As boas notícias: após passarmos um ano e meio falando sobre déficits, déficits, déficits, quando deveríamos estar falando de empregos, empregos, empregos, estamos finalmente voltando a discutir o problema certo.
As más notícias: os republicanos, auxiliados e apoiados por muitos intelectuais de política conservadora, estão com uma fixação num ponto de vista sobre o motivo do bloqueio da criação de empregos que confirma seus preconceitos e serve os interesses de banqueiros ricos, mas não tem qualquer relação com a realidade.
Ouçam a basicamente qualquer discurso de um dos futuros candidatos republicanos e vocês ouvirão asserções de que a administração Obama é a responsável pelo baixo crescimento de empregos. Como? A resposta, repetida de novo e de novo, é que as empresas têm medo de expandir e criar empregos porque temem regulamentos e altos impostos. E não são só os políticos que dizem isso. Economistas conservadores repetem essa declaração em artigos de colunas de opinião, e os oficiais da Reserva Federal repetem-na para justificar sua oposição a até mesmo os mais modestos esforços para melhorar a economia.
A primeira coisa que se precisa saber, pois, é que não há provas que apóiem essa declaração, enquanto há muitas que demonstram o contrário.
O ponto principal para muitas afirmações de que políticas antinegócios estão ferindo a economia é a asserção de que a lerdeza na recuperação da economia após a recessão não tem precedentes. Mas, como documenta extensivamente um novo artigo de Lawrence Mishel do Economic Policy Institute (Instituto de Políticas Econômicas), isso não é verdade. Longos períodos de "recuperação sem empregos" após recessões têm sido regra durante as últimas duas décadas. De fato, o crescimento de empregos no setor privado desde a recessão de 2007-2009 tem sido melhor do que depois da recessão de 2001.
Nós podemos acrescentar que às maiores crises financeiras quase sempre se segue um período de lento crescimento, e a experiência dos EUA é mais ou menos o esperado, considerando-se a severidade do choque de 2008.
No entanto, não há algo de estranho sobre o fato de as empresas estarem tendo grandes lucros e acumulando muito dinheiro, mas não estarem gastando esse dinheiro para expandir a capacitação e empregos? Não.
Afinal de contas, por que as empresas deveriam se expandir quando não estão usando a capacitação que já tem? O estouro da bolha imobiliária e a pendência do débito doméstico fizeram com que os gastos dos consumidores entrassem em depressão e que muitos negócios ficassem com mais capacitação do que o necessário e sem motivo para se acrescentar mais. Os investimentos de negócios sempre respondem fortemente ao estado da economia, e considerando o quão fraca está nossa economia, não deveria ser uma surpresa os investimentos estarem em baixa. As despesas de negócios, ao menos, têm se mantido mais fortes do que se poderia prever, considerando-se o lento crescimento e o alto desemprego.
Mas os negociantes não estão reclamando do ônus dos impostos e regulamentos? Sim, mas não mais do que o de costume. Mishel aponta que a National Federation of Independent Business (Federação Nacional de Negócios Independentes) há quase 40 anos faz pesquisas com pequenas empresas, pedindo-lhes que nomeiem seus problemas mais importantes. Impostos e regulamentos sempre estão no topo da lista, mas o que se destaca agora é um surto no número de empresas citando baixa vendagem o que fortemente sugere que uma falta de demanda, não um medo do governo, é o que tem contido as empresas.
Então, as asserções republicanas sobre os problemas econômicos são pura fantasia, contrariando todas as provas. Era para isso causar surpresa?
Num nível, é claro que não. Os políticos que sempre cedem aos interesses dos grandes negócios dizem que a recuperação econômica requer ceder aos interesses dos grandes negócios. Quem poderia imaginar?
Mas me parece que há algo diferente sobre o estado atual da discussão econômica. Os partidos políticos com frequência se aglutinam em torno de ideias econômicas dúbias lembrem-se da curva de Laffer [teoria polêmica sobre arrecadação governamental via impostos, que dita que há um ponto em que o aumento de impostos se torna contraproducente para o aumento da receita] mas eu não consigo pensar em uma única época em que a doutrina econômica de um partido tenha se divorciado tão completamente da realidade. E também me choca a que ponto os economistas de tendências republicanas que não devem ser tão ingênuos estão dispostos a dar credibilidade às ilusões oficiais do partido.
Não há dúvidas de que isso reflete, em parte, um deslocamento mais amplo do partido rumo ao seu próprio universo intelectual isolado. Largos segmentos do Partido Republicano rejeitam a ciência climática e até mesmo a teoria da evolução, logo, por que esperar que a existência ou não de provas tenha qualquer peso sobre os pontos de vista econômicos do partido?
E isso também, é claro, reflete a necessidade política da direita de fazer com que tudo de ruim na América seja culpa do presidente Obama. Esqueçam o fato de que a bolha imobiliária, a explosão da dívida e a crise financeira tenham acontecido sob a vigília de um presidente conservador, a favor da autorregulação do mercado; é aquele democrata na Casa Branca agora o culpado.
Mas uma boa política pode constituir más políticas. A verdade é que estamos nesta encrenca porque tivemos regulamento de menos, não demais. E agora, um de nossos maiores partidos está determinado a redobrar os erros que causaram o desastre.
Tradução: Adriano Scandolara.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura