Em entrevista ao lado do presidente venezuelano Hugo Chávez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tom do discurso que fez na manhã desta terça-feira (30), quando voltou a minimizar as implicações no Brasil da crise financeira internacional.
- A crise é muito séria e tão profunda que nós ainda não sabemos o tamanho. Certamente, talvez seja uma das maiores crises econômicas que o mundo já viu. Poderemos correr riscos, porque uma recessão em caráter mundial pode trazer prejuízos para todos nós. Entretanto, estamos mais sólidos, estamos mais precavidos. O nosso sistema financeiro não está envolvido no subprime. Nós fizemos as lições de casa e eles não fizeram - disse Lula, em Manaus, onde participa de reunião de líderes sul-americanos.
Apesar do discurso mais precavido, Lula mantém a confiança no país:
- A mensagem que eu poderia dizer ao povo brasileiro é que é o momento de acreditar neste país, acreditar no mercado interno deste país, acreditar que nós não seremos vítimas como já fomos outras vezes e, ao mesmo tempo, torcer para que os americanos resolvam o problema.
O presidente comparou seu grau de preocupação ao de alguém que tem um amigo no hospital:
- Eu poderia dizer que hoje sou um homem que está tranqüilo. Estou acompanhando com apreensão. Estou apreensivo porque o Brasil é um país exportador e queremos continuar crescendo.
Ao chegar à capital amazonense, na manhã desta terça-feira, Lula respondeu bem-humorado ao ser questionado sobre se estava preocupado com a situação dos mercados:
- Nesse momento, quem está mais preocupado com isso é o Bush - disse.
Lula negou que tenha criado um gabinete especial para acompanhar os desdobramentos da crise financeira e afirmou que conversa freqüentemente sobre o tema com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
- Não criei um gabinete de crise. Tenho me reunido sistematicamente com o ministro Mantega e com o presidente do Banco Central. Não existe uma espécie de gabinete de crise. Tanto o presidente do BC, o ministro da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio precisam conversar entre si para tratar das exportações e da questão do câmbio - afirmou.
Medidas para estimular exportaçõesAlguns setores, no entanto, já estão se precavendo. Segundo o ministro de Desenvolvimento Indústria e Comércio, Miguel Jorge, uma comissão formada pelo Ministério da Fazenda, Banco Central e Desenvolvimento irá se reunir nos próximos dias para propor medidas ao presidente Lula que estimulem as exportações. De acordo com o ministro, as medidas ainda não foram desenhadas, mas devem ser criativas e fugir do que já é conhecido.
Exportadores de commodities agrícolas do Brasil já reclamam que os juros das operações de crédito atreladas ao fechamento de câmbio (ACC) deram um salto desde que a crise financeira global se acentuou, o que tem atrapalhado os negócios e diminuído o apetite exportador.
Chávez defende integraçãoApós encontro privado com Lula, em Manaus, o presidente venezuelano disse que nenhum país pode dizer que não será afetado pela crise financeira dos Estados Unidos . Na opinião de Hugo Chávez, é preciso garantir mais integração entre os países latino-americanos para fortalecer as economias dessas nações.
- O modelo econômico desenvolvido pelos Estados Unidos está terminalmente doente. Tudo isso é culpa do neoliberalismo. Nenhum país poderá dizer que não será atingido. A integração entre os países latino-americanos irá fortalecer nossas economias para salvaguardar a vida de nosso povo.
Evo Morales ironiza pacote americano
Ao chegar para reunião com o presidente Lula, em Manaus, o presidente boliviano Evo Morales fez ataques ao capitalismo e criticou os Estados Unidos pela crise financeira internacional:
- Eu disse na ONU (Organização das Nações Unidas) que onde está o capitalismo há ataques, exploração e pobreza. E não me equivoquei a dizer isso - afirmou Evo - afirmou.
O presidente da Bolívia também reclamou que a crise dos mercados esteja se espalhando e ironizou o pacote de ajuda de US$ 700 bilhões que o governo americano pretende dar às instituições financeiras.
Meirelles admite gravidade da criseEm São Paulo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também admitiu que a crise nos Estados Unidos é séria, mas garantiu que o Brasil está preparado para agir com serenidade e não adotar "medidas precipitadas, tomadas no calor dos acontecimentos":
- A situação é severa, é grave. Ontem, a percepção de gravidade era maior do que hoje. Amanhã, vamos ver - reforçou.
Na segunda-feira, Meirelles já havia admitido que a crise financeira americana poderia contaminar o Brasil, mas no máximo com um "resfriado forte". Segundo ele, o país está em melhores condições para enfrentar os efeitos da turbulência que assola os mercados em Wall Street.
- Hoje em dia, quando os EUA estão aí com uma gripe ameaçando uma pneumonia, nós podemos dizer que, quem sabe, podemos apenas ter um resfriado forte. O que é desagradável, mas certamente não se compara a uma pneumonia ou coisa pior - disse, em palestra a empresários, na capital mineira
Bush apela ao Congresso
Pela manhã, em mais um apelo ao Congresso dos Estados Unidos, o presidente americano, George Bush, disse que as conseqüências da crise serão dramáticas se o pacote de resgate financeiro não for aprovado pelos congressistas . Ele disse ainda que a economia depende de uma ação decisiva para a voltar a crescer.
A Casa Branca começou a considerar "pequenas mudanças" no pacote na expectativa de angariar os votos necessários para aprovação do plano de ajuda de US$ 700 bilhões que foi rejeitado pela Câmara norte-americana na véspera, segundo informou, nesta terça-feira, um assessor do governo.
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