque de 2008.

No entanto, não há algo de estranho sobre o fato de as em­­pre­­sas estarem tendo grandes lu­­cros e acumulando muito di­­nheiro, mas não estarem gastando esse dinheiro para expandir a capacitação e empregos? Não.

Afinal de contas, por que as empresas deveriam se expandir quando não estão usando a capacitação que já tem? O estouro da bolha imobiliária e a pendência do débito doméstico fizeram com que os gastos dos consumidores entrassem em depressão e que muitos negócios ficassem com mais capacitação do que o necessário e sem motivo para se acrescentar mais. Os investimentos de negócios sempre respondem fortemente ao estado da eco­­nomia, e considerando o quão fraca está nossa economia, não deveria ser uma surpresa os in­­vestimentos estarem em baixa. As despesas de negócios, ao me­­nos, têm se mantido mais fortes do que se poderia prever, considerando-se o lento crescimento e o alto desemprego.

Mas os negociantes não estão reclamando do ônus dos impostos e regulamentos? Sim, mas não mais do que o de costume. Mishel aponta que a National Fe­­deration of Independent Busi­­ness (Federação Nacional de Ne­­gócios Independentes) há quase 40 anos faz pesquisas com pequenas empresas, pedindo-lhes que nomeiem seus problemas mais importantes. Impostos e regulamentos sempre estão no topo da lista, mas o que se destaca agora é um surto no número de empresas citando baixa vendagem – o que fortemente sugere que uma falta de demanda, não um medo do governo, é o que tem contido as empresas.

Então, as asserções republicanas sobre os problemas econômicos são pura fantasia, contrariando todas as provas. Era para isso causar surpresa?

Num nível, é claro que não. Os políticos que sempre cedem aos interesses dos grandes negócios dizem que a recuperação econômica requer ceder aos interesses dos grandes negócios. Quem po­­deria imaginar?

Mas me parece que há algo diferente sobre o estado atual da discussão econômica. Os partidos políticos com frequência se aglutinam em torno de ideias econômicas dúbias – lembrem-se da curva de Laffer [teoria polêmica sobre arrecadação governamental via impostos, que dita que há um ponto em que o au­­mento de impostos se torna contraproducente para o aumento da receita] – mas eu não consigo pensar em uma única época em que a doutrina econômica de um partido tenha se divorciado tão completamente da realidade. E também me choca a que ponto os economistas de tendências republicanas – que não devem ser tão ingênuos – estão dispostos a dar credibilidade às ilusões oficiais do partido.

Não há dúvidas de que isso reflete, em parte, um deslocamento mais amplo do partido ru­­mo ao seu próprio universo intelectual isolado. Largos segmentos do Partido Republicano rejeitam a ciência climática e até mesmo a teoria da evolução, lo­­go, por que esperar que a existência ou não de provas tenha qualquer peso sobre os pontos de vista econômicos do partido?

E isso também, é claro, reflete a necessidade política da direita de fazer com que tudo de ruim na América seja culpa do presidente Obama. Esqueçam o fato de que a bolha imobiliária, a explosão da dívida e a crise financeira te­­nham acontecido sob a vigília de um presidente conservador, a favor da autorregulação do mercado; é aquele democrata na Casa Branca agora o culpado.

Mas uma boa política pode constituir más políticas. A verdade é que estamos nesta encrenca porque tivemos regulamento de menos, não demais. E agora, um de nossos maiores partidos está determinado a redobrar os erros que causaram o desastre.

Tradução: Adriano Scandolara.

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