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talento em pauta

Ame seu trabalho, dinheiro é consequência

Esses dias ouvi uma história que me deixou até um pouco emocionado. Um garoto, daqueles que aparentemente não sabe qual caminho percorrer na carreira, ou se escolheu o curso certo na faculdade, mostrou-me o quão preparados e profissionais os jovens podem ser e estar, muito apesar da idade. Mostrou-me também que, definitivamente, dinheiro não compra felicidade: é preciso amar o que se faz para ter sucesso.

Rodrigo sempre foi um rapaz aplicado. Bom aluno nos estudos e amante da Arte e da História, o garoto se dava bem em todas as matérias. "Não sei em que área aplicar meus conhecimentos quando crescer", dizia, ainda no ensino fundamental. Ao entrar no ensino médio, fez um teste de admissão para o ensino público, o qual passou em segundo lugar. Escondeu a nota dos colegas por muito tempo, com medo de que lhe discriminassem como "nerd" ou aquelas coisas que os jovens costumam fazer. O ensino médio oferecia também um curso técnico em Ciências Contábeis, o que lhe rendeu o primeiro estágio ainda no segundo ano, voluntário. O estágio lhe incentivou muito a seguir estudando na área.

Continuou a carreira acadêmica na graduação estudando a área contábil. Passou novamente em segundo lugar na prova que tinha mais de 400 concorrentes. Desta vez, não conseguiu esconder o orgulho. Os colegas, ao invés de o criticarem ou o invejarem, o homenagearam muito.

Além dos estudos da graduação, era ávido leitor de livros e adorava estudar idiomas. Aprendera o inglês ainda na escola e praticava muito com a ajuda do computador – que literalmente coloca os jovens em contato com pessoas de todo o mundo. Começou a estudar francês, empolgou-se, e já fez planos para o italiano, alemão e até japonês. "Quero ser poliglota em dez anos", dizia.

Inscreveu-se, certo dia, em vários dos processos seletivos de trainee de grandes empresas do ramo. Dos milhares de candidatos inscritos, um a um eles caíam, etapa após etapa, menos Rodrigo. Fora aprovado em dois processos diferentes, das maiores empresas do ramo de auditoria do mundo. Optou por aquela que mais se identificava com seus valores.

Notavelmente empolgado com a promissora carreira de auditor em uma multinacional, Rodrigo imergiu no trabalho, o qual submetia os jovens a fortes desafios e intensos treinamentos. De todos os jovens trainees recém-admitidos, ele era o único que ainda estava no segundo ano da Graduação. Todos os outros já eram recém-formados ou tinham até dois anos de formação. Os gerentes e diretores da empresa sabiam, em segredo, que ele era definitivamente um "ás", promissor, e o colocavam a provas mais intensas que os outros.

Sobrecarregado com os estudos e, agora com o trabalho, ele conseguia conciliar as "vidas" e abdicava de suas horas de lazer. Pensava no futuro próximo, onde já havia feito o planejamento de carreira para os próximos anos. Os títulos e benefícios obviamente deslumbrariam qualquer um. Ele inclusive.

Dois meses após ter entrado na multinacional, pediu demissão. "Não é o que eu quero para a minha vida. Quero ser professor de idiomas. Isso é o que eu amo". Os colegas lamentaram a oportunidade "perdida", a empresa assentiu, os familiares apoiaram.

Já fluente em um idioma e quase proficiente em outro, o rapaz de apenas 19 anos foi em busca do sonho e espalhou seu currículo em todas as escolas que tinha interesse. A dificuldade agora era maior, já que suas habilidades contábeis não seriam tão requisitadas em escolas de idiomas. Mergulhou novamente nos estudos de idiomas, sem abandonar o curso de contábeis que já havia começado.

Um ano e meio após ter decidido o novo futuro para a carreira, ele é professor em uma importante rede de idiomas, com a agenda disputada pelos alunos, que querem aulas particulares somente com ele.

Na história de Rodrigo, como na de muitas outras pessoas que conheci, a paixão fez a diferença para que ele se destacasse e, assim, alcançasse o sucesso, ainda com certas limitações, mas em ótimas proporções para alguém que ainda tem a idade dele.

Na coluna de terça-feira falarei sobre o falso tabu de que "só se faz dinheiro com cursos tradicionais". Até lá!

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