Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
conjuntura

Como o pessimismo afeta a economia

Linha de produção em uma indústria: setor está em queda livre desde 2010. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Linha de produção em uma indústria: setor está em queda livre desde 2010. (Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo)

Desde a primeira metade do século XX, os economistas trabalham para incluir em seus cálculos um sentimento, não uma variável econômica: a confiança. Há listas de agraciados com prêmio Nobel que estudaram a melhor maneira de medir o medo ou a confiança no futuro. O Brasil passa por um momento difícil nesse quesito. Empresários e analistas citam o resgate da confiança como condição imprescindível para que o país volte a crescer, principalmente depois que o IBGE anunciou que o PIB do país caiu 1,6% no primeiro trimestre frente ao início do ano passado.

“As expectativas jogam um papel muito importante. As pessoas projetam as ideias que têm do futuro nas tomadas de decisão de investimento e de consumo de hoje. As firmas fazem expansões, acreditando no crescimento da economia e da demanda. Se o futuro é melhor, consome-se mais hoje”, afirma o economista Aloisio Araujo, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Esse componente intangível, abstrato da economia, quando está em queda, deprime o indivíduo. Espera-se a tempestade passar para voltar a consumir e planejar o futuro.

A enxurrada de números econômicos ruins vem abatendo o humor do brasileiro. A recessão chegou, mais de 384 mil trabalhadores ficaram desempregados de um ano para cá nas grandes metrópoles, houve corte de 100 mil vagas com carteira assinada somente em abril, o salário caiu 2,9% no mesmo período e a indústria está em queda livre desde 2010.

“Em crise, a sociedade paralisa. Comportamentos irracionais também aparecem. Alguns poucos conseguem avançar. O futuro é tão incerto que parece mais uma ameaça”, afirma o o sociólogo Elimar Nascimento, professor associado da UnB.

Quando é possível medir esse sentimento, constata-se que a confiança está no buraco. Na indústria, de acordo com a Fundação Getulio Vargas, está no menor patamar desde 1998, ano de crise cambial, que forçou a mudança do regime cambial de bandas para dólar flutuante no ano seguinte. A desconfiança com o Brasil estava tão grande naquela época que o dólar subiu 53,2% em um ano, com a fuga de investidores.

Entre os consumidores, a sondagem feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o medo do futuro chegou ao maior patamar desde 1999.

“As sondagens anteriores mostravam que o consumidor acreditava que o desemprego ia aumentar, mas que ele não perderia o emprego. Agora, caiu a ficha: o medo do próprio desemprego ou de alguém da família deu um salto, com as notícias das demissões”, afirma Renato Fonseca, gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

As pesquisas de confiança mostram que 42% dos entrevistados avaliam que ficará mais difícil conseguir emprego nos próximos seis meses. Somente 15% veem mais facilidade para conseguir uma vaga.

“Em termos históricos, esses dados retratam uma situação ruim, de pessimismo”, afirma Aloísio Campelo, superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.