Donald Trump discursa após ser eleito presidente dos Estados Unidos| Foto: MARK WILSON/AFP

A escolha dos norte-americanos nas urnas surpreendeu o mundo e acendeu uma luz amarela em países que mantêm relações comerciais com os Estados Unidos. Se Donald Trump cumprir as controversas propostas econômicas que anunciou durante sua campanha, pode causar um colapso na economia mundial que deverá atingir em cheio o Brasil.

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O principal ponto de atenção para a economia brasileira está na relação bilateral dos dois países. Na teoria, a ascensão de um governo republicano, defensor do livre comércio e contrário a medidas protecionistas, traria uma série de oportunidades para os produtos brasileiros nos Estados Unidos. Mas, Trump provou não ser exatamente um republicano típico durante sua campanha ao defender propostas mais populistas, contraditórias aos princípios do partido que ele representa.

Lição de casa

O efeito da vitória de Donald Trump no Brasil depende mais do que estamos fazendo em casa do que do Trump, avalia Adeodato Volpi Netto, analista de economia e mercado de capitais da Eleven Financia. “Se fizermos a lição de casa, seguindo o caminho que está desenhado em relação ao ajuste fiscal e a estabilidade econômica, seremos, mais uma vez, um player fundamental no jogo da economia mundial”, diz.

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Ironicamente, a principal ameaça vem dos planos protecionistas do republicano. Durante sua campanha, Trump sugeriu que poderá renegociar tratados comerciais firmados pelos Estados Unidos, como, por exemplo, o acordo com o México e Canadá, para recuperar e manter empregos, além de elevar a competitividade da indústria norte-americana.

O Brasil pode ser afetado direta - os EUA são nosso segundo maior parceiro comercial - e indiretamente por um possível fechamento da economia americana, já que importantes parceiros comerciais brasileiros, como a China e o México, também têm relações com os Estados Unidos. No ano passado, o comércio bilateral entre os dois países movimentou US$ 50 bilhões, com a balança comercial favorável aos norte-americanos.

No curto prazo, o cenário de instabilidade – com uma migração em massa de investidores para ativos mais seguros, como o dólar – deve levar a uma depreciação do câmbio no Brasil, gerando efeitos sobre a inflação e sobre a taxa de juros. Em nota, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles assegurou que o Brasil está preparado para lidar com “volatilidade de mercado decorrente das eleições presidenciais nos Estados Unidos e os possíveis impactos disso para as projeções de crescimento do país para 2017”.

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Futuro nebuloso

Enquanto uma vitória da democrata Hillary Clinton traria poucas mudanças na condução da política monetária e econômica e, por consequência, na economia global, a chegada de Trump à presidência dos Estados Unidos deixa um mar de incertezas. Para analistas, essa turbulência toda pode prejudicar o caminho de recuperação do Brasil. “Vai levar alguns dias até que o mercado entenda como vai ser na prática o discurso populista e exagerado de Trump. Se de fato ele fizer uma política econômica fechada isso vai implicar, entre outras coisas, um cenário de desaceleração econômica mundial que certamente vai nos afetar muito”, avalia André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Embora tenha feito um discurso que, de certa forma, tranquilizou o mercado, a imprevisibilidade de Trump cria um cenário de incertezas que só devem se descortinar nos próximos meses, à medida que as propostas e ideias de Trump para a área econômica começarem a ganhar forma, afirma Perfeito. “Até agora eu não sei quem é o Donald Trump e o que ele pretende fazer à frente dos Estados Unidos”, diz.

Adeodato Volpi Netto, analista de economia e mercado de capitais da Eleven Financial, acredita que não vai haver uma mudança significativa nas relações entre os dois países, sobretudo porque Estados Unidos precisam da gente tanto quanto nós precisamos deles. “Temos um mercado de commodities e indústria primária complementar a deles. Não acho que o Trump vá mexer em nada relevante nessa relação. Mas enquanto as coisas não se clarearem, vai haver muita especulação”.

Vai levar alguns dias até que o mercado entenda como vai ser na prática o discurso populista e exagerado de Trump. Se de fato ele fizer uma política econômica fechada, isso vai implicar, entre outras coisas, um cenário de desaceleração econômica mundial que certamente vai nos afetar muito.

André Perfeito economista-chefe da Gradual Investimentos

Relações entre Brasil e EUA não deverão mudar com eleição de Trump, diz MDIC

O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, afirmou que as relações entre Brasil e Estados Unidos não deverão mudar com a eleição do candidato do Partido Republicano, Donald Trump, como presidente.

“São relações históricas, de longa data, e queremos crer que não deverá ter grandes alterações. É preciso que, dada a campanha que se teve nos EUA, a gente aguarde um pouco. Estamos na fase de observação”, disse Pereira, após participar de evento de lançamento do programa Brasil Mais Produtivo, na sede da Federação das Indústrias do Rio (Firjan).

Questionado, Pereira admitiu que o discurso de Trump sobre protecionismo “é uma preocupação”, mas esse tema tem sido debatido nos fóruns internacionais. “É um tema que está sendo discutido na OMC, no G-20, nos Brics, e com a posição do presidente eleito dos EUA, o tema deverá ganhar mais relevância nas discussões nos organismos internacionais”, disse o ministro.

Pereira também demonstrou confiança de que a negociação de acordos comerciais com os EUA deverá prosseguir. Segundo o ministro, o Brasil vinha negociando a ampliação de acordos com os americanos, mas as conversas foram suspensas por causa da eleição, algo normal “quando há troca de governo”.

“Acredito que a gente tem condições de avançar. São dois grandes países, que têm maturidade para discutir as suas relações e espero muito que a gente consiga avançar e não retroceder”, afirmou Pereira.

Diante da perspectiva de elevação na cotação do dólar por causa da eleição de Trump, o ministro disse que o mercado cuidará do tema. “Uma parcela do setor produtivo brasileiro quer o dólar mais alto. Há uma parcela que quer o dólar mais baixo. O mercado vai cuidar desse tema”, disse Pereira.

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