| Foto: va/ms/VANDERLEI ALMEIDA

Com boa parte da clientela envolvida na Operação Lava Jato, o BNDES travou desembolsos de R$ 22 bilhões a projetos de infraestrutura, estimam executivos de bancos e de grandes empresas. Para fugir do risco das operações, o banco ampliou a burocracia para efetuar os desembolsos que já foram aprovados há três anos. A maior parte desses recursos (R$ 8 bilhões) foi comprometida à Sete Brasil, empresa criada para fornecer as sondas para a Petrobras.

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Segundo números fornecidos pelo próprio BNDES, na carteira de crédito do banco há R$ 14 bilhões de financiamento de longo prazo e R$ 3,23 bilhões em empréstimos-ponte que estão “aprovados, contratados e em fase de desembolso”.

A relação entre o BNDES e as instituições financeiras atingiu um novo patamar de estresse depois que o banco de fomento passou a exigir garantias corporativas, avais da empresa que toma crédito, para a liberação dos recursos. Trata-se da forma como o BNDES encontrou para se livrar dos riscos da operação, depois que se viu como foco até mesmo de uma CPI na Câmara.

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As empresas, responsáveis pelas concessões, dizem que a exigência é impossível de cumprir porque não conseguem cartas de fiança dos bancos, que não confiam mais na liberação do empréstimo de longo prazo por parte do BNDES depois do recuo em relação à Sete Brasil. Oficialmente, afirmam que estão em negociação com o banco de fomento, mas, nos bastidores, a crítica é generalizada e já chegou à equipe econômica.

No governo, há insatisfação com a postura mais “cautelosa” dos dirigentes do banco, que estaria contribuindo até mesmo para agravar a crise econômica ao emperrar os investimentos. “O banco do fomento virou o banco da muralha”, critica um executivo.

Mudança

O modelo de financiamento às obras de infraestrutura seguia, até pouco tempo, o mesmo “modus operandi”. Os vencedores das concessões tomavam empréstimos para financiar o início do negócio. Eles deveriam ser suficientes para que, entre seis meses e um ano, saísse o financiamento de longo prazo. “O BNDES implodiu as pontes”, diz um executivo de um grupo vencedor de um leilão. Algumas dessas operações já duram mais de dois anos. As taxas dos empréstimos-ponte são, em geral, o dobro das cobradas no financiamento subsidiado do BNDES, o que encarece as obras.

A maior parte barrada foi comprometida à Sete Brasil, empresa criada para ser a fornecedora de sondas para a Petrobras na exploração do pré-sal. A companhia está próximo de pedir recuperação judicial depois de ver a situação agravada pelo envolvimento na Lava Jato e pela desistência do BNDES de liberar os recursos. A primeira parcela prevista era de R$ 8 bilhões (o total previsto era de US$ 9,3 bilhões).

Entre R$ 3 bilhões e R$ 5 bilhões são financiamentos a rodovias e aeroportos. Algumas dessas concessões foram feitas em 2013. Sem os recursos, as obras foram paralisadas. É o caso da rodovia BR-163, cujo leilão foi feito em novembro de 2013 e vencido pelo consórcio Rota do Oeste, da Odebrecht Transport. A rodovia estava com 45 quilômetros de duplicação adiantados, em relação às exigências do contrato, quando as obras foram paradas por causa da não liberação de R$ 1,4 bilhão.

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“O fato de o BNDES não liberar o financiamento prejudica o setor produtivo porque nós estamos pagando por uma via de mão dupla com problemas de escoamento, com tráfego pesado”, afirma Edeon Vaz Ferreira, consultor da Associação dos Produtos de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja). O pedágio cobra R$ 4,50 por eixo. Diretor do Movimento Pró-Logística, Vaz busca uma agenda com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para pressionar a liberação do financiamento.

Em nota, o BNDES disse que a análise do empréstimo de longo prazo “está em curso”. Segundo a instituição, foram liberados R$ 762 milhões do empréstimo-ponte em setembro de 2014.