O sonho da casa própria em terras americanas está mais difícil. Com a disparada de quase 50% na cotação do dólar em 2015, consultorias especializadas em vender imóveis para brasileiros de classe média alta nos EUA viram a movimentação de clientes despencar até 70% nos últimos meses. Já os clientes que compraram imóvel no passado, financiado em dólar, buscam alternativas para conseguir pagar a prestação.

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O magistrado aposentado Newton Azevedo mudou com a mulher para Winter Garden, para a Flórida, em 2013, quando a cotação do dólar estava em torno de R$ 2,20. Ele optou por comprar uma casa em condomínio por US$ 304 mil. Deu 20% de entrada e financiou o restante em 30 anos, com prestação de US$ 1.470, já incluso seguro e impostos. A disparada do dólar neste ano, porém, assustou o aposentado. Para honrar as prestações, optou por reduzir os gastos da casa e passou a dar consultoria a escritórios de advocacia na região de Orlando, o que lhe garante uma pequena renda em dólar.

— Comecei a fazer trabalhos de consultoria e está entrando um pouco de dinheiro. O que compensa aqui é que o custo de vida é inferior ao de São Paulo e estamos economizando — disse.

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Demanda em baixa

Apesar da alta do dólar, executivos do setor dizem ainda não terem percebido um movimento de alta da inadimplência. Isso se daria por dois fatores: o primeiro é a mudança do mercado americano após a crise de 2008. Os bancos passaram a pedir um valor de entrada, que muitas vezes chega a 50%, o que faz com que o cliente tente honrar as prestações e evitar o risco deperder o imóvel. A outra razão é que, na maior parte dos casos, os clientes remetem os recursos das prestações com antecedência.

E a alta do dólar não é o único problema. O aumento dos preços é um agravante. O auge do sonho da casa própria americana foi em 2012, quando o preço médio dos imóveis atingiu o menor nível desde a crise de 2008. De lá para cá, com a recuperação da maior economia do mundo, os preços já subiram, em média, 20%.

Para Natalia Zimmermann, superintendente do private banking do Santander, a demanda está praticamente nula:

— Se o cliente não tiver recursos lá fora, vai pensar duas vezes antes de fazer remessa ao exterior com o dólar a R$ 4.

Demanda em Baixa

Mas nem todos conseguem contornar a situação. Cássio Faccin, sócio da Faccin Investments, explica que os negócios com imóveis de US$ 200 mil a US$ 700 mil, os mais procurados pela classe média brasileira, caíram 70% nos últimos três meses. Além disso, afirmou que os clientes que compraram imóvel na planta há dois anos estão tendo que fazer um replanejamento financeiro para ficar com o imóvel — e, em casos mais extremos, desistir da compra, perdendo o valor da entrada:

— Tem brasileiro que opta por entregar o imóvel porque não tem como assumir a prestação em dólar, que ficou mais alta que o planejado. Outros optam por financiamento para encontrar tempo para alugar ou vender.

É o caso de um dos clientes de Faccin, um empresário brasileiro que preferiu não se identificar. Ele comprou um apartamento num condomínio de luxo em Aventura, perto de Miami, há dois anos. Do valor de US$ 695 mil, deu entrada de 50%, mas teria que quitar o restante na hora de pegar as chaves. Embora tivesse os recursos no Brasil, não viu vantagem em fazer uma remessa nesse momento, em que a cotação do dólar está em torno de R$ 4. A saída foi optar por um financiamento ao custo de 3,75% ao ano e deixar os recursos no Brasil aplicados na renda fixa, que pagam mais de 14% ao ano.

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— Se o dólar começar a cair, posso usar as reservas que tenho para quitar o financiamento antecipado — explicou.

A procura por financiamento cresce como forma de driblar o aumento do saldo devedor no momento de pegar as chaves. Antonio Cassio Segura, presidente do BB Americas, conta que praticamente desapareceu o interesse de brasileiros da classe média na compra de um imóvel nos EUA. Quem comprou na planta, corre para garantir financiamento.

— Houve uma redução forte do cliente que compra imóvel usado e tem crescido a procura por parte daqueles que compraram um na planta — contou, afirmando que a carteira de crédito imobiliário do banco nos EUA, que teve início há pouco mais de dois anos, é de US$ 100 milhões.