Uma das competências comportamentais frequentemente exigidas de um profissional é a capacidade de trabalhar em equipe. Afinal, uma empresa é feita de pessoas diferentes, cada uma com seu jeito de trabalhar, sua maneira de se relacionar e com distintas habilidades técnicas e intelectuais. Há aquele ditado que diz: "duas cabeças pensam melhor do que uma", e isso é a mais pura verdade, assim como quatro mãos executam um trabalho mais rapidamente que duas. Quanto mais facilmente um profissional se relacionar, mais admirado pela organização ele será. É, sem dúvida, uma habilidade requerida e valiosa.
Roberta sabia disso desde que se conhece como ser humano. Durante sua infância, sua mãe lhe incentivava a brincar com outras crianças, já que ela era filha única. Na escola, porém, quando os trabalhos eram em grupo, a menina sentia dificuldade em dividir os afazeres com seus colegas, pegando a maior parte, quando não tudo, para fazer sozinha ou, em outros casos, deixando que eles fizessem tudo por ela. Não havia equilíbrio, ela simplesmente não conseguia dividir. Ao chegar à adolescência, comentava que não conseguia concordar com a forma que seus colegas conduziam as tarefas e, assim, sempre dava um jeitinho de convencer aos professores de que faria os projetos sozinha.
É claro que, ao chegar ao mercado de trabalho, não foi diferente. Roberta enfrentou muitos preconceitos logo no primeiro emprego que conseguiu, ainda como estagiária. De cara, foi introduzida numa equipe com mais de 15 profissionais de diferentes níveis hierárquicos, mas que trabalhavam diretamente com ela. A jovem, sem entender ainda que precisava adotar uma postura diferente, resistia em dividir suas tarefas. Foi uma pena que ninguém, nem mesmo seu chefe direto, desse um retorno mostrando-lhe o quanto ela perdia com aquela postura. Não demorou muito para que fosse demitida e a justificativa para isso foi a "dificuldade de relacionamento". O curioso é que Roberta possui muitos amigos, é simpática e não demonstra dificuldade para se relacionar, só no trabalho.
Foram aproximadamente seis meses até ela conseguir se recolocar profissionalmente e, dessa vez, já entrou na empresa como analista junior. As responsabilidades eram maiores e ela tinha, inclusive, um estagiário sob sua supervisão. Com isso, o problema se agravou. Se com seus colegas ela já não conseguia dividir muitas responsabilidades, imagine com alguém que, supostamente, tinha menos habilidades e experiências que ela! Não teve jeito, o estagiário ficava demasiadamente ocioso, e ela, em contrapartida, com excesso de tarefas. Consequência disso? Várias advertências de seu coordenador e, mais tarde, demissão.
Conheci Roberta numa palestra, quando ela já trabalhava em outra organização. Em meio a cafés e sequilhos, ela me contou sua história. Agora, a moça estava em sua terceira oportunidade profissional e não queria errar como nas primeiras vezes. Com poucos minutos de conversa, pude observar a grande dificuldade que ela tinha em delegar responsabilidades. E não me refiro apenas às delegações feitas de superior para subordinado, mas também de par para par.
Conversando com ela, disse-lhe "em casa precisamos dizer à diarista o que fazer, como fazer e quando fazer certas coisas, não é mesmo? Por que, então, no trabalho, onde a responsabilidade é muito maior, não podemos fazer isso?". O que Roberta precisava entender é que ela, sozinha, não é capaz de abraçar o mundo. Com ajuda intelectual, as ideias podem ser melhores, e com auxílio operacional, o trabalho pode ser feito mais rapidamente. Todo mundo ganha nessa história. Expliquei-lhe que uma equipe é formada com o intuito de melhorar o desempenho de uma área e que os níveis hierárquicos existem para botar ordem na bagunça. Alguém precisa tomar decisões, outros precisam ocupar posições menos estratégicas e outros ainda devem operacionalizar as ideias.
Roberta ficou, de certa forma, pensativa com o que falei. Ela jurava que o problema era com os outros e acreditava que fazer tudo sozinha era uma virtude. Pobre moça, nunca teve ninguém para lhe mostrar o contrário. Conversamos por bons minutos e logo a palestra recomeçou. Porém, antes de me despedir, prometeu que tentaria mudar e favor de si própria e de seu desempenho.