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Talento em pauta

Ser home office: trabalhar em casa funciona?

Ao ler o título, muitos pensarão nas oportunidades e nas vantagens que ser home office oferece. Esquecer o trânsito, ficar mais tempo na cama ou na mesa do café. Concentrar-se em casa e em paz, fazer do lar um belo escritório ou oficina. Por essas e tantas outras razões, trabalhar em casa tem sido uma alternativa cada vez mais ponderada por profissionais e empregadores. Seja pelo fato de muitos não quererem mais ter chefes ou precisar ir ao escritório diariamente, ou pelo fato de as empresas terem enxergado nessa modalidade uma boa (e barata) alternativa para aumentar a retenção de profissionais de suas equipes.

À primeira vista esta parece uma ótima oferta, entretanto, uma série de aspectos precisam ser considerados. Caso contrário, essas vantagens e flexibilidade podem facilmente resultar em prejuízo e tempo perdido para empresa e profissional.

Exemplificarei, com uma história real, o comum engano cometido por muitos profissionais que decidem trabalhar em casa.

Um rapaz chamado Gutierre estava contente por ver sua carreira finalmente decolar após tantos anos de estudo. Aos 35 anos de idade recebeu uma boa proposta profissional. Caso aceitasse, passaria a ganhar o dobro, e sua casa passaria a ser seu escritório. Quando recebeu o convite, lembrou-se de um colega com quem estudara. O colega trabalhava em casa, ganhava bem, e vivia lhe dizendo que era uma "mordomia". Fazia o expediente que queria, não precisava ficar horas no trânsito, possuía uma qualidade de vida muito boa e não tinha chefe para lhe delegar tarefas o tempo todo.

O jovem Gutierre era administrador e, ao conversar um pouco com ele, você logo notava seu perfil empreendedor e autoconfiante, algo que casou bem com a ênfase em marketing e vendas que seu curso oferecia. No trabalho, quando ainda atuava como supervisor de vendas em uma grande rede de varejo, seus chefes e subordinados o elogiavam pelo ótimo espírito de equipe e o dom de lidar com as pessoas – fossem eles clientes, colegas, subordinados ou superiores.

A empresa que queria contratá-lo era de outro estado, e ele seria o responsável por iniciar as operações onde morava. Além de trabalhar em casa, ele também teria de viajar às cidades próximas de onde atuaria, em busca de novos clientes e negócios. Sem pensar muito, ou melhor, pensando apenas nos benefícios e no salário, aceitou a proposta.

Em menos de três meses, Gutierre deixou o emprego.

Não canso de dizer àqueles que me pedem conselhos que, salvo algumas situações, nada deve ser feito sem planejamento. Principalmente quando se trata de carreira. No caso dele, o que o levou a abandonar o emprego foi falta de autoconhecimento. Apesar de a oportunidade ser, de fato, boa, não era adequada ao seu perfil comportamental, que era extremamente relacional. Ao passar horas a fio trabalhando em casa, sozinho, ele não se sentia confortável e muito menos motivado com seus afazeres.

Foi nessa época, quando se sentia insatisfeito, que Gutierre veio tomar um café comigo. Ele simplesmente não entendia o que tinha acontecido para ele estar tão infeliz e com a produtividade baixa. Não entendia como aquele outro colega, mesmo trabalhando como home office, tinha sucesso e era feliz em seu trabalho.

Conforme conversávamos, ele mesmo foi percebendo os sucessivos erros que cometera naqueles três meses. Primeiramente, ele não tinha um local apropriado de trabalho. Costumava trabalhar na mesa de jantar, com a televisão da sala ligada, enquanto os dois filhos assistiam a desenhos e outros programas. Os filhos, por sua vez, estavam felizes da vida. Ao vê-lo em casa todos os dias, pensavam que o papai estava em férias, e tiravam sua concentração frequentemente com brincadeiras. Além de tudo, perdeu a disciplina e o controle sobre seu expediente. A cada dia acordava em um novo horário, não havia mais rotina em seus afazeres e tinha passado a se alimentar mal, pois não cozinhava e estava longe daqueles restaurantes que costumava almoçar quando estava no trabalho anterior.

Por fim, sentia-se infeliz, pois o que realmente o motivava era trabalhar com pessoas, em um ambiente corporativo, sob a presença e vigilância do chefe centralizador que tinha. Isso tudo era o que fazia Gutierre se dar tão bem na antiga empresa.

Nesta terça-feira falarei mais sobre o que envolve o trabalho como home office. Até lá!

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